O Triângulo das Bermudas - Um sítio maldito?

Já aqui vos trouxe informação sobre esta zona, aquando do artigo sobre a formação das ondas no hemisfério norte. É desta região que nos chegam as ondas que rebentam na nossa costa, em Portugal, depois de atravessarem todo o oceano Atlântico.
O local em si tem sido exaustivamente estudado, e sabe-se hoje muito mais do que sabiam as pessoas a meio do século passado. Aconteceram factos estranhos, e na altura ninguém encontrava explicação.
Penso que pode ser divertido seguir a pista deste estranho mistério do mar do Triângulo das Bermudas….ao qual são atribuídas explicações metafisicas e sobrenaturais.




A área total não é exactamente fixa, pois depende muito das condições climáticas que se verificam naquelas paragens, mas podemos situar entre 1.1 milhões de km2 e até 3.95 milhões de km2.
Algo entre as Ilhas Bermudas, Porto Rico, Flórida. Quando a situação se complica, passamos a ter um polígono, que incluí as Bahamas. O que se passa pois nesta zona? Que estranhos fenómenos físicos acontecem para que esta região atlântica tenha a fama que tem? Porque desaparecem aviões, navios de passageiros, petroleiros? É isso que vamos ver hoje.

A história remonta a alguns séculos atrás, foi recuperada em pleno século XX, e envolve o desaparecimento de aviões e barcos.
Para que tenham uma ideia da discrepância de dados, os registos históricos tanto referem 50 barcos e 20 aviões, como fazem alusão a 200 a 1000 casos de desaparecimentos nos últimos 500 anos.
Tiveram um pico significativo quando as televisões passaram a interessar-se pelo fenómeno. Um dos mais bizarros casos tem a ver com um tristemente famoso caso do voo 19.
Conto-vos a história: 5 aviões bombardeiros norte-americanos desapareceram sem deixar rasto. Todas as dezenas de tripulantes foram dados como mortos.
Estes aviões, em voo de rotina feito a partir da base de Fort Lauderdale, num dia de excelentes condições meteorológicas, foram procurados por um hidroavião de resgate, que…também desapareceu. Aqui têm os detalhes:




Na tarde de 5 de Dezembro de 1945, uma esquadrilha de aviões TBF Avenger saía com tripulações de cadetes. Seria o seu último voo, antes de obterem a sua formatura oficial.
O treino consistia em simular um ataque com torpedos no mar, seguido de retorno à base. Cada avião era partilhado por uma equipa constituída pelo piloto, o artilheiro de armamento e o radio operador.
Ao fim de uma hora e meia, o capitão instrutor Charles Taylor conseguiu comunicar com a base, dizendo que estavam completamente perdidos.
Uma outra conversa foi ainda registada, entre este e um outro piloto sénior, Robert Cox, instrutor de voo de passagem pelas imediações, mas que estava fora desta operação. ÀS 19.04 h foi feito o último contacto, e a seguir, o silêncio.
Foi recomendado a Robert Cox que abandonasse a zona de buscas.
Organizada uma missão de busca, foi enviado um hidroavião (com capacidade para amaragem no mar e proceder a salvamentos) modelo PBM Mariner, equipado com uma tripulação de 13 homens.
Chegados ao local onde houve o último contacto com a esquadrilha desaparecida, meia hora depois de terem levantado voo da pista, logo com os tanques cheios de combustível.
Reportaram à base que estavam a chegar à zona do desaparecimento. A seguir, nada…desapareceram também.
A nação americana mobilizou-se, e as buscas envolveram centenas de navios e aviões. Concretamente a Marinha dos USA enviou para o local 18 navios e 248 aviões, para além de inúmeros navios mercantes a passar na zona.
Pese embora tenham percorrido a pente fino uma área de cerca de 520.000 Km2, não foram encontrados quaisquer vestígios.


Um avião PBM Mariner americano, conforme os que foram enviados para proceder ao resgate.




Mas existem muitos outros e bem anteriores. Cristóvão Colombo queixava-se de distúrbios na sua bússola, e de ver luzes que saiam da água à noite, quando passava naquele mar.
Os primeiros relatos da era moderna ocorreram por volta de 1945, e desde essa altura, forma escritos livros, foram feitos programas de radio, a evocar estranhos desaparecimentos.
Em 1951, um avião cargueiro americano, com cerca de 50 pessoas a bordo, despareceu, sem sinal. Novamente as condições atmosféricas eram boas.
Os registos de algumas fontes referem que aquando destes desaparecimentos, não há qualquer pedido de socorro, qualquer chamada de emergência, e não se encontram vestígios de destroços.
Outros relatos contam que a Guarda Costeira americana, só em 1973 recebeu cerca de 8.000 pedidos de ajuda provenientes desta área.
A imaginação fértil dos romancistas avançou com resgates em que as embarcações eram encontradas sem qualquer elemento da tripulação e com as mesas repletas de comida ainda quente...
A fantasia humana não tem limites, e o sensacionalismo das notícias, que envolvia inclusive extraterrestres, passagens para outro mundo, monstros aquáticos, vendia nesta época toneladas de papel.

Procurando explicações bem mais mundanas e racionais, vamos dividir cada um dos factores estranhos e mirabolantes, e tentar explicá-lo por si:

Sobre a dificuldade de encontrar vestígios de acidentes: aquilo que se conseguiu apurar foi que a zona em si, ou é muito baixa, com recifes a aflorar a superfície, ou é muito profunda, sendo sempre submetida a grandes correntes.
Isso não facilita a detecção de vestígios de desastres aéreos ou marítimos.
A profundidade máxima no Atlântico é precisamente encontrada ali, junto a Porto Rico: 9174 metros. Se explica a dificuldade de ir “lá abaixo” espreitar, por outro lado não justifica a não existência de destroços a flutuar….mas as correntes ajudam a entender a disseminação dos possíveis restos físicos das aeronaves.

Sobre a dificuldade em estabelecer rotas: é conhecida a existência de campos magnéticos estranhos e divergentes e não um exclusivo da zona.
O mau funcionamento das bússolas deve-se a um fenómeno conhecido, que também ocorre noutros locais, chamado de “variação da bússola”, e tem a ver com o facto de a bússola naquela região passar a apontar para o norte geográfico e não o norte magnético.
Utilizadores não precavidos para este distúrbio podem, sem fazer as necessárias correcções e caso sigam rigorosamente este instrumento que noutros sítios não falha, a fazer círculos, em suma, a perder-se.

Sobre a dificuldade em estabelecer comunicações: Há algumas dezenas de anos atrás, as técnicas de comunicação e navegação não eram o que são hoje. Os rádios tinham alcances inferiores, mas mesmo assim, os aviões desaparecidos tinham num ou outro momento conseguido comunicar. A utilização de GPS generalizou-se e nos dias que vivemos, é rara a embarcação que não tem um, e a funcionar bem.
Mas estes instrumentos podem falhar, e mais ainda se a zona em questão tiver uma formação de vulcões submarinos em actividade. Para além disso, pesquisadores da Universidade do Colorado encontraram um padrão de nuvens anormal, que se formam nesta região. Terão um formato de uma estranha geometria hexagonal.

E este pode ser o busílis da questão. Vamos ver abaixo o porquê.

Estes vulcões emitem gás metano em grandes quantidades, e isso, sendo uma forma de gás de cozinha em bruto, não trabalhado, pode provocar explosões ao atingir a atmosfera. O gás metano provoca um efeito de estufa 4 vezes superior ao dióxido de carbono, CO2, e resulta da decomposição de matéria orgânica no fundo do mar. A movimentação das placas tectónicas provoca deslocamento de fundos marinhos e com eles, a possibilidade de se formarem bolsas de gás retido, o qual, episodicamente, é libertado em grandes quantidades. O petróleo e o gás natural estão intimamente ligados a este processo. O aquecimento global, ao aquecer as águas e ao mudar o nível dos oceanos, também provoca distúrbios na pressão a que estas placas estão sujeitas. São de esperar mais problemas a este nível, no futuro.

E isto já ajuda a explicar algo. O metano pode explodir se em contacto com uma faísca de um motor. Da mesma forma, se em grandes quantidades, pode provocar uma baixa de densidade brusca na flutuabilidade que o mar oferece aos cascos dos navios.
Uma porção deste gaz metano que chegue à superfície sob a pena de grandes bolhas no momento de passagem de um barco, pode retirar-lhe a sustentação por momentos e obrigar ao seu rápido afundamento.




Os cientistas, sempre cépticos em relação a motivações divinas, procuram explicações que encaixem no conhecimento técnico que temos hoje sobre fenómenos como os maremotos, furacões, e outras causas naturais conhecidas.
Tornados e trombas de água são frequentes no triângulo. Sabemos serem fenómenos meteorológicos formados sobretudo em zonas marítimas de águas quentes. Caracterizam-se por terem colunas de água em movimento giratório, com ventos muito intensos, a partir dos 119 km/h, e que levantam graves problemas às embarcações.
Quando a água vem de cima para baixo, da nuvem para o mar, é uma tromba de água, quando o movimento é ascendente, do mar para a nuvem, é um tornado.
Esta coluna de água, em condições de fraca visibilidade, ou à noite, pode ser a causa de afundamentos, ou desastres aéreos. O poder destrutivo da água não é de negligenciar.
Também possíveis falhas de combustível, falhas humanas na leitura de instrumentos, podem justificar alguns destes casos.
Uma equipa de pesquisadores australianos, já em 2010, pensa ter desvendado de vez o mistério do Triângulo das Bermudas: inclinam-se para a comprovação da teoria do gás metano, pois é factual que a zona liberta regularmente esse gás, e isso pode efectivamente diminuir a flutuabilidade dos barcos, que poderão sofrer um afundamento tão repentino que não dará sequer tempo a comunicar a sua posição a terra firme. Também no caso de haver interferência de gás na atmosfera com a chama dos motores de aviões, a explosão será de tal forma imediata que não chega a haver tempo de reacção.

Os acontecimentos referidos são algo de pontual e não reflectem a quantidade de embarcações e aviões que passam pela zona, diariamente, sem ter qualquer problema.
Serão pois ocasionais os acidentes, algo raros, mas parecem de facto existir. Haverá um fundo de verdade em tudo isto, e seguramente uma explicação racional. O certo é que as ondas que recebemos em Portugal são formadas lá, naquela zona de baixas e altas pressões.
Os ventos provocados por estas diferenças de pressão originam ondas de grande altura, e que, depois de atravessarem o Atlântico, acabam por vir rebentar deste lado, na nossa costa. São elas que por vezes arrancam da rocha os mariscos de que se alimentam os nossos peixes mariscadores, os sargos, as douradas...
Não deixa de ser curioso saber que estas ondas, formadas tão longe, acabam por passar por debaixo dos nossos barcos. Onda que passa por baixo é bem menos problemática que onda que passa por cima...

Tudo menos a existência de extraterrestres a raptar humanos...



Vítor Ganchinho



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