A importância de uma boa cana

Nunca me cansarei de sugerir a compra de uma cana de muito boa qualidade. É um investimento seguro, que traz retorno, que se paga a si próprio ao longo do seu tempo de vida útil. 

A quantidade de peixe (…a mais) que se faz por estarmos bem equipados, a possibilidade de executarmos técnicas de pesca que com outro material nos estão vedadas, e porque não, o prazer que se retira de trabalhar com uma vara de alta tecnologia, compensam certamente o preço acrescido que é necessário pagar para termos nas mãos uma destas canas. 

Penso que salta à evidência: fazer canas em série, com materiais de baixa qualidade, construídas por operários pagos a salários irrisórios, da produção em massa, do trabalho em quantidade que visa essencialmente o baixo preço final, com o fito único do lucro, (conforme se faz na China), não é o mesmo que produzir uma cana japonesa com o objectivo de produzir excelência, fazer algo que foi exaustivamente estudado, testado em provas de mar, acompanhado ao longo da sua construção por engenheiros qualificados. Que recebem não salários mínimos, mas sim o valor justo pela sua experiência e capacidade de trabalho. E que forçosamente terá de ser imputado ao resultado dos milhares de horas de pesquisa, estudos e testes: a cana. 

Aquilo que sai das mãos de uns não pode ser o mesmo que resulta das mãos de outros. Os objectivos não são os mesmos. São conceitos diferentes, quantidade versus qualidade.

Sem tirar o mérito de quem foca a sua atenção em “democratizar” a pesca e quer produzir canas a 6 euros, ( oferecem-nos na nossa empresa canas dessas com frequência…), aquilo que move alguém a escrever estas linhas está do outro lado, do lado do equipamento de alta qualidade, das outras canas, porque só essas merecem uma análise atenta e diferenciada. As chinesices entendem-se em segundos, são…tubos de plástico, e eu seria incapaz de perder alguns segundos da minha vida a olhar para elas.


Reparem que utiliza um tipo de colete de flutuação de cintura, que não obriga a qualquer passagem pelo pescoço. São automáticos, protegem, e não incomodam a pescar. Um dia serão eventualmente homologados em Portugal.

O equipamento de pesca do sr Masao Tabuchi é topo de gama na Daiwa: um carreto Seaborg 500 MJ e uma cana Shot Viper 210 SMT. Quem precisa de mais?....

Não tenho a certeza que todas as pessoas saibam analisar correctamente os elementos de construção de uma cana, o carbono, fibra de vidro, metais, porta-canas, passadores, etc, e por isso venho a este tema no blog de hoje. Ponto prévio: é necessário saber e fazer mais do que pegar na cana, olhar para o preço e dobrar a ponteira. Isso é o que faz quem não tem a noção de como ler uma etiqueta de produto. 

Assim sendo, vamos tentar entender as etiquetas, pelo menos alguns dos aspectos que me parecem mais importantes no acto de compra de uma cana. Começamos por definir o tipo de pesca que pretendemos fazer. É obviamente  isso que irá determinar o modelo de cana a adquirir. 

Não há canas universais, que “sirvam para tudo”….., pelo que devemos procurar ser claros e precisos junto do funcionário da loja, informando-o do que pretendemos. Ele irá conduzir-nos ao leque de canas que tem em stock, e aí, devemos olhar para a etiqueta de produto. Muita informação relevante está lá e é para ser lida. Não é comum que tenhamos toda a informação em português, porque os melhores construtores de canas estão todos no país do sol nascente, o Japão, e exactamente por isso, teremos de saber ultrapassar essa primeira barreira. A legislação portuguesa obriga a que se tenham algumas instruções básicas em português, mas não é isso que nos irá possibilitar aquilatar dos detalhes técnicos mais importantes. 

Neste caso, e porque se trata de japonês, apenas podemos intuir daquilo que o fabricante nos diz, mas mesmo assim há aqui muita coisa útil, informação que é perceptível a quem souber procurar. Vamos ver um desses casos:  

Normalmente as marcas referem dados relativos à construção do blank, bem como outros que nos são mais visíveis, por serem exteriores, mas que é importante considerar. 


