Sabia que os bodiões fazem ninhos?

Trago-vos esta curiosidade porque tenho a ideia de que a maior parte das pessoas dirá que não, que os bodiões não constroem ninhos. Mas fazem-no, e têm boas razões para isso.
A pressão provocada pela predação de ovos implica a elaboração de estratégias que promovam a máxima rentabilidade das posturas. Os bodiões habitam a costa baixa, os primeiros metros de água, onde a concorrência é enorme. A quantidade de vida e consequentemente de predadores, pequenos oportunistas sempre prontos a aproveitar uma situação de fragilidade, é máxima neste nível de profundidade. E é aqui que os bodiões têm de largar os seus ovos. O objectivo de construir ninhos é o de camuflar tanto quanto possível a sua prole.

O bodião, Labrus bergylta de seu nome científico é um dos inúmeros tipos de labrídeos que povoam a nossa costa.


Podem atingir os 66 cm, para um peso de 4.350 kgs, embora esses peixes sejam absolutamente raros no nosso país. Os franceses e espanhóis têm-nos e em grande densidade.
Até 2 kgs, é bem mais frequente que apareçam por cá. Os maiores serão sem dúvida os bodiões vermelhos com pintas brancas, os chamados “Balões de St. António”.
Há registos de peixes com 29 anos de idade, o que não deixa de ser uma surpreendente longevidade para um peixe pouco armado e que habita fundos acessíveis a grandes predadores: até 50 metros de fundo.
A primeira maturação é atingida entre os 16 e os 18 cm de comprimento. Trata-se de um peixe extremamente disseminado por todo o país, quer no continente quer nas ilhas, vivendo sobretudo em substratos de rocha e algas, sendo menos comum em zonas de areia. Todos nascem fêmeas, e passam a machos entre os 4 e os 14 anos de idade.
Não é uma captura muito frequente, pese embora seja agressivo quando detecta uma isca de sardinha, lula, ou qualquer tipo de anelídeo. Fiz há poucos dias um de bom tamanho pescando com uma montagem de tungsténio e um pequeno artificial de camarão.


O macho constrói o ninho em qualquer recanto escondido e escuro, normalmente uma fresta de rocha a partir de algas deste tipo: Gelidium sesquipedale.


Esta alga vermelha é muito comum na nossa costa, e dela extrai-se um producto conhecido por ágar, ou ágar-ágar, um hidroclóide, com inúmeras aplicações desde a área farmacêutica à industria alimentar, onde brilha na culinária como emulcificante e conservante. É utilizado para fazer gelatinas, por exemplo. Pois é esta a alga mais utilizada pelos bodiões para construir os seus ninhos. Arrancam tufos, amontoam-nos deixando uma entrada para o seu interior, onde a fêmea irá depositar os seus ovos, ficando no exterior a zelar por eles.


São estas as algas utilizadas, o comum ágar-ágar.


Aqui vai mais um, com algas na boca, a caminho do seu ninho.





A curiosidade destes peixes acaba por os perder, porque se aproximam bastante de mergulhadores. Por vezes, são caçadores submarinos.
Quando novatos na arte e à falta de outros peixes disponíveis, ou para si alcançáveis, acabam por arpoar os pobres bodiões...


Aqui o têm, o bodião macho a arrancar algas para levar para o ninho que zelosamente irá construir para a sua parceira.


O ágar arranca-se muito facilmente, pelo que não e necessário muito esforço físico.
Lembro que se trata de um peixe que começa a procriar com pouco mais de 150 a 200 gramas.


De caminho para casa! Aqui vai o nosso macho com mais um molhinho de macroalgas directo à sua construção.




Também pode acontecer que os bodiões procedam à limpeza de outros peixes. Ou mesmo que se “catem” entre si, retirando pulgas do mar, piolhos, etc, normalmente os mais pequenos a exemplares maiores. 


Não convém é ir roubar as algas à carapaça de uma... santola!


O fundo do mar tem imensas curiosidades interessantes. Vamos em próximos números continuar a mostrar mais algumas delas.



Vítor Ganchinho



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