Alguns aspectos importantes a considerar na compra de uma cana

Já tivemos aqui no blog alguns artigos técnicos que afloravam a temática construção de canas de pesca. É meu entendimento que existe uma lacuna de informação quase total sobre um tema que é da maior importância, e por isso voltamos a ele.
O que vamos analisar hoje é, para mim, suficientemente importante para lhe dedicarmos um dia do nosso blog: a composição da cana relativamente ao teor de carbono, tecnologia de construção de ponteiras, sistema de produção e aplicação de passadores, conformidade com sistema Haris, etc.
Vamos ver alguns detalhes que nos interessam quando compramos uma cana de alta qualidade.

Teor de carbono: as canas de pesca não têm na sua composição apenas carbono. Seriam leves sim, mas quebradiças e virtualmente inutilizáveis. A composição mais corrente é de um composto de carbono misturado com fibra de vidro.
Sabemos que o carbono é leve, sensível e muito duro. A principal característica da fibra de vidro é ser suave à flexão, progressiva e ter uma resistência extrema à quebra.
Logo, quando se lê numa etiqueta “alto tear de carbono”, aquilo que estamos a ler é algo como “ fizemos esta cana com carbono, mas também colocámos outros produtos…”. E não vem mal ao mundo a partir daí. Também não se deve deduzir que muito carbono é igual a produto bom e caro.
Os fabricantes tentam fazer canas com o melhor equilíbrio possível, entre a fibra de vidro e o teor de carbono. Na minha opinião, enquanto utilizador, 80% carbono e 20% fibra de vidro, é uma boa relação. Aquilo que torna o produto excelente é a qualidade desses dois componentes, e não um deles só por si.
Boas canas exigem que ambos sejam de boa qualidade. E a seguir, o trabalho de fabricação, onde a tecnologia de fibragem é muito importante.




O conceito SMT: Esta sigla significa Super Metal Top e é um exclusivo da Daiwa.
Sabemos que o carbono é um material sensível. Mas a marca procurou ir além daquilo que já era feito em carbono, quis dar um passo no sentido de conseguir uma ponteira ainda mais sensível. E inventou o conceito SMT.
Uma das respostas encontradas pelos cientistas que trabalharam no projecto foi a de adicionar metal a estas ponteiras. Nesta sigla SMT, o Metal significa uma liga super elástica de titânio. O metal é muito macio, flexível, leve, mas a sua resiliência é bastante boa. e com isso conseguiram-se varas ainda mais sensíveis. Os peixes, ao morderem os nossos anzóis, não sentem nada de errado, nada de estranho, porque a ponteira não os pressiona. Mas os pescadores têm uma resposta imediata, sentem o mais pequeno detalhe da mordida dos peixes. No fundo, o melhor de dois mundos!
A Daiwa utiliza uma folha fina de fibra de carbono e fibra de vidro, e adiciona fios de titânio muito finos, filamentos de espessura inferior a um cabelo humano, e molda-os juntos, de forma a conseguir uma liga super reactiva. Para que tenham uma ideia, a espessura destes filamentos de titânio é de 0.025mm, ou seja cerca de metade do diâmetro de um cabelo humano.






O sistema AGS: No concreto, trata-se de um sistema de guia de ar, mais do que um guia da nossa linha. O Air Guide System é utilizado apenas em canas de qualidade superior. O seu ponto mais forte é o peso, extremamente ligeiro.
Também a sua sensibilidade é muito superior a qualquer outro sistema de guias de linha. Não esqueçam que nós sentimos na mão os toques dos peixes a partir da pressão que a linha faz sobre os passadores.
Da sua ressonância e capacidade de nos transmitir dados, depende a nossa capacidade de reacção. Com este conceito AGS, a Daiwa não produziu um passador de carbono, produziu um sistema de passadores de carbono.





