Peixes pelos...."cabelinhos"…

Os peixes mordem, mas não mordem todos os dias com o mesmo entusiasmo, a mesma vontade de engolir as nossas amostras, os nossos jigs.
Há dias em que somos forçados a desferrá-los recorrendo a um alicate, ou um desferrador, porque engolem tudo, de forma a que os anzóis ficam bem fundo, nas goelas.
Noutros dias, parecem fazer um “frete” nas tímidas dentadas com que nos brindam, e se muitos deles acabam por rasgar a fina pele da boca, e isso dá ao exemplar a possibilidade de escapar, noutras isso acaba por ser suficiente para, com muito cuidado, diria “com pinças”, conseguirmos concretizar a captura.
Para alguém habituado a estas andanças, é questão de um breve instante ver a forma como o peixe chega à superfície. É algo que se faz instintivamente, que resulta de muitos e muitos peixes que foram embora por acreditarmos que chegam à superfície sempre bem ferrados. Não chegam e por vezes depende mesmo de nós conseguir, ou não, ficar com eles.
Acaba por ser inglório perder um bom peixe por não termos tido algum cuidado. Isso acontece ao nível da entrada do peixe no barco, que pode ser feita utilizando uma rede camaroeiro, um enxalavar, ou não. Quando se trata de peixes de modesta dimensão, achamos sempre que não vale a pena. Mas quando são grandes, acaba por ser imperioso utilizar a rede como suporte e garante da captura.

Passo-vos algumas imagens de alguns peixes que chegaram acima mesmo pelos “cabelinhos”, e não fora a rede e teriam certamente rasgado e desaparecido nas funduras.


Pargo que mordeu muito mal: chegou mesmo por uma pele fininha….preso apenas por um dos anzóis. Pescado a sul de Sines.


Este pargo veio preso pelo anzol que vêem em baixo, pelo ressalto ósseo da face, e apenas tinha a ponta do bico espetada. Para não ir embora, e para a foto, foi colocado o outro anzol na boca. Trata-se de um pargo com cerca de 2.4 kgs, feito com um jig Xesta de 20 gramas, apenas com um assiste da Shout à cabeça.


Bica pela ponta do beicinho. Para estes peixes, um anzol triplo dá-nos muitas vantagens. O jig é um Shimano de 30 gr, armado apenas com uma fateixa Varivas.


Mais um caso de pargo pelos…cabelos. Aqui utilizei um assiste mais forte, da Daiwa, que aguenta estes meninos todos. É muito provável que ficando o peixe preso apenas por um dos anzóis, tivesse rasgado, ao aplicar a sua força para baixo. Na circunstância, foi feito com um jig de 30 gr, um All Blue na cor sardinha. À venda na GO Fishing Almada.


Um amigo brasileiro, que ferrou uma lula de 1 kg, mesmo por uma “pelinha”,  com um anzol simples que não chegou a passar a pele da lula, Esta veio mesmo pelos cabelos, e não fora a minha intervenção rápida com a rede por baixo e teria ido embora.


Nunca esqueçam que os nossos anzóis têm de vencer resistências importantes. Desde logo, a falta de peso de alguns peixes, que mordem com pouca convicção.
A seguir, porque alguns deles pura e simplesmente falham a bocada, não conseguem, ou por falta de condições de visibilidade no fundo, ou por haver outro peixe ao lado a lançar-se ao mesmo tempo e não houve possibilidade de ajustar a mordida, ou porque um outro peixe os desviou da boa trajectória, empurrando-os na última fracção de segundo. Também é verdade que os peixes grandes têm ossos mais grossos, mais difíceis de penetrar. E ainda pode acontecer que a mordida tenha sido boa, mas a posição dos anzóis no instante da mordida não era a melhor, e acabaram por ficar “espalmados” dentro da boca, em vez de conseguirem perfurar pele e carne. Por último, uma outra razão plausível: os anzóis bateram contra os dentes do peixe e não espetaram em lado nenhum.
Vejam abaixo um detalhe de uma dentadura de um pargo. Pode perfeitamente acontecer que o anzol não penetre….pode acontecer que o peixe venha “encaixado” no anzol, e que, ao debater-se à superfície, consiga soltar-se.
Não vamos deitar sempre as culpas aos assistes, ou aos triplos, porque estas coisas não são nem podem ser matemáticas. São como são.
Há horas felizes…..para os peixes e para o pescador, mas temos a responsabilidade de trabalhar este assunto, em terra, de saber mais e mais, para que o resultado na água seja o mais possível a nosso favor.
Eu utilizo assistes da Daiwa ou da Shout, e sinto-me muito confortável com eles, sinto-me seguro, já que consigo pôr a seco uma grande percentagem das picadas que tenho.


Os anzóis podem bater em zonas duras e não conseguir a ferragem...


Vai sempre soltar-se um ou outro peixe…e a reacção apenas pode ser uma: que bom, que bom que é um ou outro peixe ir embora e continuar a fazer a sua vida. Precisamos que isso aconteça.



Vítor Ganchinho


4 Comentários

  1. Boa tarde Vitor, obrigado por mais um artigo de luxo, bem interessante.
    Nos extremos da pesca é que percebemos a importância da qualidade do material.
    Com as canas que uso, certamente que teria pouca sorte com esses, principalmente as canas que devem manter a pressão ou os carretos que devem ter um drag bem afinado.

    Há um mês atrás perdi um bom robalo, perto da rebentação no cabo mondego, que me estava a dar boa luta. de repente, deixou de dar e percebi que torceu a fateixa da Rapala deep tail dancer e ganhou a liberdade com um piercing na boca.
    Deitei a perder um trofeu de um excelente dia de pesca, depois de me ter arriscado com o kayak na zona de rebentação, porque não troquei as fateixas da amostra.

