E ...sobre outras formas de pescar?

Aos peixes, basta-lhes ser peixes. Vivem num estado de não consciência de si próprios, reagindo a estímulos primários de alimentação, segurança, reprodução. Isso é aquilo que nós pensamos que acontece.
As pessoas têm a noção do seu tempo limitado de vida, da necessidade de a viver enquanto seres pensantes. Sabemos que chegará o nosso momento. Até lá, ocupamos os nossos dias conforme podemos, e a pesca faz parte das nossa ocupações.
A pesca, enquanto actividade de lazer, pode ser um tempo de encontro connosco próprios. É um espaço que convida a pensar. Porque temos a possibilidade de decidir o que fazer, como e quando fazer, isso leva-nos para uma dimensão diferente dos nossos oponentes, os peixes. Eles estão sempre lá, e forçosamente são obrigados a enfrentar os dias maus, de tempestade, as águas frias. Nós podemos escolher não ir ao mar.
Mas quando vamos pescar, podemos fazer opções. Podemos pescar vertical, com um chumbo e dois anzóis por cima. Podemos fazer jigging, spining, corrico, tenya, Kabura, Sabiki, etc. Digamos que aquilo que resulta da opção tomada, é também um indicativo do homem que somos. Pessoas mais passivas, mais acomodadas se quiserem, optam por seguir os outros e fazem aquilo que tradicionalmente sempre deu resultados. Melhores ou piores, mas ainda assim, …resultados.
Mas, se é verdade que o homem é ele e as suas circunstâncias, ele e as suas possibilidades ao momento, também é verdade que há uma franja de pessoas que não se deixa espartilhar por estereótipos e inventa, inova, sai fora da caixa.
Não pesca desta ou daquela forma por ver pescar os outros, antes procura criar o seu próprio estilo.

O que vamos analisar hoje encaixa nesse conceito de inovação que tão necessário é e tão importante do ponto de vista de desafio pessoal que todos temos de sentir, de tentar vencer. A ausência de desafios torna-nos passivos, acomodados.
Acreditem que já me enfadei bastante por estar a pescar peixes fáceis, que mordem a cada lançamento. Torna-se aborrecido! O sentido de desafio difícil tem de estar presente, o êxito tem de ser conquistado, não oferecido.
Em circunstâncias dessas, de ter peixe disponível e fácil, dei comigo a tentar imaginar de que forma poderia tornar a tarefa de pesca mais difícil. E invariavelmente encontro sempre formas de conseguir exigir mais de mim do que lançar, enrolar linha e meter peixe na caixa.

Cada vez mais assistimos a uma diversificação de conceitos e técnicas novas. A alimentação dos peixes passou a ser mais e mais estudada e sabemos hoje muito mais que anteriormente. A técnica Tai rubber/ kabura encaixa nessa perspectiva.
Alguém a pensou um dia, e esse alguém é o sr. Yasuhiro Akazawa, um dos mais experientes pescadores japoneses.
Mas outros se perfilam, e de entre eles, um conseguiu sobresair pelas suas técnicas de pesca em mar aberto, longe da costa: o sr. Ai Tanaka, fundador de uma empresa de nome Jackall.
O método que vamos analisar hoje é designado de Dotera Bakubaku, e é um lançamento da Shimano. Trata-se concretamente de um sistema que procura dar resposta a uma grande quantidade de problemas de quem pretende pescar com artificiais, a uma dada profundidade, concretamente a velocidade de afundamento e a grande resistência à subida até à superfície. Quando pescamos fundo, sentimos que necessitamos de um peso elevado, para fazer chegar a nossa amostra a essas cotas longe da superfície. Mas por outro lado, os pesos são isso mesmo, são pesos e custam a levantar à força de braços. E para além disso, e porque o barco acaba por se deslocar com o vento e não permite a ambicionada verticalidade, acabamos por ficar com a pesca “espiada”, ou seja, com a linha muito oblíqua, a amostra muito longe do barco.
O método de pesca profunda de que vos falo veio dar resposta a isso. Foi testado na região de Kyushu, no Japão. Os japoneses pensam a pesca, meditam sobre ela, e criaram uma técnica que se baseia exactamente nisso, em pescar peixes com a pesca espiada! O barco é levado pelo vento e a corrente, e ….ainda bem que assim é! A linha acaba por ficar na diagonal, fazendo um ângulo muito aberto relativamente ao nosso barco e isso só ajuda a explorar mais terreno de pesca.
Foi então criada uma cabeça em chumbo, desenvolvida especificamente para este método de pesca. Quando questionado sobre as diferenças que o seu produto tinha dos restantes, respondeu:

_ “Trabalhei sobretudo dos pontos: Um deles, a velocidade de afundamento. É muito importante a quantidade de vezes que se consegue atingir o fundo do mar, em cada lance, sem ter de levantar e trazer o sistema à superfície. Por isso trabalhamos pesos desde os 80 aos 250 gramas, a programação é esta, um pouco focada nos pesos mais pesados, passe a redundância. Em segundo lugar, foquei a minha atenção na forma mais fácil de tirar o peso do fundo o mais rapidamente. Se queremos ferrar e o peso provoca muito atrito, se nos custa a levantar, se oferece demasiada resistência, não serve. Assim, adoptei um formato cujo centro de gravidade é baixo, que desce bem, sem perder o outro compromisso que é reduzir a resistência ao puxão, à ferragem. Neste método de pesca, o peso recebe vários tipos de resistências, desde a força da corrente ao peso intrínseco da peça, pelo que todos os melhoramentos contam. É muito importante controlar a resistência ao enrolamento da linha no nosso carreto. Fiz isso afiando a ponta de cima, criando um “nariz” estreito, que permite cortar a água facilmente. O enrolamento da linha passou a ser muito fácil, muito suave e a velocidade de descida faz lembrar um peso de tungsténio”.


A partir da esquerda: 001 Kutte Orange, 002 Marble Chart, 003 Keimura Purple, 004 Star Black, 005 Red Gold, 006 Rich Gold, 007 Orange Silva, 008 Green Gold.


Um total e 8 cores disponíveis, permite escolher a melhor opção em função da cor da água no dia da pescaria. Além do produto acabado, a cabeça também é vendida separadamente. Os tamanhos são 80g, 100g, 120g, 150g, 200g e 250g. A usar de forma adequada, de acordo com a profundidade da água, quantidade de luz, tipo de peixe forragem existente na zona, etc.


Já muito tempo depois de ter começado a utilizar este sistema, vim a descobrir que aquilo a que eu chamava de “olho” embutido no peso, era afinal um sistema luminescente, que emite luz no escuro. Para quem pesca profundo, a mais de 120 metros, é efectivamente útil, porque denuncia a sua presença aos predadores, numa faixa em que a luz começa a ser escassa.


Conseguir usar estas cores e suas combinações em função da hora do dia e da corrente que temos no local pode ser importante. Diz-nos o sr. Akazawa: _”Quanto às cores, acho que existem opções que podem funcionar melhor dependendo do local, da região em que pescamos, mas no caso do mar aberto, onde a maior parte de nós pesca, baseio-me em três cores: laranja, vermelho e verde. De manhã cedo começo normalmente com o laranja. Quando a quantidade de luz é baixa e a água me parece escura, muitas vezes mudo para um tipo de amostra mais chamativa, um tipo de peso mais brilhante. Quando me parece que o peixe está comendo junto ao fundo algo como camarão ou está a perseguir as bolas de sardinha, muitas vezes muda para o tipo vermelho ou dourado. Se o peixe está mais acima, por exemplo a caçar lulas, posso ser capaz de o pescar adicionando uma cabeça e saia de borracha na cor verde. Resulta muito bem."


O método de pesca Dotera distribui a linha de forma oblíqua e explora o fundo do mar lateralmente. O sr. Akazawa diz que é importante chegar ao fundo do mar e trabalhar a faixa mais junto ao fundo, onde trabalham os grandes predadores.


Sistema completo, montado com a saia de borracha.


Basicamente imita um polvo ou uma lula que se desloca na coluna de água. A cabeça é desenhada de forma a possuir um centro de gravidade muito baixo, a forma posterior arredondada dá prioridade a um assentamento rápido no fundo. Isso é muito importante já que a técnica de pesca é basicamente levantar o peso e voltar a deixar cair, em feitio de dente de pente. A ponta acima tem um formato de nariz estreito que serve para reduzir a resistência ao enrolamento. O peixe ataca o engano e fica preso nos dois anzóis que estão camuflados entre a saia de borracha de silicone. Esta pesca é feita à rola, com o barco solto, e preferencialmente em dias de vento, ou correntes mais fortes. Na verdade, naqueles dias em que as outras técnicas funcionam muito pouco…

Quando questionado sobre o número de vezes que o peso deve ser retirado do fundo, e quanta linha de carreto podemos dar, o sr. Akazawa diz-nos: “Desde que o fundo o permita, e a operação básica de levantar e baixar seja possível, podemos fazê-lo durante muito tempo. Podemos concentrar-nos sobre o ângulo de saída da linha da nossa cana relativamente ao fundo. A distância não nos incomoda, aquilo que limita é que quanto mais longa a linha que temos na água mais difícil se torna ferrar o peixe, mais pesado o sistema se torna. Não esquecer que estamos a trabalhar com correntes fortes. E há que contar com o peso dos peixes e com a corrente, aquando da sua recolha. Esse é o factor limitante. O factor humano é aquilo que limita o sistema. Se deixarmos sair 300 ou 400 metros de linha, podemos não ter força para a recuperar e necessitamos do auxílio do barco, a navegar contra a corrente. Antes disso, recolhemos e lançamos outra vez, parece-me o mais avisado”.


O enrolamento é feito através de um carreto de tambor móvel. A ponta da cana deve ser bastante sensível, embora o blank tenha de ser robusto o suficiente para aguentar com pesos até aos 250 gr.


Criar um estilo de pesca é algo que faz todo o sentido no Japão, país que está anos luz avançado em relação à Europa, e que por isso mesmo vai continuar a exportar as suas ideias e os seus equipamentos.


Os anzóis são extremamente afiados, e de tamanho reduzido, para que possam passar despercebidos. São também fortes o suficiente para pôr a seco pargos acima dos 10 - 15 kgs de peso. A boca do pargo é dura e uma vez cravado o anzol, não solta.
Estes anzóis são colocados muito próximo da cabeça pois os pargos gostam de morder perto da base de onde pendem os tentáculos das lulas ou chocos. É aí que está o centro nervoso, a cabeça.
Um dos anzóis, o mais curto, crava nessa altura dentro da boca do pargo, e o outro, mais longo, acaba por espetar por fora, em zona de osso, normalmente na queixada. Acaba por haver uma dupla prisão, por dentro e por fora. Isso reduz bastante o risco de desferragem do peixe.
As gravatas penduradas da cabeça ondulam à corrente como os tentáculos de um cefalópode. Isso é muito atrativo para peixes de bom tamanho.


O tipo de anzol preconizado pela pessoa que idealizou esta pesca. Este material está disponível na loja GO Fishing Portugal, em Almada, ou através da sua loja on-line.




Por vezes os pargos aparecem-nos à superfície com os anzois cravados apenas na pele do peixe. Mas quando estão dentro do barco, todas as ferragens são boas.


Este engenhoso sistema foi idealizado pelo sr. Yasuhiro Akazawa, um dos maiores experts de tai rubber /Kabura do Japão. A Shimano lançou uma série de modelos e de facto funcionam. A Daiwa seguiu também estes passos e lançou a sua própria linha. Funcionam, assim os saibamos utilizar. 


Pargos, garoupas e muitos outros peixes, entram a estes enganos. E também os nossos peixes o fazem, as douradas, os robalos, os pargos, para quem souber manejar e aplicar a técnica. Estranhos peixes se pescam com esta técnica, do outro lado do mundo. Quanto tempo irá passar até percebermos como pescar os nossos, aqueles que temos aqui à mão?


Mais uma ferragem bem sucedida.


