Os maus da fita


Quem anda por esses mares de Cristo, acaba, mais dia, menos dia, por esbarrar com criaturas que podem eventualmente provocar-nos danos.
Não que os pescadores de linha que fazem pesca embarcada tenham situações de risco quando os encontram. Não é algo que possamos …pescar.
Mas eventualmente temos família na praia, e esses sim, podem ter problemas. Saber não ocupa espaço e é bom ter em conta um leque de informações úteis.

A mobilidade destes gelatinosos “amigos” é reduzida. Estão bastante condicionados pelas correntes e ventos, e pese o seu esforço por “dar ao pedal”, por ir para algum lado, a verdade é que acabam sempre por ser levados ao sabor das marés. Porque o problema pode estender-se a quem entra na água a banhos, e consequentemente ter contacto com eles com a pele nua, penso ser de bom-tom dar alguns avisos.
Quem sabe, se na altura crítica se lembra de algo que vai ler aqui….




Todos estes seres são para nós meio estranhos, mas têm a sua razão de ser e existir. Muitos deles são inócuos, mas outros podem ser realmente muito perigosos para a nossa saúde. O primeiro critério a assumir é este: bem …não nos fazem.




A conhecida alforreca, que nos habituámos a ver chegar às praias e a morrer ao sol. São autênticos cogumelos, com uma cauda de cometa que raramente nos pode fazer mal, mas nunca faz bem.
O seu grau de toxicidade é grande, mas algumas pessoas suportam-no melhor que outras. Estamos habituados a evitá-las. Diferem das caravelas por nadarem na coluna de água, por vezes a alguns metros de fundo.
As nossas bogas comem-nas, fazendo-lhes razias nos tentáculos. Quando pescar bogas, …devolva-as à água. Também as tartarugas se alimentam delas, mas infelizmente temos muito poucas.




A caravela-portuguesa, “Physalia-physalis” não é exactamente algo do mesmo tipo da alforreca. Flutua ao sabor do vento, tal como o faziam as caravelas, graças ao seu flutuador carregado de gás, de cor azul-arroxeado, que a mantém à superfície.
Este gelatinoso animal é potencialmente muito urticante e perigoso. É mesmo tida como uma das mais, se não a mais perigosa criatura deste tipo. Recordo-me de estar a fazer caça submarina na Ilha do Pico, Açores, e de ter entrado para a água com o meu amigo José Roque.
A dada altura ficámos cercados de caravelas e se eu tive o bom senso de tapar a boca com a mão e isolar assim o corpo do eminente contacto. O meu amigo não teve esse discernimento, e foi por diversas vezes picado. Lembro-me de o ouvir gritar de dor.
O mergulho continuou, mas tivemos de procurar uma zona mais limpa. Os tentáculos podem chegar a ter mais de 20 metros de comprimento, o que não deixa de ser estranho para um animal com apenas….10 a 14 cm de comprimento.




As caravelas portuguesas são de facto muito perigosas. Já as encontrei às centenas na água, a mergulhar. Com o fato, e tendo algum cuidado de não deixar que os seus tentáculos nos toquem na cara, ….não há grande problema. Mas obriga a cuidados acrescidos.


Pormenor do saco visto de topo, em que literalmente parece um saco de plástico com ar dentro.




A densidade de alforrecas neste dia da foto era impressionante. Pena eu na altura não ter uma camara GO pro, porque daria para ver abaixo da linha de água uma quantidade de bichos perfeitamente anormal. Fazer um mergulho no meio destes bichos é uma lástima.
Curiosamente é perfeitamente possível pescar espécies como os robalos, os lírios, os carapaus, …




As “águas vivas” são tramadas, provocam queimaduras na pele e massacram-nos com os seus dardos venenosos. O contacto deste gelatinoso ser deixa marcas, que podem assumir o aspecto de queimaduras. Encontram-se desde a superfície até alguns metros de profundidade, massacrando-nos com os seus filamentos longos e carregados de substâncias químicas urticantes.




As anémonas são bem mais fáceis de enfrentar, pois estão fixas a um substracto. Não lhes tocamos …não temos problemas.




Não deixam de ser urticantes. Há quem faça mergulho e porque teve um descuido, fica com a cara marcada para a vida.
Todo o cuidado é pouco, e é bom saber o que fazer, em caso de acidente.

Suponhamos que está a dar um banho de mar e entra em contacto com um desses seres. Não entre em pânico, não tente gritar, já que isso pode levar a uma situação complicada de falta de auto-controlo. No fim, pode inclusive existir o risco de afogamento.

Quando por algum motivo o contacto existir, a primeira medida será a de não passar a mão sobre a zona afectada. Nunca se deve esfregar, pese embora essa seja a reacção instintiva, sob pena de se espalhar ou fazer entranhar ainda mais o veneno.
Saia da água, e dirija-se ao nadador salvador, se estiver numa praia vigiada. Na eventualidade de estar noutro local não vigiado, lembre-se que a superfície afectada não deve ser lavada com água doce, álcool, nem deve ser ligada, já que estaremos mais uma vez a promover a inserção dos filamentos.
Aquilo que sentimos quando somos picados por uma água-viva ou uma alforreca, é algo parecido com isto: parece-nos ter algo enrolado à volta dos nossos membros, e advém uma primeira sensação de picada forte, queimadura e ardor.
A dor é intensa, e a área atingida começa a ficar vermelha. Este aporte de sangue ao local traz também uma sensação de calor. O inchaço é a fase seguinte, e vai adicionar-se à vermelhidão, e alguma comichão.
Nesta fase podem surgir convulsões, palpitações cardíacas, vómitos, desmaios, e dificuldades em respirar, em conseguir inalar o ar. Também podem advir dores no peito, indicadoras de possível ataque cardíaco, ou eventual alteração do tom de voz.
Estes são casos extremos, mas em todo o caso, deve ser chamado o serviço de apoio médico de imediato. Por vezes, alguns minutos fazem a diferença entre a vida e a morte.

Não esfregue a pele! Pode sim lavar a zona com água do mar, e tentar retirar os tentáculos que sejam visíveis, que estejam depositados sobre o membro afectado. Esses são aqueles que ainda podem ser tratados desta forma.
Uma pinça, ou um par de luvas são deveras convenientes para esta tarefa.
Quando já não for visível mais nada, então vamos tratar dos esporos que já penetraram na pele. A aplicação de gelo envolto num pano ajuda, para minimizar a dor. Não aplicar o gelo directamente sobre a pele, já que irá provocar queimaduras, acrescendo ao anterior problema.
Os barcos têm a bordo pomada para queimaduras, e deve passar-se uma camada na zona afectada, ligeiramente, sem carregar. Ajuda aplicar vinagre, se o houver, pois ajuda a conter a disseminação do veneno.
Normalmente esta dor intensa e este desconforto, passam ao fim de 20 a 30 minutos. A zona afectada irá permanecer dolorosa durante cerca de 24 horas, e após este período o nosso corpo consegue resolver o problema, anulando as toxinas.
Caso isso não aconteça, é conveniente ir a uma consulta hospitalar.



Vítor Ganchinho



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