Acelerar a entrada dos peixes

A pesca é algo que se faz com tempo. Nada pior que querer disfrutar de um momento de descontracção, …à pressa.
Fazer pesca a correr é a negação de tudo aquilo que o acto de pescar representa nas nossas vidas.

Mas por vezes temos mesmo urgência de realizar esta ou aquela tarefa complementar de pesca, a qual, não correspondendo seguramente ao objectivo primeiro, tem no entanto de ser feita. Dou dois exemplos práticos:

1- O programa do dia inclui pesca profunda com carretos eléctricos. Para isso necessitamos de uma determinada quantidade de isca fresca, e nada melhor que uns filetes de cavala. A sardinha é muito boa e eficaz mas se não for mesmo fresca salta fora do anzol com facilidade. A cavala é apenas boa e eficaz, mas aguenta a viagem até ao fundo e ainda alguns tirões dos peixes. A sardinha está cara e a cavala é gratuita. Ganha a cavala.

2- A ideia é ir às pedras procurar uns pargos de peso, aproveitando o período em que estão mais receptivos aos nossos iscos. No momento em que lêem este artigo, os pargos encorpados estão encostados à costa e é o momento certo.
Pescar com carapaus vivos é possível, mas é um isco menos bom. A cavala viva volta a ser a melhor solução e é por elas que vamos.

A verdade é que podemos estar folgados, ter tempo, e nesse caso corre tudo bem. Mas também podemos ter apenas alguns minutos para capturar as cavalas, porque temos de estar a postos, fundeados e com equipamentos preparados, antes de chegar a hora da maré em que o peixe come. Não temos o dia todo, e depois de passar a hora certa, acabou.

Se estamos com pressa, podemos considerar duas alternativas: ou nos dirigimos onde sabemos de antemão que se encontram presentes os cardumes de isca, (e isso é perfeitamente possível porque os sítios são sempre os mesmos), ou vamos a um local onde existem menos cavalas, mas recorremos a engodo e concentramos debaixo do barco as que existem na zona. Dá igual.

Já aqui vos disse várias vezes que pesco bastante com cavala viva. Para isso, tenho um oxigenador a pilhas LR20, que me garante funcionamento por 8 horas.
Os peixes mantêm-se vivos num bidon, e isso é tudo o que é necessário. Já só temos de as capturar.
Para as conseguir, utilizo um jig de 5 gramas. Num dia inspirado, sem forçar demasiado, faço pelo menos 3 peixes por minuto. Caso queira “apertar “ um pouco comigo, aperto as barbelas do anzol triplo, para as inutilizar, e sem elas, desferrar os peixes passa a ser automático: caem no barco e estão soltas. E aí, fazer 4 peixes /minuto já é corrente.
Outra forma de conseguir rapidamente uma quantidade significativa é utilizar um aparelho de penas. A Daiwa tem modelos excelentes, com linha de nylon grossa, que não enrola e podem ser utilizados várias vezes. O custo do aparelho é de tal forma baixo que torna a obtenção de isca virtualmente gratuita.

Isto é fácil e rápido porque recorremos a engodo. Em rigor, aquilo que se passa é que provocamos o chamado “frenesim alimentar” e o peixe entra de forma massiva ao nosso jig. Mordem tudo o que mexe!
Para fazer o engodo, utilizo apenas restos de iscas que sobraram de dias anteriores. Falamos de lulas de bico, (a chamada lula de arte, tão apreciada pelos pargos, gorazes e cantaris), sardinha petinga meio podre, camarão que já foi ao mar duas ou três vezes, cavalas que não foram utilizadas, enfim, restos.

Tive o cuidado de comprar uma varinha mágica industrial, (o modelo que é utilizado nos hotéis e restaurantes para fazer sopas em quantidades industriais), e funciona bem. Trabalho dentro de um balde.
Em poucos minutos, tudo fica transformado em pasta com alguma densidade.


Este é o aspecto inicial, as sobras de iscas e um pouco de água, não muita, para ajudar a formar uma papa.


A dita varinha mágica, que é exclusiva para isto. Não tentem fazer com a da vossa patroa, porque vai dar azar... E sobretudo, façam o engodo no exterior, não se lembrem de fazer isto dentro de uma cozinha, porque dá mais azar que partir um espelho, passar por debaixo de uma escada ou cruzar o caminho com um gato preto.


Aspecto do engodador. Este foi feito pelo meu amigo Gustavo Garcia, que recorreu a toda a sua santa paciência, e fez furos com um berbequim até cair de costas. O material é muito barato, mas implica trabalho, paciência e habilidade de mãos. Por isso não foi feito por mim.


Antes de verter a massa de engodo, é conveniente colocar filme à volta do engodador, para evitar que derrame. A seguir vão a congelar.


Ajuda muito que sejam suspensos da borda do barco ainda congelados, ou meio congelados pelo menos, não só para não sujarmos o barco, mas também para que seja o balanço do mar que os vá esvaziando aos poucos. Dependendo da quantidade de água que adicionámos às iscas dentro do balde, e consequentemente da sua densidade, assim duram de 20 minutos a 1 hora.
Eu armazeno-os numa arca frigorífica dedicada a iscas, e porque vou a o mar várias vezes por semana, tenho sempre uns 8 ou 9 tubos preparados para fazer saídas de pesca.
Com eles, arranjar isca fresca torna-se mesmo muito rápido. É gratuito e funciona.


Uma pequena peça destas, armada com anzol simples ou com fateixa tripla, dá-nos cavalas em 15 minutos que chegam para 8 horas de pesca.


A quantidade de toneladas de cavala que temos na costa permite sair à confiança sem isca de casa, contando que elas estão nos sítios do costume, esperando os nossos jigs de baixo peso. A seguir, é utilizar vivas, ou fazer em filetes, para quem pesca vertical. 



Vítor Ganchinho



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