PESCAR CHERNES COM... JIGS!

A pessoas mais idosas, em estados avançados de astenia, de forte debilidade física, os médicos receitam tratamentos à base de vitaminas e sais minerais. Pouco mais podem fazer.
O intuito é revitalizar os enfermos, trazê-los acima por algum tempo, (nem que seja por alguns dias apenas). Digamos que a intenção é dar-lhes um choque de vitalidade, de ânimo, de retorno à vida.
Por vezes até acontece, pese o cepticismo de alguns clínicos, a inclusão nas receitas prescritas de alguns produtos naturais, como o ginseng. Não resulta sempre porque, afinal de contas, nada lhes poderá trazer de volta a força da sua juventude, as suas capacidades perdidas.
A marcha inexorável do tempo deixa marcas nas pessoas. O estado de astenia, caracterizado por uma sensação de fraqueza e falta de energia generalizada, podendo ainda estar associada a cansaço físico extremo e paralisante, não é no entanto um exclusivo das pessoas de idade.
Pode até acontecer a jovens na força da idade, a quem tem ainda pela frente muitos anos entre nós, e sobretudo anos muito activos, de muita luta. E porque não, de muita…pesca!
É o que acontece a três amigos que se unem pela vontade de praticar jigging profundo: José Rodrigues, de quem já falámos aqui algumas vezes no blog, Diogo Paiva e André Bandeiras, dois estreantes, que antes de lerem este artigo já estavam a sentir calafrios pela espinha acima.
Estes três pescadores de que vos vou falar a seguir têm isto em comum: pescam a profundidades a que o vulgar pescador de linha vertical não pesca nem nos seus piores pesadelos. Nem naqueles pesadelos em que acorda sobressaltado com espuma seca na boca, o peito empapado em suor, o ritmo cardíaco muito alterado e completamente depauperado de forças. Um sonho mau destes corresponde, para uma pessoa normal, a um dia inteiro de pesca ao pargo a 120 metros de fundo, com iscadas grandes de sardinha. Rebenta com os braços. É muito mau! Mas não é mau para todos! Há quem pesque sempre assim.
Com efeito, 600/700 metros não é muito para estes penitentes de que vos falo. Estas pessoas pescam com jigs que podem chegar a 1 kg, (leram bem, 1000 gramas..!), e pescam à mão, ou seja, a enrolar a linha à mão desde lá de baixo …até à superfície, manivelada a manivelada, metro a metro.
Pois bem, sei que acham que pessoas destas deviam ser algemadas, envolvidas numa camisa de forças, com as fivelas de cabedal bem apertadas, e levadas em braços por dois enfermeiros de bata branca para um hospital.
Esta gente merece e precisa desesperadamente de um internamento rigoroso, prolongado no tempo o suficiente para que esqueçam por completo que se pode pescar um peixe utilizando um carreto manual, a 700 metros de fundo. Ou mais.

Não pode fazer bem a ninguém sequer imaginar que a pesca é possível a semelhantes profundidades. Há umas centenas de anos atrás, tínhamos quem tratasse destes casos de pura heresia: a Santa Inquisição.
Nessa altura, estas pessoas eram rapidamente queimadas numa fogueira de chama bem viva, com muita lenha empilhada, e o assunto ficava por ali. O caso era abafado.
Reparem que pouquíssimos registos históricos referem a pesca profunda ao cherne, com jigs pesados e canas de carbono Deep Liner, na Idade Média.
Hoje em dia, na falta de quem zele pela sanidade dos nossos pescadores, e ainda por cima com o advento das redes sociais, tudo se complica, a informação alastra. Bem que podemos pedir a estas pessoas“…não sigam essa luz”, mas eles já estão num estado em que não ouvem ninguém.
O prof. José Rodrigues já me disse a mim um dia, textualmente, algo como: “…mas Vitor, nós a partir de uma certa profundidade, a algumas centenas de metros, nem sequer sentimos o peso do jig”…
Ou seja, o estado de anestesia é de tal ordem que um jig de 0.5/ 0.8 kgs é considerado…leve. Também a utilização de psicotrópicos leva a situações destas, em que as pessoas deixam de reagir à dor e ao sofrimento.

