Os meus iscos baratinhos…pescam a valer!

Dói-me a alma de cada vez que alguém liga para a loja da GO Fishing Portugal, em Almada, a querer saber se temos iscos orgânicos. Não temos, há anos que deixámos de os ter, por entendermos que há que pôr fim a esse flagelo da apanha de anelídeos, que estraga os fundos e retira alimento que deveria estar disponível aos peixes miúdos, em fase de crescimento.

Pedem-nos minhoca do lodo, ganso, casulo, tiagem, minhoca branca, …e isso quer dizer muito sobre o tipo de pesca praticado. A maior parte dessas pessoas pretende fazer uma pesca a pequenos peixes, utilizando pequeníssimos anzóis mosca, que não são e nem deveriam ser permitidos por lei.

O problema agrava-se um pouco mais quando sabemos que essa pesca nem sempre é feita a partir da costa. Há gente a dedicar-se à apanha de pequenos peixes juvenis, de barco, com tamanhos que fazem dos mínimos legais uma perfeita miragem. São mesmo muito mais pequenos que os mínimos, esses já de si absolutamente ridículos. Uma douradinha de 19 cm já é legal, mas será de boa moral, será de pescador sério pescar semelhante juvenil? Pois é isso que pescam, e se houver de 10 cm também se fritam….
O caminho não é nem poderia ser esse, e vamos acreditar que a nova geração de pescadores vai evoluir no sentido de praticar uma pesca mais responsável, mais adulta.




Vou hoje falar-vos um pouco do tipo de iscos que utilizo, para os peixes que pesco a bordo do barco Sprint, ou de um dos barcos GO Fishing.
Ponto prévio: só em circunstâncias muito especiais não utilizo isca orgânica fresca. O meu trajecto está perfeitamente definido: vou primeiro e antes de mais pescar cavalas vivas. Há toneladas de cavalas na costa e cada vez mais.
Todos conhecemos inúmeros locais onde estão, a sua presença é uma constante, e a sua captura coisa de minutos. Para isso, utilizo um equipamento de Light Rock Fishing, LRF, com um jig de 5 gramas, ou, se estiver com alguma pressa, (depende das horas da maré), uma “metralhete” da Daiwa, conforme segue:




Este material é barato, e resolve a questão da isca em poucos minutos.
Basta aplicar um peso, que pode ser uma chumbada de 30 gr ou mesmo um jig de 20 ou 30 gramas, e estamos armados para pescar a isca viva.
Porque os fios são de diâmetro considerável, 0.45, 0.50mm, não lhes acontece estragarem-se ao fim de uma utilização. Após pescar uma quantidade suficiente, recolho a pesca e enrolo num tubo de espuma. A chegar a casa, desenrolo o sistema, passo por água doce, para evitar ferrugens, deixo secar e está pronto para outra.
Digamos que, relativamente ao número de vezes que as utilizo, e ao preço que têm, podemos considerar que cada ida à pesca nos custa, em isca, menos de 20 cêntimos!...

Com estas cavalas, se a pesca for relativamente pouco profunda, digamos 40/ 50 metros, posso fazer filetes, e pesco com tiras de cavala fresca. Tudo o que é peixe pega, e pega bem.
Caso a pesca seja mais profunda, então a solução boa é mesmo pescar com a cavala viva, ao pargo grande, ao alfaquim, (peixe-galo), ao safio, etc. Um bidon com água do mar resolve, sendo que utilizo um oxigenador a pilhas, (uma pilha LR20 dá para 12 horas…), e nem há a necessidade de mudar de água, embora eu o faça por vezes, digamos a cada três horas. Estes oxigenadores estanques podem ser adquiridos na GO Fishing.
Sei de quem tem um pequeno viveiro a bordo, com entrada permanente de água renovada, e isso funciona ainda melhor. Mas implica trabalho de fibragem no barco e colocação de bomba dedicada, e nem toda a gente tem paciência para isso.




Uma quantidade destas leva pouco mais de 10 minutos a conseguir, é gratuita e ainda nos divertimos. Dá para um dia inteiro.
Caso não sejam utilizadas, podemos sempre voltar a lançar à água.