A tecnologia X45 e 3DX: são duas tecnologias distintas, aplicadas sobre a tecnologia da construção e canas em carbono.
O 3DX refere-se a um processo de construção em que o carbono é tecido como um favo de mel. Esta estrutura, utilizada pelas abelhas para construir os seus ninhos, é extremamente resistente a esforços. Uma cana construída desta forma tem uma superior capacidade de resistir a esforços de tracção provocados pelos peixes sobre as nossas varas.
O X45 é um avanço tecnológico que vai para além do comum enrolar de fibras de carbono na horizontal (90º), e na vertical (0º), contra o topo da haste. A Daiwa colocou mais uma direcção, que são precisamente os 45º de inclinação das fibras. Com isso, conseguiu-se uma producto extremamente resistente à torção. E como as nossas canas são sujeitas a esforços de torção! A maior parte de nós nunca pensou nisto, mas os nossos peixes não poupam nos esforços de se libertarem, e acabam por conseguir colocar as nossas canas nas posições mais estranhas. Desde a flexão axial quando os arrancamos do fundo, até aos esforços laterais, já à superfície, de tudo acontece à cana. Nós estamos tão focados na captura do peixe que nem nos apercebemos daquilo que é feito, do trabalho incrível que é necessário fazer ao construir uma cana para que ela seja eficaz em qualquer dos seus pontos de flexão e tracção.
É um grande mérito da marca, ter pensado neste detalhe. Com isso, conseguiram uma maior precisão de lançamento, uma maior potência e sensibilidade, e ainda que a vara penda menos, que mantenha uma melhor resistência ao peso.

Ajuste Haris: ficou para último, mas não é menos importante. Concretamente este Haris significa algo como uma compatibilidade entre a linha e a cana. Não gosto da ideia de lhe chamar conformidade, porque não é disso que se trata. O conceito é outro e tem a ver com a relação de forças entre os diversos componentes da cana e a linha que lhe aplicamos. Chamemos elementos principais à cana, aos passadores, ao porta canas onde aplicamos o carreto. E chamemos elementos secundários à isca, aos anzóis, à chumbada, e à linha madre, normalmente um multifilamento, e à baixada de nylon, ou fluorocarbono.

Caso tenhamos uma situação em que a nossa linha tem uma carga de rotura superior à de qualquer um destes elementos, temos em mãos um problema bicudo para resolver. Tudo deve ter uma boa relação de forças. Podem pensar que é impossível que alguém se lembre de colocar numa cana frágil uma linha super grossa, mas vocês então sabem pouco sobre a natureza humana. A mim pedem-me na GO Fishing Portugal canas que deem para tudo! Não existe uma cana que pesque bem sargos e espadartes. Pedem linhas que sejam mesmo muito fortes, e eu sei que as irão aplicar em carretos de 12 euros, que inevitavelmente se irão desconjuntar ao primeiro esforço de um peixe grande. Esta gente nunca ouviu falar em compatibilidade Haris. Este conceito de ajuste certo de forças, esta correcta relação de forças é aquilo que irá proteger os nossos equipamentos de danos irreversíveis. Para cada cana há um ajuste óptimo de linhas. Dou-vos um exemplo: se numa cana de 20 libras utilizarmos uma linha de 35 libras, e um terminal, ou líder, de 50 libras, o que acham que irá partir primeiro? A cana, obviamente.
Uma linha muito forte, quer na madre quer na baixada, coloca em causa a capacidade da cana em suportar esforços máximos, que são possíveis à linha, (esta estará até possivelmente longe do seu limite de rotura), mas que não são possíveis à estrutura da cana. E parte!....
E alegremente continuamos a ter pessoas a comprar linhas “mande-me o mais grosso que houver aí…”….

O tempo das douradas vai chegar no início de Outubro. As pessoas vão começar a pensar nisso no fim de Outubro. O momento certo de definir quais os equipamentos que irão ser utilizados, é hoje.
Como de costume, ninguém vai fazer nada…mas há material específico para este tipo de pesca. A maior parte das pessoas desconhece-o. Vão pescar às douradas com o mesmo equipamento com que iriam alegremente pescar ao safio... o que faz sentido.




Elas vão chegar.



Vítor Ganchinho



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