Sobre a cultura japonesa aplicada à produção de artigos de pesca

É muito frequente que se fale em “fazer material de pesca”. As marcas são olhadas como simples fabricantes de produtos de pesca.
Este não é o conceito daqueles que, estando por trás daquilo que chega às lojas na Europa, pensam os produtos antes de eles serem enviados às unidades de produção.
Das conversas que tenho conseguido manter com algumas destas pessoas, aquilo que fica na retina é de que não se definem como “fazedores” de material de pesca, mas sim como CRIADORES de MATERIAL de pesca.
Não fazem, criam. Estas pessoas imaginam algo que nunca existiu antes, e criam coisas com a sua sabedoria, ideias e tecnologia. Os japoneses são essencialmente criadores, e são globalmente conhecidos pela sua capacidade técnica, de fazer bem feito.
Falamos de engenheiros que criam a partir do nada, e na verdade a maioria deles são perfeitos desconhecidos. De manhã à noite, pensam na evolução que conseguem aportar aos seus produtos, e é essa força motriz que faz com que as suas marcas sejam conhecidas em todo o mundo. Para um leigo, são carretos, são canas, enfim, são ferramentas de pesca. Para quem sabe o que está a ver, é tecnologia japonesa. Se é Daiwa, se é Shimano, ou Smith, DUO ou Gan Craft, ou Ticct, isso pouco importa, porque eles são todos muito bons. A capacidade de introduzir tecnologias é tremenda, e eles fazem isso num simples destorcedor. Inovam em materiais, em novas ligas metálicas, em carbonos, em kevlar, e fazem-no porque sabem que do outro lado da linha está alguém que irá utilizar isso com prazer, com conhecimento do valor que aportam a um determinado producto. Tenho a sorte de poder discutir com alguns destes engenheiros detalhes sobre as suas criações. E é todo um prazer ouvi-los falar horas e horas sobre…um anzol.




Produzir um carreto é algo de espantoso em termos de tecnologia. Como eles costumam dizer, o bom senso nestes casos é entendido como uma loucura. Aquilo que é desejado pelos pescadores vai muito para além do bom senso, e dos materiais que são previsíveis. Marcas como a Daiwa são obrigadas a ir muito para além do senso comum, são obrigadas a procurar desenvolvimento tecnológico e a desafiar-se a si próprias.
E é desse caldo de ideias absurdas que pode nascer algo que nos faça abrir a boca de espanto. E tudo para que os pescadores gostem efectivamente de pescar, para que sintam prazer em pescar.
Todos os materiais que hoje são incríveis e são olhados com admiração, amanhã serão obsoletos. Tudo porque alguém resolveu de novo pensar fora da caixa, alguém ousou desafiar os padrões do bom senso.
Todos os dias produtos de enorme qualidade são tornados obsoletos porque entretanto surgiu um cérebro que resolveu fazer uns riscos num papel branco.
Enquanto houver gente desta, e no Japão há muita, a fabricação de produtos vai continuar a evoluir. Toda esta obsessão por inovar é posteriormente copiada pelas fábricas chinesas, que roubam as ideias de quem as teve.




Desculpem o desabafo, é que hoje fui mais uma vez bombardeado com uma resma de fabricantes chineses, a oferecer canas a 6 euros, carretos a 8 euros, etc. Eles copiam e centram toda a sua estratégia comercial em vender …lixo barato.
O argumento é definitivamente o preço. E eu, logo por azar, estou do outro lado, do lado daqueles que não fazem, …criam.

Para entenderem o nível desta gente, vejam isto, mesmo que não tenham qualquer interesse em vir a ter um carreto deste tipo:




Vítor Ganchinho



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