São de utilizar, quando pescamos com a cavala viva, os exemplares mais pequenos. As outras, podem servir para filetes, e aí, utilizam-se os lombos, em fitas de 1cm de largura, maiores ou mais pequenos consoante a expectativa daquilo que pode andar pelo pesqueiro. Depois de passar o anzol pela pele três vezes, podemos deixar as pontas soltas, ficando a ponta do anzol à vista. Os pargos são muito agressivos, não querem saber do anzol, …quando avistam a cavala, o foco deles é mesmo engolir o peixe. Muitas vezes são eles que se cravam sozinhos.
Um detalhe que me parece importante: não façam da iscada uma bola de peixe, dura. Isso vai jogar contra nós, não ajuda mesmo nada. A cavala é um isco consistente, e para mais, está fresca, não se desfaz com facilidade.
O isco deve balançar com as duas pontas soltas, ao ritmo da corrente, e ter um formato longo, comprido, e não compacto.
Quando queremos ferrar o peixe, a rigidez de uma iscada tipo “noz” impede o anzol de penetrar, trava-o. Para além disso, uma iscada linear, comprida, eventualmente até presa por uma das pontas e até meio, deixando meia iscada solta, é muito mais atractiva e eficaz.




Para este tipo de pesca ao pargo, e se falamos de pargos adultos, com peso, utilizo anzóis FUDO Hooks Japan, ref: SOI-W tamanho 5/0 ou 6/0, ou até mesmo 7/0, dependendo da altura do ano.
A linha madre é feita em 0.60mm, e o estralho um 0.57mm de fluorocarbono, da Varivas.




Uma outra opção é a sardinha, um excelente isco. Tudo gosta de sardinha! De qualquer forma, nem sempre temos tempo para a comprar em fresco, e entre sardinha congelada e cavala fresca, prefiro esta última.
O preço da sardinha fresca hoje em dia raramente baixa dos 5 euros/ kg, o que pode querer dizer que teremos de gastar 10 euros numa saída de pesca. Se estamos a pescar fundo, ao goraz, perde-se muita isca, e em termos económicos o esforço é acrescido. De qualquer forma, aqui deixo a minha opinião sobre este isco sobejamente conhecido e divulgado. Temos duas partes verdadeiramente consistentes:
A cabeça, com o anzol a entrar pelos olhos, com a linha a dar meia volta ao peixe e a sair a meio do corpo. E a outra parte, muito interessante, podemos encontrá-la na tripa, e dá uma iscada muito cobiçada, mesmo por peixe de tamanho.
Mas se temos peixe grande no pesqueiro, sardinha inteira, sem dúvida.
Se aquilo que existe em baixo anima um pouco menos, meia sardinha é mais que suficiente. Outra forma de iscar, e que resulta bem desde que a sardinha seja bem fresca e consistente, é o corte em troços. Cada sardinha dá uns 4 bocados, sendo a passagem do anzol no sentido perpendicular ao eixo longitudinal do peixe. O que fica a ver-se é apenas a ponta da haste do anzol. Convém que o anzol fique firme, ou estaremos a deixar cair a nossa chumbada no fundo e a sardinha afinal ficou a meia água, solta.
Estes troços cortados com tesoura ou faca bem afiada, são muito eficazes. E aí, bastam uns 2 a 2.5 cm de sardinha e já temos uma iscada mais que suficiente. Grandes peixes se pescam desta forma!
Normalmente despreza-se a cabeça, parte menos apetecível da isca, lançando-a ao mar. Mas não logo na altura porque isso dá muito azar quando se pesca num mar de tintureiras!...
Não queremos ter o pesqueiro infestado de tubarões azuis. Espera-se pelo fim da pescaria para nos libertarmos desses restos.

Na verdade, entre a sardinha e a cavala, ela por ela, o peixe prefere sempre a sardinha. Mas nós podemos preferir que ele “prefira” a cavala, porque nos custa dez vezes menos dinheiro….e se só temos cavalas, o peixe come cavalas. Eles picam, não se preocupem.


O goraz, um peixe que vai muito bem à cavala.


Porque se trata de uma isca com a pele grossa e consistente, aguenta muito bem a viagem até ao fundo, sem desarmar.
Mesmo depois de levar uma pancada, não sai à primeira do anzol, possibilitando-nos uma segunda oportunidade, com o mesmo peixe.

Sei de pessoas que gastam valores elevados em iscas, e ao fim do dia, a cara de desolação é evidente. Porque os resultados são normalmente fracos, para quem pesca com iscos que são atacados por miudezas. Tudo o que sejam minhocas, etc, são autênticos para-raios para os pequenos peixes, que lutam entre si para ficar com esses anelídeos.
Não é por gastarmos muito dinheiro em iscas que estamos a habilitar-nos a fazer uma pesca mais conseguida, pelo contrário, quase sempre isso é sinónimo de pescas decepcionantes.

Não esqueçam: pescar com cavalas é praticamente gratuito, e garante horas de pesca, (de boa pesca), ao peixe de qualidade.



Vítor Ganchinho



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