E é neste ponto que estamos, o de nem poder interferir na decisão de alguém que sai daqui para os Açores, para a bonita ilha de S. Miguel, e vai ter com a empresa do Diogo Paiva, a AZORESFISHING, para ir pescar com jigs.
Temos pois uma equipa formada por José Rodrigues, homem que acredita que há vida para além da morte para todos aqueles que pouparem nos destorcedores e missangas coloridas dos baixos de linha e nas iscadas de minhoca e casulo, André Bandeiras, um jovem que, num concurso de pesca à anchova micaelense, podia perfeitamente ganhar o primeiro prémio, um magnífico faqueiro em prata de seis peças, e Diogo Paiva, um comandante de embarcação que pelos vistos é alérgico a peixes bonsai, minúsculos, porque apenas procura mastodontes grandes.
Vejam durante alguns segundos o mundo pelos olhos dele, vejam atuns rabillos acima de 200 kgs, aos molhos: https://youtu.be/j9SnuRPNaGA

O mundo da Azores Fishing, a melhor empresa açoriana de charters marítimos é este. E o Diogo vive nos Açores, em S. Miguel, logo para fazer peixes bons não é preciso marcar lugar na nave do Jeff Bezos e ir ao espaço. Não, é já ali, nos Açores, a 2 horas de distância.

O Diogo Paiva sabe do que faz, ou não apresentaria os troféus de pesca que podem ver nos contactos que menciono abaixo.




E como faz esta gente para pescar a sua postazinha de peixe do jantar? Aquele peixinho em que pomos um fiozinho de azeite por cima, acompanhado de uns brócolos cozidos. Sim, como fazem eles para conseguir o seu jantarinho?

Chamam-lhe então à técnica “Slow Pitch Jerk”, um tipo muito específico de jigging praticado na fundura. Na opinião da maior parte das pessoas, isto seria merecedor de administração imediata de uma injecção letal.
Não iria tão longe, porque estes três amigos fazem isto completamente convictos, pensando que irão mesmo pescar alguma coisa com as canas, carretos, linhas finas e jigs, utilizando um movimento com grande amplitude a que pomposamente chamam de… “Long Fall”.
Não sei se não seria de fazerem uns pachos de água quente na cabeça, alternados com umas rodelas de pepino frescas, apertadas na cabeça com um lenço.
Se resulta nas enxaquecas, poderá melhorar também um pouco as ideias de quem pesca com carretos de grande capacidade Studio Ocean Mark, Maxel, etc, e linhas PE 2,5, que compram em bobines de 1200 metros. Para que tenham uma ideia do que são 1200 metros, é a distância a que eu gostaria de ter sempre a minha mulher, ou seja, 12 campos de futebol. Leram bem, rodem de novo os olhinhos para a esquerda e confiram que eles não compram linhas em bobines de 120 metros…
A eutanásia poderia eventualmente ser uma boa solução para eles, acho eu….mas é desta forma que pescam. E foi com carretos de tambor móvel de grande capacidade de linha, chicotes de nylon curtos, no máximo de 3 braças, e jigs formato agulha, compridos e de “fácil controlo” que estas almas de Deus se lançaram à pesca no barco Frontino, do Diogo Paiva.
Tenho quase a certeza de que o objectivo deles seriam as grandes vejas açorianas, um peixe cobiçado, e cada vez mais raro. As vejas, género “Sparisoma cretense” são um peixe-papagaio europeu, um perciforme da família dos Scaridae.


Estes sim, os peixes pretendidos. As vejas têm uma carne branca, às lascas, e são um peixe tipicamente açoriano.


