A importância do verde na nossa vida

A minha mulher é do Sporting. Isso não a torna menos boa esposa e mãe, embora eu ache que com um pouco mais paciência poderia ter encontrado melhor.
Certamente haverá a versão dela mas na cor certa, em tons de vermelho. Clubismos à parte, cumpre-nos assumir que sem o verde nem viveríamos. Hoje vamos falar daqueles minúsculos seres que nos oferecem gratuitamente o oxigénio que respiramos.

Falamos de algas, de plantas, e da importância vital que têm para todos nós, pescadores ou não.




Esqueçam lá essa coisa da Amazónia ser o pulmão do mundo. Em termos relativos, as plantas terrestres comparticipam com menos de 50% do oxigénio produzido. As algas marinhas são as campeãs, com um valor de 54% do total.
O oxigénio produzido em excesso através da fotossíntese é libertado na água, e daí para a nossa atmosfera.

As algas verdes são seres vivos que podem produzir o seu próprio alimento através da fotossíntese, sejam elas uni ou pluricelulares. Designam-se estas algas de seres autotróficas.
Não confundir com plantas, que são sempre multicelulares, e normalmente portadoras da celulose que as estrutura.
O pigmento que lhes dá essa característica cor verde é a clorofila, responsável pelo fenómeno da fotossíntese. Conhecemo-las de as vermos em ambientes húmidos, aquáticos.
Na verdade não poderíamos viver sem elas. Estão em todo o lado, à nossa volta e tanto as encontramos como uma folha lisa a enrolar um rolo de arroz num restaurante japonês de sushi, como recorremos a elas quando pretendemos tratar de águas residuais nas ETAR`s, ou produzimos medicamentos a partir do ágar-ágar, a nossa alga mais comum.


Pequeno polvo encostado a uma alga ágar, na sua retaguarda.


As plantas oferecem refúgio a uma série de espécies que no seu estado juvenil muito delas necessitam.
Num breve resumo, temos que as algas, através da combinação da clorofila e da energia solar, transformam alguns ingredientes em glicose.
Esta substância é o alimento da alga, que dela precisa para viver e produzir crescimento. O restante é armazenado sob a forma de amido.
Das substâncias que temos em suspensão no nosso mar, grande parte é este fitoplâncton. A parte animal desta suspensão é o zooplâncton, que se alimenta destas algas microscópicas.
As águas carregadas de fitoplâncton têm uma cor verde. Não deixa de ser ingrato dar preferência a um mar azul-turquesa, transparente, que na realidade é um mar estéril, pouco produtivo de vida.
Pelo contrário, estas nossas microalgas são responsáveis por purificar o ar, através da fotossíntese, fixando e retirando gás carbónico da atmosfera, o famoso CO2, que libertamos através da nossa respiração, ou que sai dos tubos de escape dos nossos carros.




Temos algas em tudo o que é mar, estão sempre à nossa volta e felizmente que assim é. Algumas espécies suportam as altas temperaturas do sol directo, e podem estar sem água durante as horas de maré vazia.




Também em terra é produzido oxigénio, mas contrariamente ao que muita gente pensa, é uma fatia menos importante do que a oferecida pelas as algas marinhas.


À direita, as saudosas laminárias, responsáveis pela fixação de peixe junto a costa.




Nas zonas de águas mais paradas, a vida vegetal cresce mais esplendorosa. Dado que a agitação marítima não afecta de igual forma as baías e os cabos, as pontas de rocha, estes locais acabam por favorecer imenso a criação de pequenas formas de vida. Se é verdade que os cabos de rocha “atraem” ondas e são normalmente zonas agrestes, muito batidas e com pouca vegetação, pelo contrário, as baías abrigadas têm pouca dinâmica de águas e permitem a implantação e crescimento destes vegetais.




Os bodiões fazem ninhos e utilizam o ágar como matéria-prima das suas construções.


Aqui, uma estrela do mar passa muito próximo de uma anémona.


Também as espécies animais encontram neste coberto vegetal a sua protecção, escondendo-se de predadores e encontrando aí o seu alimento.




Este pequeno caboz estacionou em cima das algas e espera a passagem de qualquer presa que lhe faça o dia.




Reparem na exuberância de verde deste local. O excesso de oxigénio produzido é libertado para a atmosfera.


