Trata-se de um peixe que é quase sempre um “by-catch”, algo que pescamos sem que a nossa pesca lhe seja dirigida. Não as procuramos.
Não conheço ninguém que diga declaradamente “vou pescar choupas”, mas a verdade é que este peixe aparece sempre nas caixas, ao final do dia.
Pesca-se mas não “conta” para os números finais. Esses, estão destinados a outros congéneres, ditos mais nobres, como a dourada ou o pargo.
Vamos hoje tentar saber quem é este ilustre, que é um mal amado das nossas pescarias, mas existe e é por sinal muito abundante na nossa costa.
Com isca, qualquer uma, é demasiado fácil fazer uma colecção de peixes destes. |
Falamos de um esparídeo de nome “Spondyliosoma cantahrus”, uma hermafrodita, ou seja, nasce fêmea e transforma-se em macho por volta dos 8 anos de idade.
Esta é uma família muito bem representada na fauna marinha em Portugal. Falamos de peixes teleósteos, e temos vários: bogas, choupas, pargos, etc.
Com uma longevidade aproximada de 15 anos, ocorre nas nossas águas desde poucos metros até 300 mts de profundidade, embora seja mais frequente nos primeiros 100 mts. As grandes choupas francesas, onde são chamadas de “daurade grise”, em tradução livre algo como dourada cinzenta, podem atingir os 2 kgs de peso.
Nunca entenderei aquilo que os franceses veem num peixe a que devotam uma admiração desmedida. Dizem eles algo como isto: entre nós, a choupa (chamam-lhe também Griset) é um peixe apreciado pela sua carne branca, firme, delicada e perfumada.
Muito rica em proteínas e Ómega 3. Isto é o que eles dizem de um peixe ao qual nem ligamos muito.
Cresce a um ritmo lento, com uma curva ascendente quase uniforme, conforme podem ver abaixo.
Com 10 anos de vida, podemos esperar que tenha um pouco acima de 40 cm de comprimento, e um peso na ordem de 1,3 kgs. Para o nosso país, é considerada já uma valente choupa.
Os exemplares que pescamos habitualmente terão cerca de 23/ 25 cm, o que significa que terão entre 4 a 5 anos, ou seja, são todos eles fêmeas. A medida mínima de 23 cm é um imposição que nos chega de Bruxelas, é uma imposição europeia, comunitária. Porque é um peixe muito voluntarioso, muito fácil de pescar, os grandes exemplares têm vindo a rarear, e cada vez aparecem mais peixes juvenis, sem interesse em termos técnicos. Quando leio dissertações de “ experts” neste tipo de peixe, que fazem da sua pesca algo de muito complicado, normalmente pessoas que pescam vertical e apenas dessa forma, aquilo que me ocorre é que pode ser da forma que eles dizem, com linhas de nylon 0.23mm, chumbadas pintadas das cores mais mirabolantes, porque sim, e iscadas muito técnicas, pois seja. Pode ser dessa forma e …de todas as outras. Na verdade, por mais que o queiramos complicar, trata-se de um peixe fácil, cuja pesca tem pouca história. Aguenta muito bem a pressão de ver os seus congéneres a subir agarrados à nossa pesca. As picadas são sucessivas, e é muito corrente que se consiga encher uma caixa durante um período de maré.
Podem vestir cores que variam entre as riscas verticais, e a uniformidade cromática cinza, conforme podem ver abaixo. |
Canas mais sensíveis dão-nos alguma vantagem na sua ferragem, não necessariamente compridas, e sobretudo chumbadas não demasiado pesadas.
A ideia é sermos capazes de reagir a tempo, de conseguirmos encontrar o padrão de picada e passarmos a ferrar de acordo com ele. Não é de todo um peixe difícil. Torna-se complicado sim, mas em situações em que estamos num pesqueiro próximo da cidade, em que os barcos cheios de pescadores se sucedem, sai um e outro se prepara para lançar a ancora no mesmo sitio. Aí, o peixe grande não existe, e apenas sobram exemplares juvenis. Esses, podem de facto ser um problema, se não quisermos sair da zona.
Em termos de iscos, e se houver muitos exemplares juvenis, podemos ver os nossos anzóis despidos em pouco tempo. Não é razão para mudar, para iscar de forma a que seja impossível levar a isca, até porque se podemos ser vencidos uma ou outra vez, por outro lado estamos a concentrar peixe maior na zona, à conta desses farripos que saltam. A pressão que os peixes maiores fazem sobre os mais pequenos acaba sempre por compensar. É uma questão de tempo até termos peixes grandes que comem à confiança, sem demasiadas cautelas.
Esta é sempre uma falsa questão, a de não querermos que o peixe nos roube as iscas. Há quem aplique elástico na isca, para o impedir. Revela conhecer pouco da mecânica de funcionamento dos cardumes.
