O dia em que eu podia ter sido preso...

Esta foto abaixo tem história e, sem ser necessário torturarem-me, vou contar-vos tudo, mesmo tudo, omitindo apenas o local da “pescaria”….

Tenho um lago em casa, com cerca de 13 metros comprimento x 1 mt de profundidade média. A dada altura foi necessário vazar o lago para limpar o fundo, que já tinha uma espessa camada de limos, lamas e detritos.
A empresa contratada apontou a dois dias para conclusão da empreitada, e o trabalho foi adjudicado. Era pressuposto passar os peixes para um outro lago mais pequeno, adjacente, que normalmente utilizo apenas para criar rãs e pequenos peixes.
Acontece que as pessoas que fizeram o trabalho acharam que podiam passar os peixes para uns bidons, ninguém reparou….e no dia seguinte, estavam quase todos mortos. Para desespero de todos nós, que os conhecíamos de nome, e por eles tínhamos uma grande estima.
Carpas e axigãs foram enterrados com as possíveis cerimónias fúnebres, e ficou a promessa de voltarmos a ter outros peixes. Tão depressa quanto possível.
À falta de melhor solução, tentei comprar algumas carpas. Não é fácil encontrar um sítio onde se vendam peixes que em adultos podem atingir alguns quilos de peso. As lojas têm muitos peixes, mas de aquário. E de lamento em lamento, o assunto chegou a um amigo de Lisboa.
Ia ajudar-nos.




O lago lá de casa é um elemento fundamental para quem quer conhecer os comportamentos dos peixes. Salta à vista a enorme capacidade de audição dos peixes, e a possibilidade de os habituar a uma determinada rotina. Têm horas certas para ir comer a um ou outro lado, por exemplo.

A minha filha Maria Teresa nem queria acreditar quando lhe disse que iriamos pescar à carpa em…Lisboa. Preparou uma cana e carreto para o efeito, e um conjunto de boias e anzóis de tamanho mini. Quando digo preparar uma cana, é pintá-la a cores garridas, do cabo à ponteira.
“Estou pronta! Quando quiseres ir, …vamos a isso.” Confesso que o meu coração se dividiu entre aquele sorriso de criança, e o facto de saber estar a cometer uma perfeita ilegalidade. Correndo mal, estaríamos prestes a ser presos, pai e filha, a ver o sol aos quadradinhos.
Mas a ocasião surgiu: o meu amigo ligou-me a dizer que vinha aí um dia de chuva dos antigos, diluviano, e que era o momento. E lá fomos.


O sorriso maroto da minha filha Teresa, a pescar à boia, num pesqueiro... estranho.


Acordar às 5.00h da manhã, conduzir para Lisboa, atravessar a ponte ainda de noite, e estar no local de pesca, no “pesqueiro” ao alvorecer do dia. Era pressuposto não haver ninguém no local, excepto o guarda, e não havia mesmo. Estava aquilo que nos filmes de guerra se chama de... “clear”.
Em termos técnicos, não é muito difícil convencer as desnutridas carpas a picar numa minhoca. Nem sequer a acorrer às migalhas de pão e bolachas que serviam de engodo. Falamos de carpas anoréticas com 15 cm de comprimento, nada de mais em termos de força, nada de dar e levar linha.
Passada meia hora e já tínhamos duas carpas capturadas num balde, e muitas mais pescadas e devolvidas. O guarda garantia aos pés juntos que havia muitas vermelhas e laranjas, mas não apareceram. Ficámos pois pelas duas carpas castanhas, que serviam perfeitamente os nossos propósitos.
O caminho para casa foi feito debaixo de chuva, pai e filha molhados até aos ossos, algo enlameados e a cheirar a peixe do rio, mas felizes. Haverá algo mais reconfortante para um pai que ver o brilho nos olhos de uma criança?
Às 9 horas da manhã, a filha estava na escola e o pai estava engravatado, no escritório.
As carpas cresceram. A comida granulada e muito proteica das cadelas, Pedigree Pal, fez com que esticassem até aos 3 kgs, o peso que hoje têm ambas. E vão crescer mais. Vivem felizes e nós felizes com elas, pese embora nos ladrem quando chegamos a casa...



Vítor Ganchinho



1 Comentários

  1. Vitor,

    Parabéns por este momento delicioso e partilha! Temos pescadora...

    Abraço,
    A. Duarte

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