ELES ANDAM BAIXOS...

É muito frequente que se associem águas muito profundas a imagens de peixes muito grandes. É quase intuitivo ligar a profundidade ao tamanho do peixe que nela habita: mais fundo, maior peixe.
É um erro. Não corresponde de todo à verdade, pois podemos encontrar peixes de grande tamanho em pesqueiros baixos, com poucos metros de água, menos de dez, e podemos perfeitamente encontrar peixes pequenos em profundidades significativas.
Tudo depende das condições que o mar oferece as estes indomáveis lutadores, que hoje iremos personificar num peixe que sempre me fascinou: o pargo.
Poderíamos extrapolar para muitas outras espécies com necessidades de habitat idênticas, porque os comportamentos são muito similares, mas vamos fixar-nos nos nossos pargos.
Vai fazer quarenta anos que os pesco, vai para 40 anos que os respeito enquanto adversário com peso, com astúcia, com força, agressividade e combatividade. O pargo, muito mais que a dourada, é o meu peixe! Hoje, falamos de pargos.
Tenho os meus locais de pesca preferidos, onde sei que estão sempre, e isso significa um profundidade intermédia, algo entre os 120/ 150 mts a que afundam quando a água do mar gela à superfície, e os 10 / 15 mts a que sobem quando as águas aquecem, digamos acima dos 19ºC.
Porque as nossas águas estão quentes, o tema versa as pescas possíveis quando eles sobem para pesqueiros próximos da linha de costa, à procura de alevins.


Quando as condições são favoráveis, temos pargos grandes encostados a terra. Porque eles procuram sobretudo capturar peixes miúdos, podemos perfeitamente pescá-los com pequenos jigs, dada a baixa profundidade. Ficariam espantados se vissem o tamanho minúsculo dos jigs que eles mordem...


Neste momento, à data em que vos escrevo estas linhas, temos pargos em pesqueiros mesmo muito pouco profundos. As águas estão acima dos 21ºC à superfície, e isso permite a presença de predadores na franja marítima com mais vida, e consequentemente mais alimento, precisamente a dos baixios, em pesqueiros de 10 / 12 metros de fundo. Ou menos. É aí que os nossos pargos encontram a sua comida com mais facilidade.
A questão da temperatura é decisiva para a permanência ou não destes peixes nestes locais. Desde que haja condições, e de momento há, temo-los bem encostados à costa, a aproveitar as benesses deste momento de abundância.
Há muito peixe miúdo para comer, encostado a terra. Vejam a imagem abaixo.


A falta de agitação marítima deu tréguas às plantas subaquáticas e deixou-as crescer. Serão estas algas a partir e a arrojar à costa logo que venha o primeiro temporal. São elas que irão formar uma massa castanha que é o pesadelo dos nossos colegas do surf-casting.


Associamos os pargos grandes, com peso e idade, por vezes mesmo muito grandes, a iscos de grande tamanho. Isso será parcialmente verdade mais para a frente, em pleno Inverno, quando as águas arrefecem. Tendencialmente, os nossos pargos procuram presas mais encorpadas, com mais gordura, nessa fase. Mas não agora. Este é o momento em que eles se ocupam de encontrar e perseguir as “miudezas”, os peixes forragem pequenos. Se quiserem, os “inocentes”, mais fáceis de capturar.
Não são os únicos. Ficariam espantados se vissem outros notáveis peixes da nossa costa a perseguir esses mesmos alevins: sargos e douradas!...
Temo-los por peixes mariscadores, e são essencialmente isso, mas são também mais que isso: perseguem e caçam activamente os pequenos alevins. Ou seja, …entram aos nossos jigs e vinis.


Este sargo mordeu aquilo que ele julgou ser um pequeno peixe. Por azar, era um jig de 30 gr, um Coltsniper Wonderfall JM-503Q, cor 001, da Shimano.


Esta é uma peça que lanço frequentemente aos pargos, e que armo de acordo com a ideia que tenho de andarem peixes menores ou maiores nos fundos. Porque os procuro em zonas de rocha partida, por vezes alta, prefiro utilizar assistes com cabos curtos, com 5mm, em vez de assistes de 15mm, ou 30mm. A razão da escolha é simples: não os quero perder ao primeiro lance e por outro lado porque nesta fase do ano, o peixe que anda pelas pedras está na posse de todas as suas capacidades máximas, é muito violento a atacar, e por isso, engole tudo, não morde apenas com os caninos. É muito frequente que os anzóis prendam na goela do peixe. Os peixes grandes a sério, digamos acima dos 6 kgs, têm uma boca mais difícil, e aí já temos de pensar duas vezes.
A esses, quando de facto muito grandes, a vantagem é a de os deixar aspirar os assistes, porque a cravada é sempre melhor. E assim sendo, assistes mais compridos, servem-nos melhor.
Por isso mesmo, altero as minhas amostras, procuro adequá-las às condições do dia em que estou a pescar.

Face inversa, não visível na foto de cima. 


Quando utilizamos equipamento ligeiro de Ajing, muito apontado aos carapaus, ainda assim, e em pesqueiros pouco explorados, pode acontecer que os pequenos pargos se lancem aos jigs de 3 a 5 gr.
Esta é uma pesca que os miúdos de 6/ 8 /10 anos gostam de fazer, por ser muito dinâmica, muito activa, e que não lhes dá um segundo de descanso. Como princípio de pesca, serve-lhes perfeitamente, embora seja difícil que consigam exemplares de maior tamanho. Que os há. Se eles os pescam com 0.5 kg, acreditem que no mesmo sitio podem andar os de 3/ 4 kgs….a questão é mais de ordem técnica. Os miúdos ficam muito aflitos quando do outro lado da linha têm algo com força, e que exige mais saber que o simples enrolar de linha. E na maior parte dos casos acabam por perder esses peixes.


Quando as águas, embora ainda quentes, começam a ficar mais oxigenadas devido às turbulências do Outono, os grandes peixes encontram bem perto da costa as condições ideais para se alimentarem em força. O Inverno vem aí, e a procura de reservas de gordura já começou.


Trata-se de uma pesca que não pode ser feita por grandes embarcações. A razão nem é a de não terem a possibilidade de encostar a terra para pescar, tem muito mais a ver com outros motivos.
Desde logo a subtileza necessária neste tipo de pesca. Se repararem, um barco com muita gente a bordo, quer seja particular quer seja uma MT com grande capacidade, faz um ruído imenso.
Caso tenha essa possibilidade, tentem concentrar-se durante um período de tempo curto, não mais de 10 minutos, e reparem na quantidade de ruídos que são emitidos para o meio aquático. Tudo o que não sejam sons naturais, deixa os peixes de sobreaviso.
Mais ainda quando a profundidade é pouca, e mais ainda quando aquilo que lá anda são pargos grandes. Não resulta.
A pesca destes peixes é feita sem lançar âncora, com o barco à rola, e sobretudo deve ser feita por quem a sabe entender. A discrição é algo obrigatório, sem isso nem vale a pena tentar.
Para além disso, é necessário que as pessoas que estão a bordo, acreditem efectivamente naquilo que estão a fazer.
Ao fim de 2 minutos, quando há muitas pessoas no barco, já teremos gente a protestar e a querer retornar aos pesqueiros de sempre, os do costume, os massacrados pesqueiros onde vão todos os dias, onde, se o peixe estiver encostado a terra, vão pescar zero.



Vítor Ganchinho



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