Os peixes miúdos pressionam-nos com as suas picadas nervosas, e de facto levam muitas vezes a isca com eles. Mas para quem tem paciência, a fase seguinte é a da chegada dos maiores exemplares, atraídos pelo alvoroço que esses peixes pequenos provocam. Experimentem a lançar uma câmara GO-Pro para o fundo e entendem aquilo que afirmo. Sei que há quem não tenha paciência nenhuma, e queira começar e acabar com peixe grande.
Mas isso é um cenário perfeito e que raramente existe debaixo dos nossos pés. O mais corrente é termos peixe miúdo, sem interesse desportivo, mas que irá fazer o seu papel, chamando outro que passa, e que, por força dos beliscos de isca que saltam, acaba por fixar-se.
É muito corrente que os exemplares, de choupas ou quaisquer outros peixes que pescamos, tenham mais que um troço de isca no estômago. Isca nossa, que saiu nas nossas mãos.
Eles roubam-se uns aos outros, e a cada momento, a agitação aumenta e provoca aquilo que é o nossos sonho enquanto pescadores de linha: ter peixe por baixo em frenesim alimentar.
Para isso, há que sacrificar algumas iscas, e ser paciente. Eu chego a prendê-las mal, para que possam ser retiradas. Ou pesco com sardinha mais mole, para que lhes seja mais fácil roubá-la. É o oposto de ligar tudo com elásticos...
Uma alternativa a pescar com sardinha, é a pesca com filetes de cavala. Nesse caso, devemos iscar com filetes cortados sobre o comprido, com pontas soltas à corrente, escolhendo cavalas pequenas para esse efeito, de forma a não tornarmos as iscas demasiado volumosas.
Não esqueçam que a choupa tem a boca relativamente pequena. Mas muito eficaz, muito capaz de nos ratar a isca até deixar os anzóis a descoberto.
A boquinha pequena faz estragos, mas tenho casos em que amigos meus fizeram peixes com anzois enormes, para safios. Vejam um desses casos abaixo.
Choupa de 1 kg, pescada com equipamento pesado. |
Pode ser pescada de todas as formas que conhecemos. Desde a pesca vertical, ao jigging, ao spinning, à tenya, e inclusive aparece a beliscar pescas preparadas para outro tipo de peixes maiores. Vejam acima uma imagem de uma choupa com cerca de 1 kg, que mordeu uma linha 0.90mm, para safio, iscada com uma cavala de 25 cm. O jovem é um alemão que nunca tinha visto uma choupa na sua vida.
Quando me dizem que para estes peixes as linhas têm forçosamente de ser finas, ….bom, não forçosamente. Esta cana tinha “armamento” pesado, com linha 0.80mm na baixada, para safios. O anzol era um 6/0, o que o torna uma peça pouco indicada para um peixe desta espécie. Mas mordeu e ficou.
Na verdade, a razão de ser de pescar fino coloca-se muito mais em zonas ultra pescadas, onde o raro é não haver uma dúzia de barcos, cada um com uma dúzia de linhas pendidas.
Quando mergulho, vejo as choupas com um comportamento não muito diferente das bogas. Ocupam o mesmo espaço, e não raro estão misturadas. Aparecem a meia água, viradas para a corrente, e indistintamente desde os primeiros metros do fundo até próximo da superfície. Pescamo-las junto ao fundo, porque é aí que depositamos a nossa baixada, mas na verdade poderíamos fazê-lo um pouco mais acima, pois elas ocupam toda a coluna de água.
Com águas limpas, é um peixe que entra a artificiais, normalmente jigs de pequeno tamanho, até aos 12 gramas. Isso diz bem da sua propensão para atacar pequenos peixes. A choupa come um pouco de tudo, não é muito selectiva no momento de se lançar sobre os nossos anzóis.
Por isso, e com mais ou menos técnica, mais ou menos habilidade para a tarefa, toda a gente pesca choupas. Não entram na contabilidade dos peixes nobres, mas fazem volume, existem. E há pessoas que pescam para o peso, para levar peixe para casa.
Tenho para mim que as deveríamos libertar, de forma a no futuro voltarmos a ter choupas de 1.5 kg, como eu as pesquei com o saudoso Tio Alfredo, a bordo da sua velha traineira. Foi há 35 anos...
Vítor Ganchinho
Bom dia Vitor,
ResponderEliminarNunca é demais falar de sustentabilidade, já é um assunto crítico, mais será num futuro muito próximo.
Falta muita cultura e postura, entre os nossos pares.
Grande abraço
A. Duarte
Boa tarde Antonio! Será cada vez mais importante, e crítico, falar sobre sustentabilidade. Aqui no blog temos essa preocupação.
EliminarEspero que goste do artigo de hoje. O tema são robalos.
Abraço!
Vitor