Pescar com jigs, ...ou vinis?

Sei da enorme relutância da maior parte das pessoas em mudar um milímetro a sua trajectória de pesca: pesca-se vertical, chumbada e anzóis por cima, porque é assim que todos pescam. E se é assim que todos pescam…

A nova geração de pescadores, com horizontes porventura mais largos, abertos por uma superior quantidade de informação que lhes chega através das novas tecnologias, adopta uma postura diferente, menos restritiva. Desde logo por conseguir ver os resultados obtidos noutras paragens, outros países, outros continentes, mas também aqui perto, no nosso país. E arrisca... experimentar.  

Nem sempre com os equipamentos adequados, nem sempre nas condições ideais, nem sequer com a técnica correcta, mas ao menos tenta. E os primeiros passos, como uma criança que tenta começar a andar, são difíceis, e nem sempre de resultados garantidos. Mas fica o “bichinho” porque há ali de facto algo que os faz acreditar que o método tem potencial. Até porque não é difícil que surjam alguns peixes logo no primeiro dia de pesca, e isso faz com que o artista fique… “ a pulga atrás da orelha”….. 


As bicas são completamente loucas por artificiais. Ainda mais com os vinis, mas os jigs também as desorientam por completo.


Depois de dado o primeiro passo no sentido do Light Rock Fishing, fica uma grande questão no ar: devo pescar com vinis ou com jigs metálicos?

Esta é uma questão que tem uma resposta muito mais complexa do que parece à primeira vista. O trabalho de hoje destina-se a ajudar quem começa a fazer LRF a tomar a melhor decisão, quando chega o grande momento: estou sozinho, tenho uma caixa cheia com amostras, dos dois tipos, e agora tenho de tomar a decisão por mim. O que é que lanço?...

Dou-vos a minha opinião, de quem pesca indistintamente com um ou outro tipo de amostras, sem preferência vincada para nenhum dos lados, sabendo apenas dos prós e contras de cada uma.

A minha decisão tem a ver com uma série de factores, e assenta em experiências anteriores. Vou dar-vos pistas, para que possam escolher, sabendo o porquê:  


Qual a profundidade a que pretendo pescar?


Sabemos que um jig metálico, de chumbo ou tungsténio, afunda mais facilmente que um vinil. A densidade da peça é diferente, a superfície de contacto com a água menor no caso do jig. 

Digamos que, sendo o critério apenas a velocidade de descida, à primeira vista o jig ganha. Mas há muito mais factores em jogo, o formato do jig ser mais comprido e estreito, ou mais curto e largo, (logo com mais sustentação na água), por exemplo. 

Também existem vinis fabricados para este efeito, os Sandeel Slug da Savage, diria “enguias finas”, que descem bem, e por isso vamos admitir que é possível lançar fundo um vinil, sem limitações de maior.

É perfeitamente possível lastrar um vinil com um cabeçote de chumbo, e eles existem de 1 gr, para pescas superficiais, até à situação extrema de 200 gr, para grandes profundidades. 

Podemos sempre optar por vinis com cauda bifurcada, lisa, ou mesmo tubular, os quais descem muito mais rápido que a cauda em pala perpendicular, os shads, que acabam por frenar a descida, deixando-nos desesperados por nunca mais chegarem ao fundo. 

São bons, mortíferos, mas foram construídos para pescar baixo, e não fundo. Tudo depende do formato do vinil. Os fabricantes têm várias ofertas para pesca profunda, e todos assentam no princípio de “pouca resistência” à caída. 

Daqui, e nas condições certas, na verdade não há vantagem imediata de nenhuma das partes. Se alguma das peças poderá ter ligeira vantagem, …o jig, sem dúvida. Assim, pescamos baixo com vinis, e mais fundo com jigs, por defeito.


A espécie que tenho como alvo tem dentes agressivos?


Se há casos em que um jig metálico tem prioridade absoluta, é neste: alguns peixes têm armações de dentes de tal forma agressivas que muito rapidamente destroem os nossos vinis.

Nem precisamos de ir para os famigerados pampos, “Balistes carolinensis”, uns vândalos que nos massacram os vinis deixando-os em farrapos. Até os sargos mordem bem e podem “decepar” os nossos melhores vinis. Peixes com bocas grandes, como o robalo, acabam por ser menos destruidores, mas ainda assim, neste aspecto, a vantagem cai para o lado do jig metálico. Podem vir esfolados, ( eu tenho alguns que já levaram centenas de dentadas, estão quase sem tinta, e continuo a pescar com eles…), mas chegam à superfície inteiros. Os vinis ficam muitas vezes cortados a meio, sobretudo pelos pargos ou atuns sarrajões. Vejam abaixo como os dentes de uma anchova deixam um vinil…

Vantagem dos jigs, pois então. Sem dúvidas. 






Com dentes cortantes como navalhas, as anchovas, mesmo minúsculas, são um pesadelo para o nosso equipamento. 


Os jigs armados com fateixas ou assistes duplos ferram melhor?


Não necessariamente. Digamos que por definição os jigs podem ser armados na cauda e na cabeça, com triplos ou com assistes duplos, e por isso, aparentemente seria mais fácil cravar um peixe do que utilizando um vinil com apenas um anzol simples, embutido no cabeçote. Mas não é pela quantidade de anzóis que o resultado é melhor. Pescam-se por esse mundo toneladas de peixes todos os dias com anzol simples. Creio mesmo que por vezes, a existência de dois anzóis encostados pode ser prejudicial para a cravagem profunda que se pretende, ao primeiro e único toque do peixe. Dir-me-ão: “mas os peixes vêm muitas vezes presos por vários anzóis e isso é uma segurança acrescida”…

O facto de chegarem cá acima com os dois ou mais anzóis cravados, não quer dizer que no fundo isso tenha acontecido assim. O peixe debate-se na subida para se libertar e esse esforço obriga-o muitas vezes a cravar anzóis, acidentalmente, que estariam soltos à partida. 

O que conta efectivamente é o primeiro toque, aquele que crava ou não crava, que prende ou não prende o peixe, e aí, o anzol simples tem vantagem por uma questão física: a potência da mordida e o peso do peixe aplicados violentamente sobre uma única ponta de aço afiada, podem conseguir uma cravagem melhor que o mesmo movimento, a mesma pancada, sobre duas pontas que trabalham em paralelo. Digamos que há uma divisão de esforço na absorção da violência do impacto. 

Façam um teste, tentem espetar um anzol simples no vosso dedo, ou os dois anzois juntos, e vão perceber que um anzol é bem mais perigoso… 

No fundo, é o princípio da eficácia de uma seta. Ter uma força aplicada sobre um ponto, com uma determinada energia cinética, (a haste de uma seta em movimento rápido com a sua ponta afiada), produz um efeito de penetração devastador. Mata uma pessoa. 

Mas um objecto exactamente com o mesmo peso, lançado com a mesma velocidade, mas com uma superfície de contacto muito larga, (uma bola de futebol), …não espeta. Bate e salta para trás. Grosso modo, este é o conceito. 

Logo, não há uma vantagem imediata em pescar com poucos ou muitos anzóis, embora seja do senso comum que seria sempre melhor ter…muitos anzóis. Pode não ser. 


Os vinis são mais atractivos para o peixe?


Verdade que sim. Numa situação extrema, de grande dificuldade de obtenção de picadas, aquilo que nos salva são os vinis. O movimento é muito mais realista, mais fluido, a imitação de uma presa natural é muito mais conseguida com as “borrachas” do que com os jigs metálicos. Peixes há que entram com a maior facilidade aos vinis, o caso das bicas, que são umas “parvas” a morder estas amostras brandas. Acreditam piamente que estão perante uma presa viva!

Também os pargos, as sardas, os sarrajões, e muitos outros, se lançam de corpo e alma aos vinis. 

O jig, basicamente, imita a caída de um peixe ao fundo. Já aqui vos falei das chacinas dos golfinhos e atuns nos cardumes de comedia. Os restos caem em folha seca e são muito bem aproveitados por todos. É comida fácil. 

