Predadores XXS das nossas águas

Olhamos para as gigantescas garoupas africanas de 300 kgs e ficamos extasiados. Mesmo os nossos meros nos parecem seres magníficos. Mas não valorizamos outros que também temos mesmo debaixo dos nosso olhos, e que não são menos interessantes, pelo simples facto de serem pequenos de tamanho.
Ser miniatura não significa estar desprovido de armas, ou de estratégia, ou de capacidades. Apenas são armas pequeninas, aparentemente insignificantes e todavia …não menos eficazes. Acreditem, os minúsculos dentes, as bocas pequenas, estão perfeitamente adaptadas ao meio em que estes seres vivem, um mundo de “minorcas” onde também vale tudo, mesmo tudo, para sobreviver. O tema de hoje é visitar as nossas poças de maré, os nossos baixios, e ver o que anda por lá.


Este caboz negro descobriu um polvo. Não nos parece que o vá comer. Já o contrário não é impossível...


Para quem coloca uma máscara de mergulho e submerge a cabeça pela primeira vez numa poça de maré, é normal que fique espantado com a profusão de vida que habita estas águas baixas. Verdade que é preciso ver com lentes grossas, de aumentar, estes minúsculos guerreiros liliputianos.
Estão por todo o lado. Pequenos camarões, pulgas do mar, alevins, nada escapa a estes “dentes do mar”.


Uma pose de desprezo. Este pequeno caboz vive num emaranhado de blocos de cimento, os pés-de-galo.


Pequenos bodiões, labrídeos que se alimentam de vermes, pequenos moluscos, camarões, etc.




É muito frequente que os pequenos peixes tenham sempre perto de si um buraco onde se podem abrigar de predadores de maior tamanho.
É um jogo de gato e rato, em que cada um tenta aproveitar as fragilidades do outro. O menor descuido e acaba tudo.


Este caboz é particularmente agressivo, vigiando a sua zona de caça e aproveitando tudo o que entra nela. Pode chegar aos 20 cm.




As frestas e recantos são indispensáveis a estes seres. Há sempre perto um lugar escuro, para que saiam fora da vista dos grandes, aqueles que os procuram avidamente, e querem deles fazer a sua refeição.




Por vezes, basta um pequeno orifício na rocha, para que se sintam seguros. Nunca estão longe, porque sabem que a sua vida depende disso.


Um caboz a apanhar sol, deitado sobre o fundo de cascalho.


Serranus cabrilla, a nossa garoupinha, um dos mais temíveis predadores em tamanho miniatura.


Escondido debaixo de uma planta, este caboz espera a passagem de algo. Com paciência e tenacidade, vai conseguir comer.


Caboz negro. Estes peixes chegam a ser agressivos com espécies muito maiores. Defendem o seu território com unhas e dentes.


Uma garoupinha na areia. Um aviso para aqueles que ficam felizes por pescar uma, por ser sinal de que estão na pedra…afinal nem sempre. Mas nunca está longe.




Também se dá o caso de haver publicidade enganosa. O polvo que está por detrás desta ninhada de pequenos peixes, não os quer para nada. Desde logo porque não os consegue caçar.
Mas consegue agarrar com um tentáculo algum peixe, choco, lula, que venha tentar a sua sorte junto destes inocentes. Não fazem os humanos a mesma coisa? Quando estamos a fazer caça submarina junto a um cardume de sardinha, de cavalas, por acaso a nossa espera e atenção não vai para algo bem maior que possa surgir a comer aqueles peixinhos? O instinto de caça é universal, perfeitamente transversal a espécies, a habitats e apenas confirma uma verdade absoluta: peixe grande come peixe pequeno.


Vítor Ganchinho


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