Alguns conselhos de pesca: ao chegar ao local devem parar a embarcação e verificar a deriva que existe na zona. O vento, as correntes, empurram o barco e fazem-no deslocar de posição. Devemos esperar para ver que velocidade temos e escolher o peso em função disso. Há pessoas que têm muita pressa em lançar, até para o poderem fazer antes de outros. É um erro. Aquilo que deve ser feito é analisar em primeiro lugar a velocidade de deslocação, já que vai ser ela que irá determinar muita da nossa posterior acção.
Ao carregarmos na patilha de saída de linha isso já tem de estar interiorizado. Se há muita corrente, um pouco mais de peso pode ajudar, mas devemos pensar o peso mais em função da profundidade que da corrente.
Da mesma forma, se achamos que podemos pescar mais ligeiro, isso só nos traz vantagens. Podemos, no caso de correntes mais fracas, reduzir o peso. a cabeça de chumbo passa a ter um movimento mais natural, mais espontâneo. Para além disso, uma cabeça mais pequena tem a vantagem de poder ser menos agressiva em relação ao peixe, que a sente menos como uma possível ameaça. Também a escolha de uma cor certa nos pode dar mais alguns peixes. Fazer uma rotação de cores pode ser importante, até descobrirmos qual a que nesse dia e com essas condições pode funcionar melhor. Digamos que maximizamos as possibilidades de êxito se testarmos as possibilidades que temos na nossa mochila.
Sobre a técnica em si, é muito simples, é levantar ligeiramente e deixar pousar. Sempre com movimentos lentos. Aquilo que atrai o peixe é a ondulação das gravatas de silicone, e não o movimento rápido da cabeça.
É preferível levantar de quando em quando a pesca e voltar a lançar. Por algum motivo podemos ter algo enleado e assim recuperamos mais rapidamente a possibilidade de cravar um peixe.

Em termos de profundidades, seria bom começar a utilizar em cotas a partir dos 80 metros. A essa profundidade, os peixes estarão descansados, sem stress de barulhos feitos no barco, e disponíveis para atacar e comer.
Se achamos que estamos a levantar e a baixar a amostra no mesmo sítio, por falta de corrente e de deslocação, então devemos baixar ao mínimo o peso do sistema. E com isso, conseguir reproduzir em baixo aquilo que seria um movimento de um cefalópode.
Relativamente ao tamanho dos anzóis, é muito simples: se temos os pargos a comer de esticão, bruscos, a dar uma dentada apenas e a engolir, então devemos ir para anzóis um pouco maiores, que nos dão mais firmeza de ferragem. No caso oposto, de peixe desconfiado que morde mal, que apenas “babuja” as franjas da amostra, então a solução é escolher anzóis mais pequenos, que são mais facilmente engolidos pelo peixe. A leitura do comportamento do peixe é feita no dia, na hora.


Este pargo com 73cm foi pescado com um Baku baku de cor laranja, com o peso de 120 gramas.


A Shimano lançou canas específicas para este tipo de pesca: o novo modelo B66ML-FS de "Engetsu Extune" e o novo B610M-S de "Engetsu SS.
A diferença entre ambas é a seguinte: a B66ML-FS de "Engetsu Extune” é um modelo totalmente sólido, com uma ponteira mais suave, própria para peixe que morde delicadamente. A sua rigidez foi pensada para não dar ao peixe a sensação de desconforto de estar a puxar por algo.
É a cana ideal para situações em que a água está muito fria, e em que o peixe tem pouca mobilidade e reacção, em que está francamente difícil. Traz o sistema de punho X-Seat de que já vos falei. Estas canas são todas em duas peças, e por isso, mais fáceis de transportar.
A outra cana é um pouco mais rija, para situações em que o peixe morde mais intensamente, em que está mais agressivo.


Mais um pargo que foi vitima do sistema Tai Rubber.


Aqui têm as canas indicadas para este tipo de pesca.


Os punhos X-Seat são para mão direita ou esquerda e isso deve ser indicado no momento da compra.


Clique aqui para obter informações sobre o produto


A GO Fishing pode importar estas canas para quem esteja interessado.


Espero que tenha sido interessante para vós ficar a conhecer esta técnica.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Bom dia Vitor,

    Mais um artigo de excelência e com a habitual excelência nos seus conteúdos.

    Muitos parabéns a si e a todos os que tornam possível este blog!

    Abraço,
    A. Duarte

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    Respostas
    1. Bom dia António O objectivo é sempre o mesmo: divulgar, dar informação, tentar esclarecer.

      Estou convicto de que gente que sabe mais pode pescar mais.


      Neste momento estamos com águas um pouco tapadas, mas isto vai passar assim que der uma lestada forte, ou que venha o primeiro temporal com ondulação mais forte.

      Vai passar.

      Abraço
      Vitor

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