Os deuses devem estar loucos...

Saí à pesca com o Luis Besteiro, o Paulo Rodrigues e o seu filho, Guilherme Rodrigues.

No meio de uma calmaria de deixar dormir, chegámos a uma das minhas pedras de pargos. O mar não mexia de todo, nem um centímetro. Água parada, e sem vento nenhum.

Pescar com artificiais implica procurar os peixes activos, lançar onde possa estar um potencial alvo. Podemos fazê-lo recorrendo a dois elementos que normalmente ajudam à deslocação do barco sobre a pedra: a corrente, que se pretende que exista, embora não demasiado forte, e na sua ausência, o vento, que também nos faz deslocar ao longo do pesqueiro. Mas não havia movimento.  

A pesca de jigging nestas condições torna-se um flagelo. Se o barco não se move, isso significa que estamos constantemente a lançar os nossos jigs no mesmo sitio. Dir-me-ão: “Mas nesse caso, basta mudar de sitio com o motor”… Sim, é verdade que sim, mas a pedra é bastante baixa e o ruído do motor coloca de sobreaviso os peixes que sei estarem em baixo, atentos ao que se passa. E o ruído do motor é algo que eles entendem muito bem. A quantidade de traineiras que passa por ali é grande, a pressão de pesca é muita e a barulho de motores correspondem redes e problemas.

O peixe grande sabe da música, por ser velho, e faz aquilo que deve fazer: fecha a boca e afasta-se. Mais difícil ainda é o facto de não haver corrente. O peixe deixa-se ficar encostado, em letargia, à espera de melhores condições para caçar. Eles podem esperar, mas nós não, precisamos de actividade porque o nosso tempo de pesca é limitado. Para nós, aquela ausência total de vento, veio comprometer-nos a pescaria. O plano B seria o de irmos tentar uns besugos, ruivos, pescadas, abróteas e algo mais, a uma zona profunda, mas o pão dos pobres quando cai, cai sempre com o lado da manteiga para baixo, na terra. Tanto azar como isto: na zona onde queríamos ir, estava uma fragata da Marinha Portuguesa em trabalhos de manobras. Obviamente fora de questão de lhes irmos dizer para saírem dali, que queríamos pescar naquele sitio.

Aos poucos, o efeito do estofo da maré passou, e a água começou a arrastar o barco da sua imobilidade enervante.  E os peixes começaram a aparecer. Não muitos, não muito bons, mas ainda assim as bicas e os robalos apareceram. O ânimo a bordo subiu um pouco, à medida que os peixes entravam nas caixas. 


Luis Besteiro com uma bica, a sua primeira com jig. Viria ainda a ferrar um robalo com o mesmo artefacto, um ALL BLUE casting jig, de 30 gramas.


Foi sol de pouca dura. À medida que a maré enchia, e com isso amentavam as nossas possibilidades e expectativas de pesca, também o vento começou a soprar cada vez mais forte. O mar encrespou, e isso ainda se aguenta, mas não aquela ventania desabrida que nos levava a reboque. A ponto de já não conseguirmos, nem com a capa de superfície, obter a mínima verticalidade das nossas linhas. 

Quando as condições são tão duras, só nos resta desmontar a tenda e voltar a casa. Recolhido o para-quedas, canas nos caneiros e o inevitável retorno sofrido, envergonhado, por não termos conseguido fazer mais do que alguns peixes de amostra. 

Mas algo aconteceu que viria, para mim, salvar-me o dia em termos de “acontecimentos insólitos”. Sabem que o blog vive quase exclusivamente disso, daquilo que é estranho e merece ser reportado. 

E aconteceu algo. Sendo a primeira vez que estavam a sair para pescar jigging, nenhum dos meus colegas se apercebeu que o Paulo Rodrigues levantou um estranho peixe no seu jig: uma sardinha!

Senti imediatamente que estava ganho o dia! Uma sardinha que se lança a um jig de 30 gramas da All BLUE?!!!! Grande Paulo!


Então mas isto agora são sardinhas aditivadas? Que raio de doping tomou este bichinho para se lançar de boca aberta a um jig?
 


Ei-la, em estilo, a fazer de contas que era um robalo, um daqueles de boca grande….


É verdade que uma sardinha não tem, até ver, o valor de um robalo. Mas robalos há muitos e de uma ou outra forma acabam por aparecer.

Já ferrar uma sardinha não acontece todos os dias, e é sempre um acontecimento. Calhou ao Paulo, no seu primeiro dia de jigging. Provavelmente não lhe atribuiu nenhuma importância. Certamente que achou mais graça às três bicas que fez naquele curto espaço de tempo.  Mas eu trocava e bem. 


Sinceramente, preferia ter sido eu a ferrar a sardinha, bem que a trocava por este vulgar robalo. O que eu dava para pescar uma sardinha com um jig…


Consigo imaginar-me a enviar a foto a amigos do peito que teriam de me dizer algo parecido com isto: “ Vitor, grande malha! Pesco há dezenas de anos e nunca consegui nada assim”….



2 Comentários

  1. Boa tarde Vítor,

    Dos dois peixes que já tive a sorte de fazer a trabalhar material de jigging, um foi uma garoupinha da pedra, com umas valentes 200gr e o outro foi.... uma sardinha!

    Estou a ver que ainda tenho salvação no jigging...


    Abraço,

    A. Duarte

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    1. Grande António Duarte! Pensava que o meu amigo já nem pescava, que estava dedicado a fazer o reboque de petroleiros para a Lisnave, no seu novo barco, o " Mudar de Vida". A remos...

      Pois este dia foi mesmo difícil, e na verdade pouco mais de 30 minutos de pesca tivemos como deve ser. Ou porque o mar estava parado, completamente parado, ou porque daí a instantes levantou-se uma ventania que se tornou impossível. Foi um dia estranho.

      Eu já pesquei uma sardinha, mas foi com isca, com...sardinha. Com os jigs nunca consegui.
      E se eu gosto de lançar os meus jigs para o meio dos cardumes de sardinha.....por baixo há sempre qualquer coisa de ...especial.

      Abraço
      Vitor

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