Diferentes perfis de pessoas a sair ao mar

Para quem passa a semana sentado a uma secretária, o fim-de-semana de pesca pode ser verdadeiramente libertador.
A expectativa que se cria em relação a uma jornada de pesca ao “pica-pica” pode ser muito grande. Mesmo quando se sabe à anteriori que os resultados a obter podem não ser muito compensadores em termos de capturas.
A aposta de saídas em barcos com 16 a 20 pessoas torna o preço por cabeça muito baixo, na ordem dos 20 euros por indivíduo. Mas as possibilidades de conseguir pescar com semelhante comitiva, pescar com tanta linha na água a cair ao mesmo tempo, … reduz drasticamente.
Sejamos francos, não é fácil conseguir pesqueiros onde todas as pessoas pesquem por igual, com as mesmas possibilidades. Pode acontecer que apenas metade fique em cima do pesqueiro.
O mestre da embarcação não faz milagres e a quantidade de peixe disponível nas pedras muito menos. Cada vez menos, cada vez mais pequeno. Quando um hipotético peixe de maior tamanho se encontra na zona, e perante tamanho ruído e despropósito de chumbadas a cair, faz aquilo que fez durante anos e que lhe permitiu chegar àquela idade: não pica. Os peixes grandes sabem que basta não abrirem a boca e não têm problemas.
Na maior parte dos casos, e perante uma situação que será tudo menos natural, correntes a arrastar no fundo, barulho da aguagem a chocar contra o casco e um inferno de chumbadas a bater na rocha, …afasta-se.

Cada vez mais, os bons peixes pescam-se em embarcações com um número reduzido de elementos, a pescar bem, a ser discretos, sem ruídos, com poucas linhas a chegar ao fundo.
É um facto que à medida que o número de tripulantes reduz, o custo da saída aumenta para cada um dos intervenientes, mas o peixe de qualidade compensa isso. Como em tudo na vida há que fazer opções.




Se a maioria destas pessoas vai objectivamente à pesca para trazer peixe para casa, para trocar os 20 euros por um valor bastante superior em peixe, também há quem pague para sair à pesca, e não esteja sequer preocupado se vai pescar.
O termo certo é mesmo esse, “sair à pesca”. Não obriga a ter de pescar, a ter fisicamente peixe numa caixa. Por estranho que pareça, há quem não se importe sobremaneira com o resultado da pescaria.
Estas pessoas são normalmente funcionários administrativos, quadros superiores de empresas, médicos, advogados, e têm como principal objectivo sair ao mar e isso é substancialmente diferente de ter de pescar.
A libertação interior de estar no mar, o sentir a brisa marítima na pele, já é suficientemente compensadora. Muitas destas pessoas por vezes pescam dezenas de anos e nunca chegam a saber que na realidade, aquilo que procuram numa saída de pesca é tudo menos o peixe.
Falamos de paz de espírito, de paz interior, longe do rebuliço das cidades, das filas de trânsito, das buzinas, dos compromissos de cumprir horários. E para alguns, de ter de tomar decisões difíceis a cada instante. Para estas pessoas, o peixe é algo que tem uma importância relativa.

São normalmente pessoas que têm da pesca uma ideia vaga, meio difusa, não são capazes de distinguir as diferenças entre uma baila e um robalo, entre um sargo e uma dourada, e seguem os métodos daqueles que vêem pescar a seu lado.
É a essas pessoas que os vendedores de material de pesca menos escrupulosos “enfiam” chumbadas para pescar vertical como a que vêm abaixo. Canas, carretos, linhas, tudo é refugo porque interessa sobretudo libertar “monos”.
Por vezes vejo passar pelos meus olhos coisas tão estranhas que a única reacção que tenho é: “ …não é possível! Valha-me Deus!”...


Para quem não tem noção daquilo que está a fazer, uma chumbada destas é um peso e tão bom quanto qualquer outro.


É verdade que em pesqueiros perto da cidade, com uma escassez absoluta de peixe, os preferidos daqueles que não querem ter grandes despesas com combustível, não serão as chumbadas que irão fazer grande diferença. Nem sequer as linhas ou as canas, porque não se pesca nada. Ou se algo vem no anzol, será tudo menos um pargo decente.
Pode ser uma pedra, ou um pepino do mar. Pode ser a pesca do parceiro do lado, e também pode ser o cabo da âncora. Partir uma linha pode ser um drama, porque não tem de reserva, ou não sabe pura e simplesmente montar.
Vai ter de pedir a alguém que o ajude.


Os pepinos do mar depois de espetados pelos anzóis vêm neste estado para baixo, a largar um líquido interior que é pegajoso nas mãos. Pobres bichos que tanto sofrem com a pressão humana. São recolhidos para venda em seco aos mercados asiáticos, onde valem fortunas.


As safias e os sargos miúdos são muito pouco complacentes com os anzóis grandes dos iniciados. O vendedor da loja de artigos de pesca teve o cuidado de avisar que para pescar peixe grande terá forçosamente de utilizar anzol grande...


E estes sacanas, os “piços”, que são uns malandros e que desiscam os anzóis em três tempos?! Estas boquinhas pequeninas com dentes afiados são capazes de levar um novato ao desespero.


Mesmo um pampo pode ser um desafio tremendo para quem nunca pescou. Faz vibrar a cana, faz força e tem tamanho. Tudo bom!


Os polvos são inteligentes, são matreiros e quando lançam um tentáculo a uma isca, têm os outros sete tentáculos bem agarrados a uma pedra. Bem que os nossos pescadores novatos podem puxar, que eles esticam, esticam, …mas dali não saem.


Estes esticões e as linhas partidas ficam a povoar a mente do pescador novato com imagens de gigantes fortes, com muito músculo, e bocas muito grandes.
São uma boa razão para voltar a tentar noutro dia.



Vítor Ganchinho



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