É indiscutível que a pesca no nosso país está, aos poucos, a mudar.
A introdução de uma variante chamada tecnologia de informação, e falamos de Internet, uma cada vez mais acessível biblioteca de imagens e textos, está aos poucos a transformar o conceito de pesca vigente.
E por consequência, do pescador em si. O pescador português está efectivamente a mudar.
Podemos ter no nosso telemóvel, com a maior das facilidades e de forma gratuita, dados relevantes que nos ajudam a decidir melhor. Aquilo que era mantido no segredo dos deuses, os locais, as técnicas, os equipamentos, está hoje claramente visível, à distância de um click. Nunca foi tão fácil obter ensinamentos sobre pesca quanto hoje. E isso não é necessariamente mau, desde que as pessoas saibam destrinçar o trigo do joio, que é como quem diz, separar a boa da má informação.
Temos de tudo.
Se é verdade que aparece gente a mostrar, a explicar, com exemplos concretos e reais, fidedignos, também aparecem artistas que apenas procuram um pouco de protagonismo, alguns segundos de fama. Ficam por aí porque se esgotam de recursos muito rapidamente.
Procuram enaltecer feitos próprios que são antes de mais meros e fogazes momentos, pouco terão a ver com conhecimento profundo, e em termos de comunicação acabam por fazer mais mal que bem.
Parece-me ser de limitar a exposição pública de esteiras de peixes alinhados no chão, ou num qualquer lava-loiças de apartamento, com algumas dezenas de peixes de uma determinada espécie. Isso não pode fazer bem à pesca.
Não é essa a imagem que queremos dar de uma actividade que pretende ser uma boa forma de passarmos os nossos tempos livres. Ao expormos baldes cheios de peixes mais não estamos a fazer que acicatar os ânimos dos detractores da pesca enquanto modalidade de natureza, de ocupação do pouco tempo que nos sobra. Há muita gente a querer acabar com a pesca. As imagens de chacinas de douradas ou sargos pescados em momentos de extrema fragilidade, durante o seu período de desova, pouco ou nada ajudam a criar uma aura de desporto responsável. Basta que apenas um pescador afortunado na pesca mas pouco feliz na sua comunicação com os amigos espalhe nas redes sociais uma foto e uma frase, e temos milhares de pessoas a pensar que é urgente acabar de vez com o massacres de peixes. Uma simples foto a correr no Facebook, no Instagram, pode fazer muito mal, e não adianta que muita gente, (na qual obviamente me incluo), procure dar uma imagem de pesca responsável e sustentável.
Acaso aqueles que se expõem a si e aos seus baldes de peixes pensarão que os outros não os pescam? Será que a pesca só lhes corre bem a eles e não aos outros todos? Aqueles que publicam UMA FOTO COM UM PEIXE, apenas fizeram essa captura? Ou terão feito mais mas… têm um maior sentido de responsabilidade?
Um melhor pescador precisa-se.
Vem aí uma nova geração de pescadores mais informados, diria mais cultos, que têm do fenómeno da pesca uma visão mais técnica, mais abrangente nas suas diversas possibilidades, a praticar diferentes variantes de algo a que genericamente chamamos de pesca.
A Internet não será alheia a isto. A quantidade de informação que hoje é disponibilizada vai mudar o mundo, e também a pesca, de forma radical. A próxima geração tem ferramentas para ser muito melhor que nós. Assim tenham peixe para pescar.
O conhecimento que está disponível hoje é indiscutivelmente maior que aquele que existia há umas dezenas de anos atrás. Sabemos em tempo real de que forma se pesca em França, nos Estados Unidos, no Japão.
E podemos ter a isso dois tipos de reacções: copiamos o que outros fazem, e ficamos por aí, ou entendemos aquilo que estamos a ver, pensamos e tratamos de criar um estilo próprio, adaptado às condições reais de mar e pesqueiros que temos à nossa frente.
Copiar aquilo que é feito do outro lado do mundo pode gerar equívocos, porque os peixes não são os mesmos, não vivem no mesmo tipo de habitat, e por isso podem ter reacções diferentes a situações idênticas de profundidade, visibilidade, pressão de pesca, etc.
Adequar os nossos equipamentos ao tipo de peixe procurado, permite a obtenção de melhores resultados. Na verdade, dá-nos acesso a peixes que apenas suspeitávamos poderem estar nos locais que sempre frequentámos. Muitas pessoas pescam de forma errada nos sítios certos. E por isso não conseguem obter as picadas dos peixes que afinal sempre estiveram debaixo do seu barco.
Se lançarmos uma minhoca a um peixe que não come minhocas, mas sim peixe vivo, é natural que ele passe ao lado e que apenas deixe um traço de uma fugaz passagem pela nossa sonda. Entender em que habitat estamos, o que está o peixe a fazer, o que está a acontecer lá em baixo nesse momento, ajuda muito a tomar as melhores decisões. No fundo, saber ler o mar.
Apostar em equipamentos ultraligeiros permite-nos obter emoções fortes mesmo com peixes que não saem do tamanho standard, aqueles que sempre pescámos de forma tradicional. Um peixe de 5 kgs pescado com linhas grossas é uma captura inferior em termos de emoção a um peixe de 2 kgs obtido com linhas muito finas.
Pescar grosso é arrancar peixes do fundo, à força. Todos sabem fazer isso.
Pescar fino, permite-nos explorar as qualidades dos nossos equipamentos ao máximo, exigir de nós próprios uma quantidade de recursos técnicos que um pescador a sério tem forçosamente de ter. Pescar fino obriga-nos a ir ao fundo da alma encontrar saber e recursos para enfrentar a situação. E isso é a pesca no seu estado puro, é a emoção, a incerteza.
É para isso que nos levantamos cedo, para viver essas experiências.
Em Portugal, penso que estaremos neste momento a iniciar uma fase de transição, de uma pesca artesanal, de objectivo claramente extractivo, para uma pesca mais selectiva, mais sustentável, em que o lance é mais importante que a quantidade de peixe capturado. Em que se procuram as emoções mais do que os muitos quilos de peixe para comer.
Mas todo este processo vai levar tempo…
Vítor Ganchinho
Vitor,
ResponderEliminarNão tenho duvidas que este é o caminho e o futuro! Para isso são necessárias pessoas como você e os amigos que acima refere!
Um bem haja, para todos os contribuem para que isso possa ser uma realidade futura!
Abraço,
A. Duarte
António, a próxima geração vai ser muito melhor que nós. Eles têm acesso a informação que nós nunca sonhámos vir a ter....
EliminarO seu filhote vai ser melhor pescador que o pai e tenho a certeza de que o António Duarte vai ficar muito orgulhoso nisso. Estou seguro de que lhe irá cair uma lágrima no dia em que o seu filho fizer à sua frente aquilo que a nossa geração não é capaz de fazer. O mundo está muito mais aberto hoje, os miúdos sabem mais. Podem é não ter a genica que tínhamos na sua idade, porque nós corríamos na rua e atirávamos pedras, e eles clicam no telemóvel.
Em frente com os novos!