Por vezes recebo e-mails ou telefonemas de pessoas que me contactam porque pretendem pescar peixes grandes.
Penso que será transversal a uma grande maioria de pescadores, senão a todos, que se pretendam peixes adultos, de bom tamanho.
Pessoas que não têm a menor ideia de como conseguir peixes pequenos, não têm sequer um nível de conhecimentos suficiente para conseguir empatar um anzol e de repente, decidem ir pelos grandes. Porque serão porventura mais apelativos, porque serão mais mediáticos, porque podem ser mostrados aos amigos, por todas as razões possíveis e imaginárias.
A grande questão é que a maioria das pessoas não está preparada para enfrentar um peixe grande. Porque não tem conhecimento técnico de como trabalhá-lo, porque não sabe onde ir à sua procura, não está devidamente equipado, e porque, mesmo que por um acaso de sorte consiga estabelecer contacto, o irá inevitavelmente perder.
É minha opinião que se deve começar pelo básico, pelas capturas mais fáceis, para “criar mão”, para aprender a fazer e criar automatismos que no momento crítico de ter um bom peixe na linha, saibamos o que fazer, sem tremeduras, sem hesitações.
Essas pessoas que me ligam e dizem ”quero ir pescar um peixe grande”, deveriam dizer-me, “quero começar por aprender a fazer…”
Só aí, muito depois de darem os primeiros passos, poderão então ambicionar outros voos. Nenhum de nós começou por correr. Antes disso passámos as necessárias etapas, a gatinhar, a levantarmo-nos e cairmos de novo, até um dia em que nos saiu o primeiro passo. Aquilo que essas pessoas pretendem é correr antes de saber andar.
Conseguir um bom peixe é todo um trabalho de equipa. Começa nos fabricantes dos equipamentos de pesca, as canas, os carretos, as linhas, por quem fabrica barcos, motores, gasolina, passa pelos engenheiros que desenham as amostras, e termina na pessoa que sai de casa e vai ao mar. É muita gente envolvida, muitos meios alocados a um pretendido e auspicioso final feliz!
Procurar um bom peixe e ser capaz de o encontrar é resultado de muito trabalho feito em casa, muita pesquisa feita numa carta marítima, muita análise dos sites de previsões atmosféricas, muita preparação de material e testes.
Porque tudo tem a sua influência, e cada detalhe pode ser decisivo.
Quando pensamos em tudo aquilo que está envolvido num simples dia de pesca, chegamos à conclusão de que há uma enormidade de factores a influenciar um resultado final. Um peixe bom é apenas a parte visível do iceberg.
Muito do trabalho pode e deve ser feito em nossa casa, e passa por preparar aquele fugaz momento em que conseguimos fazer interessar um peixe bom pelo nosso isco. Esse click já é de si o resultado de um tremendo esforço de preparação.
E nada acaba aí, porque há que vencer as defesas desse peixe, que o conseguir puxar para cima. Não é com peixes grandes que se aprende, é com os pequenos, aqueles que nos é indiferente que nos escapem. Esses são o nosso banco de ensaio para os outros, os que nos deixam um frio na barriga.
Conhecer as espécies, saber onde e como vivem ajuda-nos a preparar a sua pesca. No mar há pouco lugar a improvisos, sobretudo quando nos surgem os grandes senhores do azul, peixes fortes que normalmente têm mais força que nós.
Capturar um destes peixes é quase sempre resultado de uma preparação cuidada, e pouco dada a “casos de sorte”.
Muita da gente que me contacta quer que eu lhes ponha um peixe grande na linha. E a seguir vai perdê-lo, porque não sabe o que fazer.
Alguns peixes com peso serão mais fáceis que outros, mas regra geral, devemos estar preparados, quer em termos de equipamento quer de conhecimento técnico, para um duro combate.
Saber fazer encurta o tempo de luta, e poupa-nos as costas e braços. Os peixes grandes fazem-se merecer.
Termino como comecei: o mar dá-se a quem sabe mais...
Vítor Ganchinho
Por vezes ficamos mal habituados, depois de ter a sorte ou não de apanhar um bom exemplar começamos a não dar valor aos pequenos pormenores e isso no futuro vai fazer com que tenhamos menos dias para tirar aquela fotografia...
ResponderEliminarA sorte dá muito trabalho e às vezes temos de voltar a trás para conseguir o tão ambicioso troféu.
Forte abraço
Boa tarde Renato Obrigado pelo seu comentário.
EliminarAquilo que quis deixar claro com este texto é que estas coisas das fotos com bons peixes são o resultado de muito trabalho de preparação, e que não adianta deixar tudo entregue à sorte. No momento crítico, a sorte vira-nos as costas e passa a contar apenas aquilo que efectivamente sabemos fazer. Se soubermos o suficiente, se trabalhámos antes o suficiente o peixe entra. Se deixarmos as coisas entregues ao acaso, o resultado é...um acaso.
Diz muito bem que os pequenos detalhes são tudo, porque é um deles que nos vai tramar quando chega a altura H. Quando falha, muitas vezes é por uma coisa tão pequena que dá vontade de roer as unhas....
Um abraço!
Vitor
Só quem é efectivamente apaixonado por esses momentos é capaz de dedicar tantos dos tão poucos dias que temos na prospecção de zonas "quentes" e na grande maioria das vezes sem o sucesso almejado do grande exemplar. Mas uma coisa é certa. Quando ele sai, o valor atribuído e as sensações inerentes são inesquecíveis. Forte Abraço
ResponderEliminarBoa tarde Bruno Temos águas tapadas. Saí ontem e hoje e só ao largo é que limpa....
EliminarEu passo muito tempo a preparar o material, para que as coisas não me falhem quando preciso delas. Questões como a lubrificação dos carretos, etc, são muito importantes. Tenho pessoas que me dizem " eu não tenho tempo para andar a olear os caretos todos os trimestres""....e são essas pessoas que a seguir se vão queixar de que o peixe partiu a linha, e era....ENORME!
Abraço
Vitor