Debaixo das algas...

Quando saímos ao mar e metemos a cabeça debaixo de água, os nossos olhos são atraídos por cores, formas e movimento.
Na maior parte dos casos vemos apenas aquilo que procuramos especificamente e não conseguimos descobrir contornos que nos surgem interrompidos, desfocados, ou mimetizados com cores de algo a que não atribuímos importância.

Se alguém procura sargos, irá concentrar as suas atenções em peixes a nadar a meia água, encostados a pedras, ou mesmo em águas abertas. E não vai ver o polvo que estava parado, encostado a uma alga. Ou o choco meio enterrado.
Se acham que isto acontece apenas com pequenos peixes ou moluscos, pois queiram saber que estão enganados. Aconteceu comigo numa pedra no Kounke Djabar, cerca de 70 km ao largo de Dakar.
A cerca de 25 metros de profundidade, armado com uma potente arma de caça-sub Riff, cheguei ao fundo e os meus olhos fixaram-se num cardume com algumas dezenas de pargos de 30 a 40 kgs, que evoluía a cerca de 12 metros de mim.
Quando comecei a subir, depois de ter gasto o ar que tinha nos pulmões sem sucesso, sem conseguir disparar a qualquer dos pargos, por estarem demasiado largos, reparei ao olhar para baixo que havia algo que começava a mover-se.
Era um pargo com cerca de 80 kgs, um monstro que confiou na sua camuflagem e ficou quieto, comigo a não mais de 3 metros dele….e eu não o vi senão quando já subia, incapaz de voltar abaixo.
Um peixe com mais de 1,5 mts, com o dorso largo, dos seus 50 cm de largura, e que fez aquilo que devia fazer: imobilidade absoluta. O castanho esverdeado do lombo era exactamente igual ao fundo, onde estava encostado.
Por isso, não é uma questão de tamanho…os meros quando entocados em buracos escuros, também fazem o mesmo, valem-se das suas malhas claras sobre fundo castanho, e falamos de peixes com …20 kgs.
São os nossos olhos que nos enganam, procurando padrões que associamos a este ou aquele peixe, este ou aquele recorte, algo que nos seja familiar e identifique a espécie que procuramos. Qualquer corte no padrão significa a impossibilidade de reconhecermos algo que noutras circunstâncias seria fácil de detectar. Eles jogam com isso e enganam-nos, mesmo a pessoas muito experientes.

Trago-vos hoje alguns detalhes relacionados com camuflagem, essa poderosíssima arma que salva os nossos bichinhos de uma morte prematura. Espero que gostem.


Estas salemas procuram clarear o seu dorso de forma a não serem ser vistas de um plano superior.


Se fizerem um esforço conseguem entender este caranguejo mesmo ao meio da foto. A textura é a mesma das pedras cobertas de algas. Basta que ele não se mova e garanto-vos a como não o vêem no seu habitat natural…


Polvo “enfarruscado” em algas escuras. Num espaço de dezenas de metros, isto é …uma alga mais.


É a capacidade de reproduzir as cores ambiente, a imobilidade, e uma grande rapidez de reflexos que permite a este polvo apanhar um dos sargos que se encontram num plano mais distante.


Debaixo destas algas, temos minhocas, santolas, caranguejos, etc, etc. As algas que as santolas colam à sua carapaça também oscilam com a corrente…e tornam a santola …mais uma alga. 


Mesmo cores vivas como o amarelo e laranja deste caboz, podem passar despercebidas. O peixe corta o padrão, o formato que temos interiorizado de um peixe. Quando oscila em conjunto com as algas,... desaparece.


Aqui temos uma situação curiosa: um pequeno polvo encostou a esta pedra, e deixou-se ficar na zona de sombra. Com a movimentação de areias, com o balançar das algas, não é visível.


Mostro a seguir outra foto para que vejam que é mesmo um polvo.


Agora mais facilmente reconhecível. O facto de estar na sombra ajuda-o a não ser visto, até porque não deixa de ser uma forma pouco definida.


Em fundos de pedra rolada, muitas vezes desarmam-nos cobrindo o corpo de várias cores distintas, ou seja, ocultando-se através de vários padrões diferentes. Quase que dividindo partes do corpo separando-as através de cor.


Este caboz tem umas malhas que se confundem perfeitamente com a estrutura do fundo.


Mesmo peixes em movimento podem enganar os nossos olhos, desde que tenham a ajuda das algas que se mexem ao sabor da corrente. Este bodião move-se ao mesmo ritmo das algas e passa bem por ser... mais uma. 


Não é possível falar de camuflagem sem recorrer ao rascasso. Eles são tão bons que mesmo quando estão francamente baixos, muito próximos da superfície onde o vermelhos das suas cores já os prejudica, ainda assim não são facilmente visíveis. 


Num entorno alaranjado, há que ser “alaranjado”. Este caboz sabe fazer isso muito bem.



Vítor Ganchinho



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