Pesqueiros de bogas - Fugir deles?

Em determinadas alturas do ano, chegam a ser uma praga. A boga, “Boops boops” de seu nome científico, é um peixe que pode chegar a ser-nos muito incómodo.
Aquela boca pequena faz muitos estragos nos nossos iscos, e para quem está na expectativa de conseguir algo mais corpulento, a boga é sempre um atraso de vida.
Vamos hoje tentar saber um pouco mais sobre este peixe tão comum, de corpo alongado, quase cilíndrico, e que ocorre em cardumes que chegam às centenas de indivíduos.




Têm distribuição muito ampla, por todo o Atlântico, e são euhalinas, ou seja, não entram nos rios pois necessitam de um grau de salinidade constante, estável.
Podemos encontrá-las desde a superfície até aos 350 metros, sendo mais comuns em pesqueiros até 100 metros.
Algo salta à vista quando as pescamos: a sua propensão para nos sujarem as mãos, pois libertam uma enorme quantidade de dejectos. Com efeito, a sua alimentação à base de algas, crustáceos, larvas e plâncton, não ajuda muito.
Não é referido, mas sabemos que para além daquilo que os registos referem, também comem sardinha, cavala, ganso, casulo, etc.
É tipicamente um peixe da coluna de água, e frequentemente ataca os iscos na descida, se não tivermos peso suficiente. Uma descida de isco lenta tem grandes probabilidades de ser interceptada por este peixe, que se coloca frequentemente por debaixo do barco, aproveitando os restos de iscos que se partem quando lançamos.
Crescem até aos 36 a 40 cm para um peso entre os 400 e 500 gr, e é um hermafrodita protogínico, ou seja, por norma nasce fêmea e assim atinge a idade reprodutora, sendo que muda para macho posteriormente.
Supostamente sobe à superfície durante o período nocturno. Na verdade, nunca a capturei à noite e por isso não posso confirmar.

Não lhe é atribuído valor comercial, mas ainda assim, …em 2008 forma capturadas perto de 38.000 toneladas. Sendo a maior parte utilizada para farinhas de peixe, a englobar em rações para animais.
Não é decididamente um peixe de alto gabarito na cozinha, mas tem os seus indefectíveis apoiantes humanos nas regiões do interior, onde é consumida assada ou frita.
Penso que exclusivamente por razões que têm a ver com o seu baixo preço. Podemos associar-lhe uma resma de parasitas de todo o tipo.
Dizem os registos que até hoje foram encontrados 67 diferentes tipos de parasitas no seu corpo, o que a torna um alimento pouco recomendado.


Os cardumes seguem trajectos fixos e habituais ao longo do dia. Por rotina, se as encontramos hoje a uma determinada hora da maré, amanhã à mesma hora de maré poderão voltar a estar no mesmo sítio. Eu disse hora de maré, e não hora do dia…


A boga enquanto peixe isolado de um cardume é um alvo fácil, e os robalos de bom tamanho procuram-nas avidamente. Já as encontrei por diversas vezes dentro do estômago dos “ Labrax”...


Poucos peixes nos deixam mais desanimados que este. Quando aparecem, temos... problemas.


A grande questão é saber se ficamos ou partimos. Na minha opinião, deve-se apenas mudar de isco, optando por pescar com iscadas maiores, ou mesmo passar a utilizar artificiais.
As soluções existem, e é certo e seguro que o cardume se irá afastar, se não tiver nada que o atraia, nada que possa comer. Quanto mais alta a pesca mais possibilidades temos de desafiar este esparídeo, pelo que passar a pescar com um só anzol pode ser opção. Caso a sonda nos marque peixe grande colado ao fundo, é tempo para iscar uma cavala viva, e …confiar na sorte.


Pensar em acabar um cardume de bogas pescando à linha uma a uma pode ser uma tarefa ingrata. É trabalho para muito tempo, e obviamente não resulta. Não é uma questão de insistir, é necessário mudar algo.


