A sazonalidade de alguns tipos de peixes

As estações do ano passam e com elas sentimos a chegada de diferentes peixes à nossa costa. Os pesqueiros são os mesmos, as pedras são as mesmas, mas as espécies mudam de acordo com factores que influenciam decisivamente a sua permanência. Falamos de temperaturas das águas, de ventos, de correntes. Tudo isso atrasa ou acelera as chegadas e partidas das diferentes espécies. Haver ou não haver este ou aquele alimento, mesmo para pequenos peixes que nem consideramos em termos de pesca, limita a existência da cadeia alimentar que estes geram, e pode retardar a chegada de peixes que objectivamente nos interessam, que fazem parte daqueles que procuramos afincadamente durante as nossas saídas de pesca.
Isso é válido para toda a coluna vertical de seres vivos, desde a mais simples sardinha aos super-predadores. Se não estão criadas as condições, os peixes não podem cá estar.
Também as temperaturas das águas jogam um papel decisivo, quer em termos alimentares, quer em termos de reprodução, pois ambos os factores estão interligados. Como de resto está tudo, a natureza é feita de ciclos perfeitos.


Tenho ferrado robalos com princípio de ovos, com as gónadas desenvolvidas, em meses que não seria pressuposto isso acontecer. Mas está a acontecer. O jig é um Zeake, japonês, de um realismo a toda a prova, e que apresenta resultados condizentes com a sua qualidade. Podem encontrar material deste na loja da GO Fishing Portugal, em Almada, e os pesos mais eficazes são os de 20, 30 e 40 gramas.


Os anos não são todos iguais. Aparecer comida não é algo de matemático, porque depende imenso de pequenos e insuspeitados factores.
Este tem sido um ano em que tenho vindo a detectar peixes ovados em alturas em que deveriam estar a recuperar de desovas já feitas. Falamos de muitos meses de atraso.
Se com temperaturas de água razoáveis para a época em que estamos, 18/ 19 ºC, já deveríamos ter por cá peixes como os lírios, os pampos, uma grande massa de cavalas, etc, a verdade é que continuamos a conseguir pescar os peixes de águas mais frias, como os pargos das Canárias, as bicas, que são peixes que normalmente só conseguimos em quantidade e qualidade nos meses de Fevereiro, Março, Abril. E eles continuam aí.
Mais que isso, aparecem exemplares ovados, três meses depois da época em que o deveriam estar.


Estes já cá deveriam ter chegado em força e apenas tenho encontrado cardumes ralos, de poucos indivíduos. Os primeiros chegaram em finais de Maio, e num momento em que já deveriam estar espalhados pelas suas zonas habituais de permanência. Não estão.


Tem sido um ano atípico, desde logo pela nossa impossibilidade de sair ao mar nos primeiros quatro meses do ano, devido a situações relacionadas com a pandemia covid.
Vamos ver qual a evolução da chegada de espécies, a qual determina, como habitualmente, a saída de outras. Isso continua igual, umas irão chegar, e outras partirão, como sempre aconteceu, como deve ser. O ciclo de permanência dos peixes nos nossos pesqueiros cumpre-se, é necessário, e é ele que determina a possibilidade de continuar a existir alimentação para todos.
Porque também tudo aquilo que lhes serve de alimento necessita do seu tempo para reproduzir. E este é um factor extremamente importante! As pedras precisam do seu tempo de descanso, de conseguir renovar os seus stocks de comida, que é como quem diz, de dar tempo a que pequenos microrganismos se consigam reproduzir. Aquilo que é aproveitado por umas espécies não o é necessariamente por outras, e é isso que permite que aconteça a regeneração do alimento disponível.


Agarrado ao meu anzol, veio um emaranhado de corais vivos, mortos, linhas de nylon perdidas por pescadores de aparelhos, etc. E vejam o que saiu de lá de dentro.


É muito comum que diversos tipos de minhocas se encontrem por baixo dos bancos de mexilhão, por exemplo. Todo o espaço que possa ser interessante para permitir a vida a estes anelídeos e poliquetas, é utilizado. Os nossos peixes encontram comida onde menos se espera. E chama alimento a coisas que à primeira vista não seriam de todo evidentes. Vejam abaixo:


Pequeno lagostim que encontrei na boca de um peixe. Tinha sido ingerido momentos antes, estava bem fresco.


De momento, os besugos estão “ovadíssimos” e deveriam ser deixados em paz, a cumprir aquilo que será sempre o momento mais alto do ano para esta espécie.
E sabem o que eles estão a comer? Provavelmente nem imaginam que seja possível, e por isso trago aqui algumas fotos.


Esta nunca iriam adivinhar. Trata-se de uma ameijoa miniatura, fotografada como foi possível, em ampliação máxima. Vejam a sequência abaixo.


O seu reduzido tamanho, não mais de 6 mm de comprimento, contrasta com a sua enorme importância, já que sazonalmente este tipo de bivalves é o alimento preferencial de colónias de besugos. Também numa época mais avançada do ano, os besugos entram ao estuário do Sado para procurar um tipo de búzio que lhes agrada a eles, e muito pouco a nós, já que os deixa com um sabor muito característico, e pouco agradável.


Ameijoa encontrada no interior do estômago de um besugo, pescado a 140 metros de fundo. É isto que eles andam a comer por aquelas profundidades.


A permanência dos peixes na nossa zona de pesca tem forçosamente que ver com a existência, ou não, de tudo aquilo que lhes possa servir de alimento.
É bom que não se subestime a importância destes pequenos seres, porque é deles que depende o sucesso, ou não, das nossas pescarias.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Bom dia,

    Também achei estranho ainda não ter dado com a presença dos nossos amigos pampos.
    Não acha que a temperatura da agua está um pouco abaixo, dos valores habitualmente encontrados para esta altura do ano?

    Abraço,
    A. Duarte

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    Respostas
    1. Olá António Já chegaram. O que se passou foi que andou uma traineira ao longo da costa, a fazer lances com redes altas, desde o fundo até à superfície, com umas centenas de metros, e levaram todos. O que deixaram foi meia dúzia deles, muito pequenos. Esta gente rebenta com tudo e é assim que conseguem viver. Como dizem os espanhóis; " um dia de fartura, doze dias de fome..."
      Não há nada a fazer.

      Em Sines há uns quantos, há pedras onde eles não conseguem meter redes....



      Abraço
      Vitor

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