Carta com registo e aviso de recepção a todos os leitores.
Comecei a escrever para este blog há sensivelmente um ano.
A 15 de Março de 2020 fizemos um primeiro ensaio, eu, o Hugo Pimenta, o António Marques e o mentor e grande impulsionador da ideia, o meu amigo Carlos Campos.
Foi ele quem, com o seu entusiasmo e força criativa, nos empurrou a todos nós para este projecto. E a verdade é que, desde essa data, houve sempre algo para ler.
Por aqui passaram temas de fundo, mais técnicos e pesados, porventura a merecer uma leitura mais atenta e demorada. Outros bem mais ligeiros, para entreter durante cinco minutos a quem tão limitado esteve na sua circulação, e privado de eventuais saídas de pesca, durante o período de pandemia.
De vez em quando vamos espreitar a quantidade de pessoas que lêem este ou aquele artigo. E sabemos que há muito mais interessados em baldes cheios de robalos grandes, fantásticos predadores, que em saber algo sobre a sobrevivência dos pequenos peixes que lhes servem de alimento.
Mas tudo é mar….e este espaço nunca será uma vulgar montra de caixas de peixe morto. Isso não me chega e há quem o faça muito melhor que eu.
Da mesma forma que a linguagem utilizada nunca será motivo de vergonha para quem, de uma forma apaixonada e séria, se propõe a transmitir informação.
O balanço que faço deste ano de escrita é positivo. Não obstante a falta de participação de quem está do outro lado, pese embora a “preguiça” de quem prefere não se manifestar, sabemos que estão do outro lado, e que lêem. O número redondo de 60.000 visualizações assim o indica. Mesmo que a leitura seja feita na diagonal, ou que apenas vejam as fotos, o que temos a fazer é agradecer.
Num país em que paulatinamente, uma a uma, morreram todas as publicações escritas em papel, algumas de incontestável qualidade, e a preços de capa tão reduzidos quanto 3 euros/ mês, não se poderia esperar muito mais. A que preço teria de ser vendida nas bancas uma revista para garantir a sua compra …mensal?! Que milagre teria um editor de fazer só para conseguir pagar o custo do papel?
Mais complicado que isso, é a ausência de reacção. Vivemos dias de imediatismo, de “uma foto uma frase” em que o Facebook é rei.
Nenhuma publicação literária tem viabilidade e fatalmente morre quando apenas existe um monólogo, um acto de emissão de ideias sem registo de recepção.
Perde o diálogo, perde a força de contestação e também o contributo que algumas dessas pessoas poderiam dar ao blog. Como seria importante que alguém não concordasse com ideias aqui expostas!...
Vamos continuar a insistir, a tentar fazer entender que a troca de informação traz luz ao fenómeno da pesca, ao acto de pescar. Ninguém sabe tudo.
Quando alguém pensa ter na mão a estranha alquimia de conseguir pescar todos os peixes que quer, eles mostram-nos logo no momento seguinte que estamos errados.
E que bom é não sermos possuidores de toda a verdade... que importante é podermos aprender mais e mais... no dia seguinte.
Os dias de uma vida não chegam para que alguém consiga entender um fenómeno tão complexo quanto o mar e os peixes. Por mais próximo que se esteja do ambiente marítimo, fica sempre algo por descobrir.
Por vezes, estamos demasiado próximos, os nossos olhos estão demasiado perto daquilo que consideramos serem verdades absolutas, e falta-nos a capacidade de discernimento para outros detalhes.
Focamos a nossa atenção na árvore e não vemos a floresta. Nas minhas saídas de pesca, procuro ver aquilo que outros desvalorizam, procuro entender. Ir para além do peixe.
O conhecimento necessita de tempo.
Para quem lê as palavras demasiado depressa, para quem faz de uma frase do Facebook a sua única literatura, podem sempre escapar detalhes importantes da vida.
Da mesma forma que, quando se passa demasiado depressa por cima desta alga, podemos não ter tempo para reparar na ponta preta da pata desta …santola.
Só é visível para quem tem tempo para ver.
Vítor Ganchinho
Parabéns!!! Por favor mantenha o nosso "diálogo".
ResponderEliminarBoa tarde Paulo Fernandes Os parabéns são para todos vós, que estão desse lado e os merecem por fazerem o favor de ler aquilo que eu vejo no mar.
EliminarSessenta mil é um número bonito para primeiro ano de publicação. Gostaria de fazer um pouco melhor até Março de 2022. Falta de assuntos não é, a pesca de facto é uma fonte inesgotável. Eu tenho muito menos tempo para escrever do que temas.
A pandemia veio trazer o dever de recolhimento, a impossibilidade de sair ao mar, e isso limita muito quem quer apresentar trabalhos com imagens de qualidade. Verdade que muitos daqueles que leem podiam enviar uma ou outra imagem. Mas não o fazem por preguiça, e pela mesma inércia que fez com que uma revista mensal de 3,5 euros tenha ido à falência, não permitindo aos editores manterem o título na s bancas. Eu escrevia para lá, espero que não tenha ido abaixo por isso.
A verdade é que cada texto tem em média 4 a 5 fotos, e são mais de 450 textos aquilo que foi publicado durante este ano. Agora vamos inovar um pouco, vamos passar a apostar também na publicação de filmes. Vou passar a ter alguém comigo no barco que se vai ocupar disso. Pese embora me pareça que o processo deveria ser mais abrangente, mas sei de antemão que ninguém vai fazer nada. A resistência a fazer algo é uma barreira intransponível.