Um pepino-do-mar, espécie que entre nós foi durante muitos anos ignorada, mas que agora passou a ter uma importância crucial.


A permanência de asiáticos entre nós veio levantar questões que se prendem com a sua apanha, consumo e exportação para os mercados da China, Japão Malásia, etc. Não só faz parte da cozinha oriental, como por azar dos nossos pepinos, são também utilizados na medicina tradicional destes países. Em termos culinários, o seu consumo combinado com arroz, resolve problemas de fadiga, dores nas articulações e até de impotência sexual. É o que eles dizem!
Os portugueses não consomem pepinos do mar, e não se queixam de problemas desse tipo. Ao que parece, a razão desta utilização tem a ver com propriedades que passam por carbo-hidratos, e sobretudo com a presença de uma taxa alta de condoitrina, uma componente da cartilagem óssea.
A ausência deste elemento é associada a dores reumáticas, artrites, etc. Para além disso, são-lhe reconhecidas propriedades anti-inflamatórias. É o suficiente para ser considerado importante, e por isso, está a desaparecer da nossa costa. No Algarve, e com excepção da Armona e Tavira, sabemos que o Parque Natural da Ria Formosa permite a apanha até 2 kgs / pessoa deste equinoderme, um prolífero limpador de fundos.
Na verdade apanham-se muitos mais. Existem redes ilegais que pagam, e bem, por estes pepinos. A zona de Olhão é conhecida por ser um polo de apanha e comércio da máfia oriental, sendo cada unidade paga entre 1 e 1,50 euros. Os apanhadores de perceves, que arriscam a sua vida raspando pinhocas em zonas de rebentação, ganham um valor irrisório quando comparado com o rendimento que pode advir da apanha destes pepinos. Estima-se em 80 euros/ hora o rendimento conseguido.
Os receptadores acabam por conseguir vender estes pepinos-do-mar por valores astronómicos na China, depois de secos. Falamos de valores de 300/ 400 euros/ kg, e os de melhor qualidade podem chegar aos 5000 US Dólares/ kg. Um pepino depois de seco pode pesar cerca de 0.5 kg, por isso imaginem qual a margem de lucro obtida….




O verde das algas está em todo o lado, e delas dependem muitos seres. Basta pegar numa camara e ir fotografar os fundos, para ficarmos com essa certeza.


Extraordinária foto! Reparem nas cores, e na exuberância destes verdes!




Em Portugal temos uma diversidade de algas enorme, e acredito que muito daquilo que existe com potencial para ser explorado, ainda nem é considerado. Os anos vindouros irão trazer isso.




Para esta santola, a cobertura de verde dá-lhe a possibilidade de se esconder. Sem isso, será sempre uma presa fácil, quer para humanos, quer para os grandes comedores de santolas das nossas águas, os …pampos!


Espero que tenham gostado desta viagem sobre os nossos fundos, os nossos “verdes”.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Fotos excelentes como sempre e mais um artigo de grande interesse. Pena acabarmos sempre por ir dar inevitavelmente á castração industrial que a nossa espécie teima em fazer aos oceanos. Que mundo teremos daqui por uns anos?

    Obrigado Sr Vitor

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    1. Bom dia Gradeiro! A qualidade das fotos deste blog são uma imagem de marca, e eu faço mesmo questão de as manter num nível muito alto. O mérito não é meu, é de toda a gente que colabora, que me ajuda a encontrar a imagem certa para o artigo certo. Eu, porque vou muitas vezes ao mar, acabo por fazer algumas, mas o crédito deve ser dado ao Miguel, ao Carlos Campos, que chegam a ir de propósito fazer imagens para o blog. E do António Marques e do Hugo Pimenta, que as trabalham para que eu tenha à disposição o melhor material possível. Está em curso um projecto de incluir muito mais filmes, para que seja mais fácil exemplificar algumas técnicas de pesca. Vamos também ter, lá para final de maio, uma semana "sushi", em que vamos apresentar filmes de como arranjar peixe. Ideias há muitas e o compromisso é o de sempre: garantir diariamente 5 minutos de leitura sobre mar.

      A componente ecológica estará sempre presente, porque somos nós pescadores quem mais interesse tem em que os habitats se mantenham, ou melhorem. Mais peixe, mais oportunidades de ferrarmos um dos grandes.
      Eles andam aí, neste momento está tudo cheio de peixe.

      Abraço
      Vitor

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