A cana que analisamos hoje é uma Daiwa Viper Stick ref M-225 SMT, um produto de gama alta deste prestigiado construtor japonês. 


As principais características físicas, e que constam da etiqueta, são: 

Comprimento total: 2.25 mts

Número de peças: 2 (haste e cabo)

Comprimento de transporte da maior secção: haste 1.80 mts.

Diâmetro do talão na base: 17.9mm

Diâmetro da ponteira: 1.3mm

Peso da cana: 350 gr

Amostras/ cargas possíveis entre: 20-150 **---(75 a 572.5 gr)

** Atenção: não se trata de gramas! Os japoneses utilizam uma medida que é o GOU, com equivalência a gramas, nesta relação: 1 GOU = 3.75gr

Percentagem de carbono: 80%

Outros componentes, cola, titânio, fibra de vidro, cabedal sintético: 20%


Tal como um carro que sai de fábrica de acordo com os requisitos prévios do seu comprador, uma cana de pesca pode ser feita de acordo com uma série de parâmetros, de… acessórios e tecnologia, quase que por encomenda. É comum que as marcas recorram a produtores externos de componentes, no sentido de optimizarem o seu esforço de fabrico, digamos que procurando concentrar as suas energias na produção do melhor produto. 

Assim, sabemos que os tubos de carbono poderão ser feitos por entidades especializadas na feitura de elementos em fibra de carbono, tais como a Toray, a Tenax, a Zoltec, a Mitsubishi, a Toho, etc. A marca desenvolve a seguir um conjunto de tecnologias, (vamos vê-las hoje, aqui) e fabrica de acordo com aquilo que o mercado pede. Se quiserem, com a …configuração desejada. Tal como um carro que tem airbags, jantes especiais, estofos em cabedal, também o número de adicionais aplicados numa cana irá melhorar mais ou menos o conjunto, e também por consequência encarecer o resultado final.   

Tenho para mim que é preferível esperar um ano, amealhar dinheiro e comprar algo de muito bom, uma cana a sério, que comprar dez unidades de canas ruins. Para comprarmos bom, temos de saber analisar a informação que nos dão, e também devemos saber ir um pouco mais além da árvore, ter sentido crítico e saber entender a “floresta”. 

Pode acontecer que a marca faça uma impressão na própria cana de muito daquilo que é importante, como o comprimento, acção, peso das amostras a utilizar, etc. Mas é na documentação da cana que teremos a verdadeira essência dos dados relevantes. Também devemos saber “ler” a qualidade daquilo que os nossos olhos veem. Vamos hoje ver por alto aquilo que uma boa cana traz de série, sendo que vos prometo para um dos próximos dias uma análise mais detalhada, mais à lupa, de cada um destes factores: 

Passadores AGS - O conceito Air Guide System tem a ver com passadores que, pese embora a sua rigidez, são extremamente leves. São mesmo os mais leves do mercado, com valores de peso 42% inferiores ao titânio. Para quem gosta de números, o passador de carbono mais leve pesa algo como 0.028 gramas! Um conjunto completo de passadores para uma cana de spinning pesa …4.40 gramas. 

Estes passadores em carbono transmitem muito facilmente as sensações recebidas na linha, permitem lançar mais longe (5%), e reduzem as indesejadas vibrações. Digamos que cumprem com nota altíssima as suas funções principais: guiam a linha e aumentam a nossa capacidade de detecção dos toques. O passador AGS Daiwa veio a desenvolver-se, e hoje em dia o conceito aplica-se a outros materiais que não apenas o carbono, e passou a equipar praticamente todas as canas de qualidade. Eu já utilizo canas com este equipamento há alguns anos. Consigo ferrar peixes pelo eco que a vara me transmite ao registar os toques mais subtis.


Por vezes, por graça, quando pesco vertical, ou Tenya, deixo que o meu colega do lado pegue na minha cana e experimente. A resposta invariavelmente é esta: “ agora entendo a razão de nem precisares de estar a olhar para água quando ferras o peixe”….