Por vezes há um ou outro peixe que muda de “clube”, na circunstância esta boga que podem ver no canto inferior esquerdo misturou-se com um cardume de cavalas. São ambos peixes pelágicos, mas os hábitos de uns não se coadunam com os de outros, e também a alimentação é diferenciada. Digamos que é uma união com tudo para não dar certo.


Também em fundos de areia e algas aparecem cardumes, pelo que não podemos nunca acreditar que estamos verdadeiramente livres delas. Visitam fundos de areia, vasa, pedra, pelo que não estamos nunca livres de nos aparecerem.


Em caso de necessidade, pode funcionar como isco vivo, sendo de qualidade inferior à cavala. Os peixes procuram alimentos gordos, que lhes tragam um aporte de energia substancial. A cavala ou a sardinha, ricas em gorduras e aminoácidos, satisfazem na plenitude as características que pretendemos para um isco. Mas uma boga desde que viva e animada também faz a função.
Pesca-se com um tandem de dois anzóis, empatados com cerca de 20 cm de distância. Por uma questão de segurança da baixada, estes anzóis devem ser de argola e não de patilha.
Em fundos mais significativos, diria de 100 metros para baixo, é muito provável que surjam predadores com algum tamanho, a atacar a nossa isca, e se surgir um bom peixe galo, um safio, um pargo grande, …não é de estranhar.



Vítor Ganchinho



4 Comentários

  1. Olá Vitor
    Desconhecia o risco dos parasitas nas bogas. Já aprendi mais uma coisa!
    Perdoe a ignorância, o que quer dizer com "Por uma questão de segurança da baixada, estes anzóis devem ser de argola e não de patilha."

    Abraço, Paulo

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    1. Boa tarde Paulo Quando se faz pesca a peixe com algum tamanho, aquilo que não queremos que aconteça é que o peixe, porque muito pesado, forte, (ou ambas as coisas), consiga fazer pressão suficiente para deslocar ligeiramente o fio de empate e o consiga cortar na lâmina da patilha. Como sabe, os anzóis fabricam-se nessas duas variantes: patilha, em que o corte do arame é feito por um cunho mecânico que "espalma" e faz esse corte, e o modelo de argola. A patilha fragiliza a união, dado que se trata de uma aresta cortante.
      Não vou tanto pela questão de se utilizar mais ou menos um modelo, quando se trata de pesca ligeira. Mas se subir o nível dos seus oponentes, ....vai querer ter um anzol de argola. A solidez da união é muito maior, mesmo até para anzóis "mal empatados", digamos que aqueles que o pescador prepara sem se querer maçar muito. Um anzol de patilha pouco apertado, "escorrega" na patilha e a linha salta. Ou seja, no momento crítico, ...fica só com a baixada, sem anzol, que vai na boca do peixe. Se estiver a utilizar anzol de argola, basta que passe a linha por dentro do olhal e ela nunca mais sai dali. Mesmo mal apertada!
      Em anzóis de tamanho diminuto, a argola não faz falta nenhuma. Até pode prejudicar o desempenho do anzol e a pesca em si. Mas para peixe grande, ...está fora de questão utilizar anzois de patilha. Nem deviam existir a partir de determinados números. Eu pesco com anzóis de argola, e fico muito mais descansado relativamente ao desempenho das ligações linha/ anzol.

      Se quiser, eu posso fazer um filme de uma dessas baixadas, para lhe mostrar como pesco aos matulões, com dois anzóis em tandem.

      Abraço!
      Vitor

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    2. Bom dia Vitor.
      Compreendo o que diz e concordo.
      É sempre útil poder observar a sua montagem tandem.
      Agradeço a sua atenção.

      Abraço, Paulo Fernandes

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    3. Boa tarde Paulo Vou tratar de trazer de casa algumas imagens da baixada, e envio-lhe.

      Aproveite agora, há robalos e pargos a valer.


      Abraço!
      Vitor

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