É um peixe que é um luxo! Os bons pesqueiros de vejas são raros, mais secretos que as reuniões da Opus Dei, e os peixes adultos e encorpados, acima dos 2 kgs, muito difíceis de conseguir.
Mas a esperança nunca morre e por isso mesmo, e para aquecer, começaram por lançar os jigs a baixa profundidade, entre os 200 e os 250 metros, sobre um fundo de rocha.
Tratando-se apenas de um aquecimento muscular, os jigs escolhidos foram os mais ligeiros que tinham, na circunstância de 450 gramas. Linhas trançadas PE2,5, que para uma veja são mais que suficientes, oferecem pouca resistência à corrente, e afundam mais depressa.
As condições de mar têm sempre de ser excelentes, e isso consegue-se quando há pouco vento, e corrente com pouca força. De qualquer forma, o jigging exige uma perícia extrema por parte do mestre da embarcação, para conseguir colocar as linhas na vertical. É imperativo que se consigam manter no enfiamento do barco, sem deslocações laterais para qualquer dos bordo, sob pena de o barco passar sobre as linhas, ou estas ficarem enroladas umas nas outras. O vento joga aqui um factor decisivo. No Japão, os barcos utilizam uma pequena vela à rectaguarda, que, por acção da brisa marítima, mantém o barco sem oscilações laterais. Isso permite uma deriva direita, regular, sem bordos.

Conseguir garantias de dias sem vento é algo que não é possível a longo prazo, logo a viagem não pode ser marcada com muita antecedência. A decisão de ir pescar é sempre obra de uma inspiração repentina, saída de um quadro de previsão favorável de poucos dias, e assim sendo, há que montar o circo em poucas horas, vá lá, …em dois a três dias. Bom mesmo é marcarem a pescaria, acordarem os termos e a quantidade de dias que pretendem ficar na ilha, e deixar que seja o Diogo Paiva a confirmar qual a melhor data. Ele está lá, e sabe quando vale a pena.
Isto implica disponibilidade de tempo, algum desafogo financeiro, e uma grande dose de loucura. Estas pessoas pescam a profundidades muito grandes, e isso exige condições. Por isso mesmo são forçadas a ter tudo pronto à espera do tal dia, em que uma conjugação de factores possa permitir resultados de excepção.

Recolher uma linha a muitas centenas de metros implica tempo e robustez física. Leva tempo. Nos Açores faz-se de noite muito depressa. Não estou certo de que estes três companheiros não estejam já a recolher linha antes de sair de casa, muito antes sequer de lançarem os jigs para a fundura.
Não pode fazer bem a ninguém dar tantas vezes à manivela do carreto, no mínimo ganham-se umas artroses nos ossos. Mas eles acreditam em Deus e aguentam.

Eu estou a escrever isto, mas muito sinceramente, estou a recibos verdes, não tenho nada a ver com esta pescaria. Não fui e tenho a certeza de que a minha Leninha não me deixaria ir. Ela sabe bem que precisa de mim para outras tarefas nobres, como dar de comer às cadelas e aparar a relva lá em casa.
Ainda assim, vou tentar dar-vos uma ideia de como estas pescas decorrem. Em termos de amizade e companheirismo, tudo bem, afinal de contas eles são os três atacados pelo mesmo mal: lançar jigs para as profundezas e recolhê-los à mão.
Basicamente a maleita de que padecem é esta: atiram zagaiadas para os fundões e recolhem à mão! Podia-lhes dar para se entreterem a arrancar as pestanas uns aos outros com um alicate, mas não, eles contentam-se em atirar uns petardos pesados para o fundo do mar e enrolam linha até aquilo chegar cá acima. E a seguir lançam outra vez, tal como os malucos que se perseguem a rir muito, tentando espetar facas nas costas uns dos outros.

Isto não poderia correr bem, e efectivamente em termos de pesca, infelizmente, as coisas correram mal. Mesmo muito mal.
Foi um dia para esquecer. Nada de vejas, apenas alguns peixes cinzento-fábrica, de olhos bugalhudos, com muito mau aspecto. Uns tais de chernes, “Polyprion americanus”, que como todos sabemos não servem para nada.

Passo-vos um excerto da explicação técnica dado pelo mestre da embarcação, o Diogo: …“no dia em causa a corrente estava a afastar os jigs da parede da montanha mantendo os mesmos mais visíveis para os nossos alvos. Posso dizer que quando cheguei ao pesqueiro posicionei o barco de uma determinada forma sem ter resultados e começámos a pescar mais fundo abaixo dos 300mt e ao fim de 2 lances e após perceber a deriva do barco e a corrente tive de mudar de estratégia e posicionar o barco num outro local da montanha tendo subido para os 250mt sendo que o peixe atacava sempre pela cota dos 270/280 mt que foi onde os apanhamos quase todos”...

