Os cefalópodes são seres marinhos muito interessantes, sob qualquer ponto de vista. Têm aptidões incríveis. Os polvos mais que os outros.
São capazes de proezas que a nós humanos nos parecem impossíveis, e que os distanciam de tudo aquilo que cabe no nosso senso comum.
Nas condições certas, por exemplo um buraco numa rocha lisa, um polvo de seis a sete quilos pode produzir mais força que um humano de setenta quilos. São fortes.
E não se ficam por aqui, têm ainda muito mais a mostrar-nos.
Desde logo a capacidade de mudar de cor. A camuflagem, no meio agressivo em que vivem, poupa-lhes vidas a cada instante. Não ser visto é sempre algo de precioso.
Para além disso, e no caso dos polvos, a ausência de esqueleto interno, dá-lhes a possibilidade de passar por frestas e esconder-se em recantos estreitos e inacessíveis.
Dotados de uma inteligência assinalável, fazem coisas que a nós nos parecem tudo menos prováveis.
Uma outra faculdade que nos causa inveja é a sua capacidade de regenerar membros. Quando um polvo perde um tentáculo, consegue fazê-lo crescer, voltando à forma anterior ao acidente. Como isso nos seria útil.
Mas há mais. Um outro mecanismo de defesa que contribui para a sua protecção, é a possibilidade de largarem um concentrado de tinta negra.
Esta, confunde os predadores, tapando-lhes a visão, retirando-lhes a possibilidade de ver onde se escondeu a sua presa. Com efeito, a tinta tem algo mais em si, que ajuda para o efeito final:
Contém tirosinase, ácido aspártico e lisina, sustâncias que irritam e confundem os sentidos dos seus perseguidores. Tudo isto faz uma cortina de fumo, enquanto o polvo escapa.
Produzida à base de melanina, o mesmo pigmento que dá cor à nossa humana pele, e ao nosso cabelo, esta tinta é apenas utilizada em emergências, em momentos em que já nada mais pode ser utilizado como meio dissuasor.
A produção interna desta tinta orgânica é recomeçada logo de imediato, e no espaço de algumas horas estará reposta.
Nesta última fase, vale tudo! Vamos ver um exemplo de uma situação em que um polvo setubalense teve de recorrer a tudo o que tinha …ao tentáculo:
Com a aproximação da câmara, a possibilidade de ficar no mesmo sítio é nula, pelo que há que preparar a fuga. |
E aí vai! Recorrendo ao seu sifão propulsor, trata de se esgueirar para longe, à procura de um esconderijo. |
Não há na zona, muito despida de obstáculos, grandes possibilidades de conseguir um esconderijo suficientemente bom. À falta de melhor, talvez esta planta. |
E aí vai novamente, à procura de algo que o deixe mais seguro. |
Na próxima semana vamos ver um choco a largar fumaça...
Vítor Ganchinho