Outras águas

Nestes tempos conturbados de pandemia, em que não temos possibilidades de sair de barco para ir lançar umas linhas, pouco nos resta que lubrificar os carretos, empatar uns anzóis, fazer umas baixadas.
Valha-nos que o tempo nem tem estado muito bom! Isso deixa-nos um pouco menos deprimidos…

Enquanto a situação crítica de COVID se mantiver, pouco mais há a fazer relativamente a saídas. Mas podemos aproveitar para ler, para actualizar informação técnica, para procurar equipamentos que se ajustem melhor ao nosso estilo de pesca. O tempo existe. Pode e deve ser aproveitado da melhor forma.

Melhores dias virão. Certamente todos voltaremos a poder pescar por esse mundo fora, sem constrangimentos. E é de paragens longínquas que vos quero falar hoje: Maldivas.
Águas turquesas, de um azul muito particular, e areia branca. Ingredientes perfeitos a fazerem felizes a esposa e crianças. E ao largo, uns peixes de tamanho XL, para medir forças connosco.

Mesmo a partir de terra, há sempre a possibilidade de fazermos um exemplar de excepção.
Aquilo que se nota de diferente no peixe é a força brutal que faz, depois de um ataque repentino. As picadas são muito fortes, por vezes ocorrem mesmo no exacto momento de caída da amostra, ou muito próximo da superfície.




Lançar amostras ligeiras em águas onde podemos ver o ataque dos peixes é super interessante. Nestas paragens, um vinil é algo que os peixes não conhecem e por isso, resulta sempre.


Férias aqui são mesmo férias. Perguntem à esposa...


Estes fundos são bonitos, mas muito traiçoeiros, uma amostra aqui dura segundos. Ao primeiro lançamento, …fica lá.


Os corais são rijos e agarram tudo, até as linhas. Há que procurar águas um pouco mais profundas, com alguma água em cima do pesqueiro, ou vamos deixar uma colecção de amostras por lá.
A utilização de amostras de superfície, os poppers, só por si não resolve, se temos pouca água. O peixe pica e afunda de imediato, tentando encontrar um buraco.
Não esquecer que este tipo de fundo não deve ser pisado, sob pena de partirmos os preciosos corais. Ser possível é mas por imperativo de consciência, não deve ser feito.




A visibilidade das águas é tal que quando mergulhamos, sentimo-nos a voar, suspensos, numa estranha sensação de não haver nada entre nós e o peixe.
Mais que isso, as distâncias são subestimadas. Quando pensamos que o fundo está a 6 metros, …afinal são uns 10 mts.


Por vezes reclamamos das nossas águas, mas imaginem que largamos os nossos anzóis aqui...


A possibilidade de pescar sobre estas estruturas é nula: os corais são duros, e agarram os anzóis de toda a maneira e feitio.




Os peixes papagaio são os grandes responsáveis pela formação de ilhas. Desfazem os corais com a sua dentição aguçada, e moem-nos na boca, para aproveitar a matéria orgânica que existe. A seguir, expelem os restos sob a forma de areias. São essas as areias brancas que formam as ditas “ praias de sonho”...


Se as nossas sarguetas nos fazem mal, se nos roubam as iscas, imaginem estes canalhas, com estas boquinhas afiadas...


Um peixe-dragão, majestoso, muito bonito, mas venenoso.


É indiscutível a beleza dos peixes tropicais. Mas com estas bocas pequenas, nem é bom lançar isca para perto.




Estas zonas têm normalmente correntes fortes, que sobem e baixam bastante o nível das águas. Na enchente, os predadores entram nas baías e comem peixe miúdo. Nos atóis, as paredes caem a pique, sendo que os predadores patrulham estes bordos, na tentativa de surpreender alguma presa mais descuidada. Quando se pesca de barco, temos metade do problema resolvido, pescando de dentro para fora. De terra, é virtualmente impossível suster os peixes grandes, que invariavelmente cortam as linhas nos corais.


Este tipo de peixe parece literalmente um tubo! Já os pesquei no Senegal com cerca de 1,3 mts…..e são carnívoros e bastante agressivos. Recordo-me de um deles ter engolido um vinil de 23 cm, com cabeçote de 70 gramas.


Não parece um ouriço-do-mar particularmente perigoso. Mas este estilizado ouriço lá terá as suas “virtudes”, para ninguém lhe pegar...


Vestígios de presença humana. É o mesmo em todo o lado.




Mesmo os sítios mais paradisíacos têm problemas de poluição. Quem faz mergulho recreativo acaba sempre por encontrar restos da nossa dispensável actividade.
Não faz falta nenhuma ao meio ambiente marinho. É um dever de todos trazer para terra estes tristes testemunhos da nossa humana incapacidade de entender o frágil equilíbrio do mar.
Importante era não chegar a existir lixo, mas está na natureza do homem querer resolver o seu problema individual, lançando à água, e criando desta forma um problema para todos os outros.



Vítor Ganchinho



Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال