Passamos vezes sem conta por boias feitas de garrafões de plástico ou de esferovite quando vamos direitos aos nossos pesqueiros. A primeira ideia que nos vem à cabeça é que se trata de sinalização de redes.
Não necessariamente. A pesca do polvo é uma das maiores actividades dos nossos pescadores nacionais. Não esqueçam que movimenta, segundo os dados mais recentes do Ministério do Mar, divulgados no início de 2019, o valor de 35.5 milhões de euros/ ano.
Só no Algarve, existem cerca de 600 embarcações que se dedicam exclusivamente à pesca do polvo. Isto dá-vos uma ideia da dimensão do que é esta actividade em termos de número de efectivos.
As pessoas que trabalham diariamente nesta faina sofrem as agruras do tempo, das intempéries, do frio, do vento, do trabalho fora de horas, e são pouco valorizadas. Sofrem também em termos financeiros, dado o baixo custo do produto em lota.
É gente dura, resistente como o aço, porque só pessoas assim aguentam as tarefas desempenhadas a bordo de uma embarcação de pesca. Ali pede-se pouca retórica, pouca conversa, e muito trabalho, muita força de braços.
Por tudo aquilo que são e fazem, merecem todo o nosso respeito. Hoje o blog é para eles.
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Será tudo menos fácil organizar um barco de pesca ao polvo, o qual exige uma perfeita conjugação de esforços de todos os tripulantes. As gaiolas devem ser arrumadas criteriosamente sob pena de deixar de haver espaço para pôr os pés. |
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A recolha do polvo é um acto mecânico, em que o ritmo conta bastante. Todos os elementos estão sincronizados, desde quem trabalha com o alador, até à pessoa que retira os polvos das gaiolas, ou dos alcatruzes. Nestes últimos, uma espécie de cântaro, em barro ou mais recentemente em plástico, a forma de o fazer é simples: um pouco de lixivia, ou água muito salgada, uma moura, obrigam o polvo a sair rapidamente. Os segundos contam... |
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Vejam acima como os polvos são lançados para o bidon de recolha. A razão deste “ desembaraço” tem a ver com a necessidade de não deixar que o animal consiga colar as ventosas ao fato de oleado. Caso aconteça, isso obriga toda a equipa a parar o trabalho. |
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O peixe que veem na caixa destina-se a “recarregar” a gaiola com mais isco, o que pressupõe mais um lance nessa noite. Tratam-se de cavala, um peixe sem valor comercial, ( estas por sinal já estão bem moídas…), mas com suficiente resistência para aguentar umas horas os esticões que os pequenos peixes lhe irão dar, até chegar um polvo junto à rede. |
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No fim da recolha, os polvos cujo tamanho possa apresentar dúvidas (peso legal mínimo de 750 gr) são pesados individualmente, e os mais pequenos lançados ao mar. A morte do polvo é feita com a faca que veem na imagem, e é aplicada sobre o meio dos olhos. Por baixo está um dos cérebros do polvo. Está a ser utilizado o plural, o que para nós é estranho. Os polvos têm cerca de 500 milhões de neurônios concentrados nos seus tentáculos. E isso significa capacidade de decisão, de tomada de atitude, independente. Pode funcionar de forma isolada ou em coordenação com os restantes tentáculos. Não deixa de ser curioso assumir que o corpo humano tem um órgão controlador central, enquanto que neste caso, temos inteligência distribuída em rede, por diversos pontos do corpo. Vejam abaixo como é: |
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Vejam o terreno de caça do polvo: zonas baixas, com muita vida, muito peixe miúdo, muito bivalve enterrado na areia, caranguejo, etc. Na vazante, com alguma paciência, é possível encontrar meia dúzia de polvos nos buracos que ficam nas poças de maré. Podem ser “convidados” a sair, utilizando uma cana com uma meia cheia de peixe, atada na ponta. O polvo agarra-se ao isco e não larga facilmente, dando tempo mais que suficiente para o apanharmos à mão. |
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Estas são as gaiolas utilizadas. É muito frequente que pesquem 24 sobre 24 horas. O pescador do barquinho que veem por detrás da pilha de gaiolas vai até uma das boias, levanta o cabo e passa a inspecionar o interior de cada uma das caixas. Aproveita e isca de novo. No dia seguinte, volta a repetir o processo de vistoria. Não traz as caixas a terra, de resto nem caberiam na sua pequena embarcação. |
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Aqui temos os covos, na circunstância em plástico. É uma pena que não se continue a utilizar o barro para produzir alcatruzes, porque se trata de material biodegradável. |
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Embarcações de maior porte podem actuar de forma mais industrial, colocando cabos com centenas de caixas. |
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Os polvos detectam o cheiro da cavala e aproximam-se. Procuram uma entrada que os leve ao isco. Invariavelmente irão encontrar o buraco que veem na foto. É por aqui que o polvo irá entrar. Depois de estar dentro, a sua tentativa de fuga será sempre tentada pelos cantos inferiores da caixa,... |
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Este é sem dúvida um dos animais mais impressionantes do nosso planeta. Tem capacidades de inteligência remarcáveis para quem nasce e morre no espaço de 2 anos. Nós fazemos com eles arroz de polvo, polvo à lagareiro, polvo à galega, polvo seco da feira, etc, etc... |
Vítor Ganchinho