Conseguiu ver a pata da santola? Na alga vermelha, em baixo, mesmo ao meio da clareira de algas. A pata é praticamente da mesma cor das algas, e tem a ponta cónica, escura, cor preta.
Abraço
Vitor
Se alguém quiser que eu faça um circulo vermelho no raio da pata do bicho, ...eu faço.
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarOlá. Faltam-me alguma edições do Mundo da Pesca, mas comprei muitas.
EliminarQuanto à dita da Santola, eu vejo-as melhor com os dedos, apesar de às vezes vir uma navalheira agarrada ... ;)
Algumas pessoas ganham dinheiro com publicações de pesca. Lembro o Manuel Monteiro que tem tido bom sucesso e bom empenho.
Estou ansioso por ver esses filmes, certamente que terão ainda mais interesse!
Muitas vezes os filmes mostram as capturas, que para mim é menos interessante do que a preparação e a forma de pescar que levam à captura.
Não há duvida que é engraçado ver um pescador de kayak a ser rebocado por uma corvina de 30 KG e todo o esforço, perícia e paciencia até colocar a bixa cá em cima. Mas perceber que tipo de isco usou, se aplicam aromas e como animam o isco (se for um jig ou um plástico) para mim é mais interessante.
Estou ansioso também por visitar a GoFishing e comprar material para o Light Rock Fishing. Já pensei em encomendar, mas estou a resistir para a visita que terá que acontecer :).
O seu discurso levou-me a imaginar parar o meu kayak em cima de uma bola de isco e deixar atuar um jig de 40 gr... ai se me apanho lá :)
Abraço PF
Boa tarde Vitor e restante equipa,
ResponderEliminarParabéns a todos que fazem valer estas 60 000 visualizações e que venham muito mais!
Quanto à pata da santola... já tenho consulta para especialidade de oftalmologia!
Era realmente muito interessante usar este vosso espaço, para debater os assuntos que aqui são colocados diariamente.
Deixo esse apelo a todos os que por aqui passam.
Grande abraço,
A. Duarte
Perdi uns dias de leitura mas a bom tempo e artigo vim dar uma espreitadela aos artigos. Os meus sinceros parabéns por este ano de partilha de conhecimentos e cultura marítima, assim como pelas 60.000. De certo modo espanta-me serem tão poucas para a qualidade apresentada em cada artigo.
ResponderEliminarCá estaremos para continuar a acompanhar este trabalho que espero poder continuar a usufruir e desfrutar, transportando não tão poucas vezes o leitor através das palavras para o imaginário como se lá se encontrasse. Muita inspiração e modificação tenho adquirido neste cantinho, para encarar e pescar de forma diferente.
Muito obrigado e mais uma vez, parabéns
Boa tarde amigo Gradeiro A pesca desenvolve-se num universo tão amplo e diferenciado que tem lugar para todos. Há espaço para quem pesca à boia, quem faz spinning, quem prefere pescar vertical, mas também para quem gosta de jigging, LRF, ou prefere Big Game. Ou, como o meu caso, há quem faça de tudo.
EliminarHá lugar para todos. E as situações que vivemos em cada saída são tantas e tão diversas que poderíamos conversar sobre elas dias e dias.
O blog é isso, é o que eu vejo no mar em cada saída.
O mais difícil mesmo tem sido conseguir manter um stock de imagens de qualidade disponíveis para publicar e sustentar cada texto.
Mas agora que já podemos sair a situação começa a ficar mais fácil. Saí três vezes na semana em que estamos, e em cada uma consegui excelentes fotos e excelentes peixes. Serão elas o motor para mais uns quantos dias de blog. Não é difícil: basta estar muito atento, e escrever sobre aquilo que se vê no mar.
Para além disso, eu sou curioso por natureza, e não me basta pescar o peixe. Tenho de saber porque está ali. Que estava a comer é fácil de adivinhar, mas há muitos outros fatores que entram em linha de conta: a temperatura da água, a profundidade, a quantidade de peixe em cada camada de água, a concentração de peixe na pedra, fora da pedra, a cor da água, o vento, a corrente, a ondulação, a hora do dia, as espécies de peixe que existem na zona, a quantidade de cardumes de comedia, cavala, sardinha, carapau, galiota, bogas, pilado. A pressão atmosférica, a quantidade de luz, tudo conta...
Quanto mais detalhes conseguirmos analisar, mais próximos estaremos de perceber a razão pela qual o peixe estava ali naquele momento, e decidiu morder a nossa amostra/ isca. Isso ajuda-nos a conseguir reproduzir o momento de captura. Podemos fazê-lo mais vezes, se soubermos qual a razão de o peixe estar ali. Se não soubermos, se não conseguirmos entender o mar, então tudo é fruto do acaso.
Deixe-me agradecer-lhe as suas amáveis palavras. Acredite que são um incentivo muito forte para que se continue a publicar um artigo por dia. São os tais "5 minutos de leitura sobre mar" a que me comprometo. Mas por favor não pense que isto é trabalho de uma pessoa. Não é, de todo. Este é um trabalho de 5 pessoas, que se entreajudam, que dão o seu melhor para que os textos e imagens saiam com um aspeto limpinho. Os textos que escrevo são apenas uma pequena parte do trabalho. Para mim são sempre curtos, porque sobre cada tema eu poderia escrever dias e dias. O que me dava jeito era ser preso! Numa cela isolada, ficava com mais tempo para poder escrever desalmadamente....
Um abraço!
Vitor Ganchinho