Na verdade, os toques não são apenas visuais na ponteira da cana, …sente-se a sua vibração na mão e antebraço. Chama-se a isto “ressonância da cana”. 


Produzir um passador destes custa mais que o preço total de uma cana chinesa. 


Ponteiras SMT - As Super Metal Top são algo que veio inovar imenso aquilo que existia. Já não é apenas a detecção de toques, é mais que isso: é a resistência à quebra, que tanto apoquenta os pescadores. 

As ponteiras SMT, em carbono maciço, apoiadas por filamentos de titânio embutidos, não ganham apenas em sensibilidade, também denotam um acréscimo de resistência. Eu, que levo ao mar muitas pessoas sem a noção da fragilidade de uma cana que pode pesar…55 gramas, e do quanto é necessário saber trabalhar para não estragar o equipamento, sou um dos que beneficiam deste tipo de ponteiras. O que obtemos concretamente com este tipo de material é uma alta sensibilidade e um eco perfeito daquilo que se passa no fundo. Há na pesca um eterno jogo de gato e rato, em que nós pescadores queremos saber o que se passa com a nossa isca, se algo a está a tocar mesmo que ao de leve, e o peixe que, obviamente, percebe a resistência estranha que aquela “comida” oferece. E recusa, afastando-se. Em suma, nós queremos saber se o peixe está lá, mas não queremos que ele saiba que nós estamos do outro lado. 

Na verdade, se pensarmos a pesca pela perspetiva do peixe, chegamos à conclusão que o peixe pica porque tem medo. Após morder a isca, sente que existe uma linha, algo que o impede de prosseguir a sua marcha, que lhe vira a cabeça, e isso não é natural. Os estralhos são curtos porque têm de o ser, e numa fracção de segundo o peixe tem a linha esticada. A sua marcha é interrompida. E essa sensação de que algo está errado faz com que tente afastar-se do local. Isso é a picada! É isso que sentimos, em diferido, porque quando notamos na ponteira da cana que algo está a acontecer, o peixe, que está dezenas de metros abaixo, já não está na mesma posição. Queremos é que ainda mantenha a isca na boca, para podermos ferrar! Se a nosso ponteira for muito rígida, a quantidade de toques perdidos é percentualmente muito alta. Sendo macia e vibratória, temos mais chances, mais tempo, porque o peixe “aguenta” a isca na boca. E é aí que ter uma ponteira SMT faz diferença. Vimos acima a questão dos passadores AGS. Aqui é a ponteira a ser decisiva. 

Vamos ainda ver outros componentes, os quais, todos em conjunto, nos ajudam a conseguir ter sucesso. 

 


X45 - O conceito X45 da Daiwa é um processo de alta tecnologia de fabricação que consiste basicamente na sobreposição de três camadas de fibras de carbono em espiral, com diversas orientações e espessuras. 

A este enrolamento de fibras corresponde uma resistência e elasticidade acrescida, qualquer que seja o angulo em que a cana é solicitada. Por estranho que vos pareça, os nossos lançamentos e também os peixes têm a capacidade de obrigar as nossas canas a esforços muito mais complexos do que aquilo que nos parece. Quando estamos a lutar com um peixe, nem temos tempo para pensar nisso, mas se conseguirem, de uma forma fria, raciocinar sobre os esforços de torção aplicados à cana, laterais, longitudinais, etc, vão ver que as nossas varas sofrem imenso. 

Por outras palavras, trata-se de produzir canas que têm uma capacidade de retorno à forma inicial, à cana em posição neutra, ou posição de “não stress”, que supera em muito aquilo que se conhecia até aqui. E isso é muito importante. Ter uma cana plástica que “pinga” apenas com o seu próprio peso, é ter de lutar com os peixes e lutar contra a cana. Já é suficientemente difícil conseguir enganar os peixes, deixemos o nosso material jogar a nosso favor.