Ora já se está a ver que a pessoa está mal. Isto é um relato alucinado de alguém que dificilmente um dia conseguirá ferrar uma veja como deve ser.

Vamos agora espreitar o barco. Podem ver todos os detalhes em : https://www.azoresfishing.pt/barco


O barco deste dia foi o Frontino, um Rodman 747 Plus com histórias para contar.


Caso seja necessário chamar um médico psiquiatra de urgência, por exemplo se algum dos pescadores quiser lançar jigs abaixo de 900 metros, a embarcação está equipada com VHF. Nos Açores existem helicópteros do INEM e pessoal especializado em salvamentos marítimos.


Mas a Azores Fishing tem mais um barco, para grupos numerosos, com mais pessoas, o Galáxia:




E falta-nos ver o que foi feito nesse dia, em termos de peixes. Uma tragédia, uma verdadeira tragédia:


Tentativa de venda em rebaixa de 3 canas e 3 carretos de jigging no OLX. Os peixes eram oferecidos como brindes. Por causa disso, e mesmo com todo o molho de material de pesca a 40 euros, por atacado, não se conseguiram vender. Ninguém pega nos chernes. 


Prof. José Rodrigues numa prece bíblica, implorando a Deus para não mandar mais bichos cinzentos destes.


A utilização de um Sabiki permite a pesca de diversas espécies de peixes de cardume. São correntes as cavalas, os chernes e os carapaus. O André Bandeiras é obviamente um iniciado, um jovem pescador. Um pescador experiente, se pesca com um Sabiki de 5 anzóis, traz para cima 5 ou 7 chernes de cada vez.


O aparelho de chernes com nylon 0.22mm, designado por Sabiki. Neste caso, é expectável que se consigam pelo menos uns 12 chernes, em cada lance.


O ar amargurado do André Bandeiras, perante mais um peixe imprestável, evidentemente lançado ao contentor. Nestes casos de by-catch, é preferível lançar logo o peixe à água. As bogas, os chernes e os peixes-lagartos terão alguma utilidade para o meio ambiente, ou não existiriam.


É o que se pode dizer “um tiro no pé”. Nunca se deve associar um bom jig “glow” a um peixe de baixa qualidade. Não brilha, não rima, a imagem fica ruim. Mais valia ser um bodião verde, ou uma castanheta. O Diogo Paiva sabe bem que este peixe cinzento não tem estaleca. Pobre jig, ...merecia melhor enquadramento.


Outro momento de infelicidade do desolado Diogo Paiva. Quando a sorte não penetra, só se tiram peixes destes, dos cinzentos. As vejas, peixe muito apreciado e cobiçoso, são cada vez mais raras.


O ar consternado de José Rodrigues, de coração desfeito por não lhe calhar nenhuma veja. Infelizmente o dia viria a redundar num fracasso tremendo, em que apenas apareceram chernes e gorazes. Zero vejas…


CONTACTOS:

Marina de Ponta Delgada
Avenida Infante Dom Henrique - Portas do Mar
9502 Ponta Delgada

Marina de Vila Franca de Campo
Rua Eng.º Manuel António Martins Mota, S/N
Vila Franca Do Campo, Ponta Delgada
9680-909 Vila Franca do Campo

+351 915 136 364 Diogo Paiva
+351 918 459 657 Eduardo Lopes
azoresfishinglp@gmail.com


Foi-me dito que ganharia com este artigo publicitário uma magnífica garrafa de anis.
Espero que cumpram, para que eu finalmente possa organizar a festa do batizado da minha sobrinha. A criança tem de ser benzida.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Muito bom, fartei-me de rir!

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    Respostas
    1. É bom que se tenha a noção da qualidade desta pescaria. Isto não é possível todos os dias, mas se alguém pode proporcionar um dia parecido a isto, é o Diogo.
      Ele sabe fazer, e acredito que nestas coisas, mais vale um dia bom que dezenas de dias ruins.



      Abraço!
      Vitor

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