Mas em termos de movimentação, nada chega à perfeição de um vinil. A natação de uma borracha, e mais que isso, as vibrações provocadas, nada têm a ver com os “toscos” jigs. Em termos de realismo, também os vinis ganham largamente. 

Vantagem deles, pois então. 

 

Raul Gil, com uma bica que entrou a uma sardinha de vinil, com um cabeçote de chumbo.

 

Um sargo velho que fez aquilo que por cá se acha estranho: morder num jig. Não tem nada de estranho, os sargos comem regularmente peixes pequenos.

 

Outra bica, que engoliu o vinil. Lançam-se destemidas, como se não houvesse amanhã…

 

Reparem que o anzol de cima, o assiste simples, é muitas vezes responsável pela captura. 


Mesmo que o triplo venha a prender o flanco, mas de verdade, aquilo que aqui traz à superfície o peixe é …o anzol à cabeça. 


Aqui têm a situação oposta: esta dourada prendeu pela fateixa, da cauda. Depende da espécie e depende da forma como é feito o ataque.



 

Situação que também pode ocorrer: peixe preso lateralmente, sem nenhum dos anzóis na boca. Muitas vezes acontece que nem era este o peixe a ter a dianteira no ataque ao jig, apenas estava a tentar competir com outro….e foi ele a ter o azar. Muitas vezes um cardume inteiro lança-se desabrido sobre um jig e vêm todos atrás. Já me aconteceu com robalos também. 


Outro sargo, a lançar-se a um jig. São muito mais malandros do que as pessoas pensam…


Os exemplos são inúmeros, podia passar-vos aqui uma imensidão de fotos. Recorro às do meu amigo Raul, para me poupar a ser sempre eu a aparecer com estes assuntos. Para além disso é um amigo que faz muitas fotos e por isso me abastece regularmente de fotos para o blog. 


Aqui uma lula, marca Savage, atacada por um pargo de grande tamanho. A dentada que lhe deu deixou o António Pradillo com falta de ar. Peixe pescado e libertado.

 

Foto de um vinil cortado a meio. O pargo arrancou a cauda ao vinil. Reparem que a montagem pode ser feita desta forma: coloca-se um tripo encaixado no anzol simples. O anzol de cima suporta a fateixa, (com um dos ganchos desta cravado no próprio corpo da borracha), que defende a parte de baixo do vinil. 


Na circunstância, …..o peixe ganhou, mordeu ligeiramente atrás dos anzóis…


Relação de custos entre jigs e vinis. O que fica mais barato?


Não há uma resposta directa e fácil. Os jigs são mais caros por unidade, mas resistem mais às investidas do peixe. Digamos que, grosso modo, um jig custa o mesmo que uma bolsa de vinis com seis peças. 

Mas também é verdade que os vinis se estragam mais, e por isso, tudo depende bastante da espécie que pescamos. Os fabricantes de vinis resolveram dar uma ajuda, e conseguiram uma cola que repara as peças mordidas. 

Com isso, parte do inconveniente da perda da amostra fica resolvida. 


Convém ter algum stock de vinis, e um tubo de cola.


Assim sendo, se o jig resiste mais, e podemos utilizá-lo por mais tempo, também o vinil tem as suas possibilidades. Mas convém saber que, por cada um jig que perdemos, isso significa o mesmo valor de seis vinis. 

Numa pescaria “rija” é natural perdermos dois a três vinis, estropiados pelos dentes dos peixes. 

Por outro lado o vinil permite uma apresentação mais realista, mais próxima daquilo que seria um peixe vivo, e por isso terá as suas vantagens. O que teremos a considerar, em termos gerais, é: 

- Profundidade do pesqueiro.

- Tipo de peixe a capturar e seus dentes. 

- Tipo de anzóis a utilizar. 

- Dificuldade de obtenção de picadas. 

- Custo das peças no seu fornecedor habitual.


Espero ter ajudado a tomar a … grande decisão, ou pelo menos dar uma noção de prós e contras de cada uma das amostras. A ideia era essa. 



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