Nanoplus - A nanotecnologia é uma ciência que se dedica ao estudo da manipulação da matéria numa escala atómica e molecular. Permite construir estruturas a dimensões muito reduzidas, na ordem dos 1000 a…1 nanómetro. Seria uma questão de tempo para esta engenharia de materiais até chegar à construção de canas de pesca. A nano tecnologia Toray, adoptada pelas fábricas Daiwa, permite construir canas muito densas, sem espaços vazios, sem pontos frágeis. Recorrendo a fibras de carbono muito finas, de alta qualidade, e preenchendo os mais ínfimos espaços na sua colagem, isso densifica o produto. O que esta tecnologia traz de novo é que ajusta resinas ao espaço a ocupar, ao nível do nanómetro. Isso permite construir varas de ultra alta densidade, muito compactas, mais sensíveis, mais finas, mais leves e mais resistentes. 



V- Joint - Trata-se de uma tecnologia aplicada às junções de canas de carbono, quando constituídas por mais de um elemento. Os tempos modernos induzem à deslocação de pessoas em férias, sobretudo via aérea, e isso implica o transporte de equipamentos de pesca. 

Os fabricantes procuram ir ao encontro das necessidades de quem viaja, e que passam por ter canas fiáveis mas com duas ou mais secções. E aí, a questão da qualidade das juntas é fundamental. Não queremos estragar as férias porque ficámos duas semanas numa ilha, sem poder pescar, à conta de uma cana que partiu ao primeiro lance. E é aí que fábricas como a Daiwa mostram toda a sua sabedoria, produzindo canas travel seguras, com qualidade. Canas que não nos vão deixar mal depois de termos gasto uma enormidade de dinheiro em férias. 

A sua divisão de engenharia de componentes produz ideias para solucionar estes problemas, e neste caso, o V-Joint não é mais do que um enrolamento de carbono a 45º, especifico para esta parte da cana, que melhora a curvatura e acção desta, aquando da compressão por acção do peixe, ou enrocamento. Depois de deixar de ser solicitada, o sistema V- Joint reconduz rapidamente a junção de cana ao seu formato inicial. 



3D Cross - Trata-se de uma construção melhorada, feita a partir de orientações multidirecionais de fibras de carbono a 60º, em três eixos, os quais permitem uma estrutura de fibras em hexágono, com o objectivo de lhe aumentar a potência. Concluíram os cientistas que esta seria a forma correcta de dispor uma folha de carbono no sentido de obter a maior estabilidade da forma, e uma maior força restauradora de posição, factor em que a rigidez do carbono é de suprema utilidade. A cana fica preparada para responder a esforços feitos sobre todos os ângulos possíveis, de todas as direções, reagindo positivamente. Todas estas tecnologias visam, para além de tudo, uma maior resistência à compressão, e um mais rápido retorno à posição zero. 



Air Sensor Seat - Os porta-carretos são elementos fundamentais no êxito de uma acção de pesca. De nada adianta uma boa vara, sem uma perfeita junção cana/carreto. As marcas perdem milhares de horas a estudar a melhor forma de desenhar esta importante peça. Cada vez mais ergonómicos, mais leves, mais sensíveis, cada vez mais perfeitos. Quando em combate, este elemento não pode falhar, não pode ser um factor de preocupação.   


Ainda que sem tradução, podemos tentar visualizar este filme, para que consigamos entender em que “mundo” vive um engenheiro de produção da Daiwa, que na circunstância fala de um modelo de cana Shot Viper, a versão mais curta, a 210. A que tenho é a cana de 2,25 mts. 

Descontem a natural exuberância dos japoneses, que se divertem mesmo muito a pescar. Falam muito alto, por vezes gritam, mas acreditem que é gente que sabe fazer pesca a um nível muito alto, ao qual nós só agora começamos a chegar. Eles sabem muito disto, inventam técnicas e materiais, e pescam a valer. O que dizem? Em tradução rápida, “en passant”, algo como: “esta cana concebemo-la para a pesca de peixes com algum peso, até 15 kgs, os yellowtails, os lírios, bem como outras espécies que vivem relativamente perto da superfície, e também para pesca muito profunda, a espécies de menor tamanho, mas cuja pesca obriga à utilização de chumbadas de peso significativo. Digamos que em Portugal fará muito bem a função de uma cana para pescarmos com carretos elétricos a profundidades que nos são comuns, 120/200/250 mts. O objectivo é termos uma cana parabólica que amorteça a pancada do peixe, que não o deixe rasgar a boca antes de chegar à superfície. Uma cana dura, rija, faz perder uma infinidade de peixes. Esta não.  



Aqui, temos a mesma cana, mas na versão longa, a ser utilizada com chumbadas muito pesadas, a peixe de grande profundidade. O que poderíamos fazer ao nosso cantaril, boca negra, goraz. Reparem em alguns detalhes importantes, como a aplicação de suportes de canas nos barcos, da marca Daiwa, (vamos tê-los em stock muito brevemente em Almada), e a reduzida quantidade de pescadores a bordo. Não é possível fazer pescas profundas com …vinte pessoas a lançar para o mesmo sitio. Voltarei a este assunto. Também gostava de vos chamar a atenção para a importância da vela que podem ver na rectaguarda dos barcos. Serve para impedir a embarcação de virar o bordo, em dias de vento. Desta forma mantém-se direita, permitindo pescar quer com a técnica de fundo com isca orgânica, quer com jigs. 

 


Aqui temos a aplicação da cana para um tipo de pesca mais acima na coluna de água, mas a peixe maior. De notar que pescam com a cana Daiwa Shot Viper e um carreto eléctrico Seaborg 500 MJ. Existem algumas unidades em Portugal, vendidas pela loja GO Fishing de Almada. Estes conjuntos valem dinheiro, mas se bem tratados, duram muitos anos. Se pertence ao leque de pescadores que ao chegar a casa não limpa a sua cana, não lubrifica o seu carreto, então abstenha-se de comprar material deste nível, não é para si. 




Podemos analisar em concreto aquilo que é possível fazer com uma cana como a Daiwa Shot Viper M- 225-SMT, para ficarmos com uma ideia daquilo que é possível pedir-lhe: 

Se pescamos a 100-150 metros de fundo, e temos cardumes de peixe por baixo, queremos uma cana que nos proteja do efeito negativo de rasgar peixe atrás de peixe. Cada um desses peixes que retorna abaixo ao cardume, será um factor de stress e negatividade para todos os outros. Para isso, queremos ter uma cana que nos faça “aproveitar” muito bem as nossas capturas, que as traga à superfície. Temos várias condicionantes, e somos forçados a ultrapassar cada uma delas. Vamos aflorar aqui esta questão: 

Porque pescamos fundo, necessitamos de um chumbo que vença a distância num espaço de tempo aceitável. Já reduzimos o diâmetro da nossa linha ao mínimo aceitável, para evitar atrito, já reduzimos a baixada para dois anzóis, para oferecer menos resistência à descida, mas ainda assim temos corrente e por isso há que trabalhar com uma chumbada de 250 gramas. Já é um peso considerável! Ao chegar ao fundo, deixamos assentar o chumbo, e passamos a ter a cana na sua posição de pesca normal. Há quem levante a pesca um pouco, dois ou três metros, para evitar safios e outros peixes de fundo, como a pata-roxa, mas isso irá forçosamente limitar a sensibilidade da cana, que fica obrigada a suportar a carga do chumbo, e tira-nos a isca do sitio onde o peixe grande gosta de a encontrar: no fundo. Por outro lado, deixa-nos a pesca num nível acima do fundo, e por isso, mais próximo dos irritantes e persistentes carapaus. Assim sendo, pescamos no fundo e ponto final.  

Quando tratamos de peixe a sério, que engole a isca e nos dá um sinal fácil, a questão está resolvida de per si. Mas isso não acontece sempre. Quantas vezes temos outros peixes de fundo que nos apoquentam com as suas intermináveis picadas “ miudinhas”…e temos de ser nós a ferrá-los. Por isso, é bom contar com uma ponteira SMT, que nos dá os toques com muita precisão. Digamos que a comunicação de picada do peixe que morde a nossa isca, é facilmente visível e entendível a muitos metros de distância.

O acto de ferragem já envolve em si algum esforço. É o momento em que queremos ter uma vara rígida, para imprimir força e velocidade de subida à baixada. Também, em caso de êxito, seria bom podermos levantar o peixe do fundo, que pode ter rocha ou corais cortantes, e que pode danificar a nossa linha. Sabemos quase de imediato se temos um peixe grande ou não, pela curvatura da cana. O peixe tenta afundar, encostar à pedra e libertar-se daquela estranha sensação de prisão. E nós queremos que ele suba. A força da cana neste momento é fundamental para retirar o peixe do seu sítio. Nós atacamos e o peixe defende. Ao bloqueio de pulso, braço, ombro do pescador, e ao levantamento da cana a 45º, corresponde uma força de tracção do peixe, que tenta firmemente baixar. Mas a nossa cana tem reserva de potência suficiente para o içar um pouco. E aqui já temos duas componentes algo divergentes, numa só cana: sensibilidade e poder!


Esta é a vara de que vos falo, a qual existe em 2,10 e 2,25 mts. Vejam abaixo alguns detalhes da sua construção. São pormenores subtis, mas que em acção de pesca fazem muta diferença. 


Se é confortável ter uma base de apoio em borracha que não nos magoa a cintura ou o abdómen, também é bom saber que o porta carretos é muito robusto e não nos vai deixar mal. É consolador saber que os passadores não irão acusar sobreaquecimento se ferrarmos um peixe grande e tivermos de o trabalhar, ou ainda que o cabedal sintético do grip da cana é preparado para não absorver cheiros de isca podre. Esta cana é um portento de tecnologia. 

    


           

Espero que tenham gostado. Vou voltar a este assunto, porque me parece que é de todo o interesse analisar cada um destes detalhes de per si, e trazer a este blog mais informação, mais conhecimento. 

Para publicar fotos com baldes de peixe já anda por aí muita gente…



Vitor Ganchinho




4 Comentários

  1. Mais uma vez é de salutar todo o vosso esclarecimento acerca destes assuntos, que infelizmente não temos muito quem nos preste este serviço de informação e de tão boa qualidade.
    Fico sempre expectante e surpreendido, continuem assim.
    Obrigado e um grande bem haja.

    ResponderEliminar
  2. Bom dia Vitor,

    Hoje ao fim da tarde, irei à Go Fishing e adquirir o material que ainda me falta, para finalmente dar os primeiros passos nesta vertente de pesca, do qual tanto me tem fascinado.

    Para isso muito tem contribuído este blog e a sua sempre disponível e incansável ajuda.

    Muito obrigado!

    Abraço,
    A. Duarte

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    Respostas
    1. Boa tarde António A Helena está lá e pode ajudar. Estamos aqui para marcar uma diferença muito grande em termos de informação e transmissão de conhecimento. Fico feliz por ser útil.


      Nota: cheguei agora do mar e estava impecável! Deu para ferrar uns robalos, uns lirios, uns pargos ( parece impossível, mas em Julho ainda andam por aí uns pargos das Canárias!!!) e o resto que aparece sempre, os carapaus, as sardas, etc. A minha filha fez uma choupa grande, e alguns carapaus e cavalas, com jigs de 20 gr. Fico sempre feliz quando ela ferra uns peixes bons, pese embora o interesse dela vá mais para os golfinhos. Mas ela tem 11 anos...


      Abraço
      Vitor

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    2. Nota: eu ainda vou aprofundar um pouco mais estes detalhes, porque me parece que seria importante saber um pouco mais fundo sobre o tema da construção das canas.

      Neste momento estou sobrecarregado com saídas de mar, ( 3 saídas de pesca em 3 dias..!), mas logo que possa volto a este assunto.

      É só uma questão de tempo.



      Abraço
      Vitor



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