    ... e os que fogem, são sempre os maiores!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa tarde Paulo Fernandes Isso é infelizmente muito corrente. Temos a considerar aí várias situações que funcionam em cadeia. A cana tem de ter reserva de potência, para que você consiga " mandar no peixe" quando precisa. O carreto deve estar muito bem lubrificado, para não bloquear quando é necessário que funcione bem. E aqui já temos duas situações distintas: uma que depende da sua compra, outra que depende do cuidado que dedica a seu material. A seguir, ainda temos a questão da linha, que deve ser suficientemente fina para lhe permitir lançar bem, e tem de aguentar os esticões. E a questão do chicote de fluorocarbono, que é pressuposto que seja suficientemente resistente. E no fim, a amostra, que, independentemente da sua cor, configuração, etc, tem de ser suficientemente robusta, quer em termos de construção, quer de armamento. Os triplos são muito eficazes, um peixe que morda uma fateixa tem muitas probabilidades de ficar irremediavelmente preso. Mas é pressuposto que tudo o resto funcione bem. Se algo falha a montante, a fateixa abre. E aí, a culpa pode não ser dela....é sua.
      Passa-se o mesmo com os assistes das amostras. Eu prefiro assistes, porque espetam um pouco melhor e têm a vantagem de conseguir firmar mais na boca do peixe. O peixe "absorve" a amostra e isso quer dizer que os assistes, porque são mais "flutuantes", mais leves e fáceis de deslocar por essa aspiração, tendem a ficar presos mais fundo na boca do peixe. Por outro lado tente pensar o seu triplo enquanto um conjunto de anzóis individuais e verá que na maior parte dos casos está a pescar com anzóis pequenos. Só lhe parecem maiores porque estão todos acoplados. Você olha ao volume total, mas não ao efeito prático individual. Mas um peixe que prenda apenas num dos ganchos, na verdade está em risco porque pode estar preso apenas por uma pele.
      Existem duas alternativas, duas escolhas que temos de fazer. No meu caso, quando as águas estão frias, prefiro pescar com triplos, porque tenho na minha zona muitas lulas grandes e bicas. E com triplo é mais fácil que fiquem. Quando tenho peixes muito grandes na pedra, o assiste impõe-se.
      Depois disto, ainda tenho algo mais a dizer-lhe: se tiver uma cana macia, pode baixar o tamanho dos anzóis, porque ela absorve os esticões do peixe, é mais elástica, caso contrário, se trabalhar com uma cana rija, rápida, só consegue sentir-se seguro com anzóis grandes.
      No meio disto tudo, há meios termos e formas de conseguir o melhor de dois mundos. Se comprar material bom, deixe aos fabricantes essas preocupações, e pesque, apenas.
      Mas os materiais bons são mais caros. No fim de tudo, chegamos sempre à mesma conclusão: uma cana cara na compra, torna-se barata ao longo dos seus anos de utilização, porque dá-lhe muito peixe extra. Por outro lado, se quiser comprar uma " pechincha" quase boa, ...vai ter de a amargar, ou seja, vai ter de perder por causa dela umas caixas de peixe. No seu caso, de...robalos.

      Entendido?!

      Abraço
      VItor

      Eliminar
  2. Entendido!.
    Só para esclarecer, eu pesco em kayak.
    Isto quer dizer que o material está sempre a apanhar banhos de agua do mar e não tenho muita apetência em comprar material de maior qualidade, mas tenho pena.
    Neste caso, a simples troca dos triplos da amostra e do anel, teria sido muito justificado.

    Já agora, a ficha tecnica fala em nº 4, mas no mercado só encontro nº 3 e nº 5 ... será que se justifica colocar nº 5?

    Abraço, Paulo


    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Só se justifica pescar muito forte mesmo se tiver robalos grandes na zona, com frequência.

      Em termos genéricos, as pessoas pescam mais forte do que o necessário. Porque insistem em fazer da pesca um exercício de culturismo. A questão não pode ser nunca ver quem tem mais força. Não é um de um lado e outro do outro lado a fazer força, cada um para seu lado.
      Aplique técnica. Deixe-os ganhar quando eles podem ganhar. E a seguir, .....meta-os no barco.

      Procure encontrar uma cana que lhe dê algum conforto, que lhe permita trabalhar esses peixes sem ter de se preocupar se algo vai partir. Com boas mãos, a maior parte dos peixes sai mesmo. Os acessórios muito fortes fazem-nos perder mais que ganhar. Eu pesco fino e acho que na maior parte dos casos já sobra. Quando aparece uma situação de maior aperto, recorro a outro argumento: a qualidade dos meus materiais.
      Estou agora a escrever um artigo sobre a resistência das canas, e coloco dois vídeos das minhas filhas, a pescarem lírios com jigs miniatura, de 5 gr. São peixes pequenos, de 1 kg apenas, mas elas apertam com eles ao ponto de as canas fazerem oitos com perninhas de noves, e...aguentam. Eu sei porque é que elas não têm dó das canas: primeiro porque sou eu que as pago, segundo porque eu ensinei-as desde miúdas a deixarem para os fabricantes as questões da resistência dos materiais. Elas só têm de se divertir, e de apertarem a sério com o material, porque ele aguenta muito. Daqui a umas semanas vai sair o artigo, vá estando atento, e vai ver o que elas são capazes de fazer com as ...minhas canas.
      Não ganho para comprar pastilhas de colocar debaixo da língua, daquelas calmantes.

      Há alguma coisa mais divertida do que ver as crianças a pescar,... com brilho nos olhos?...


      Abraço
      Vitor

      Eliminar
Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال