O DECLÍNIO DOS NOSSOS PESQUEIROS

Quem pescou no mar em tempos idos, olha para a escassez de peixe que se verifica nos dias de hoje e fica deprimido.

As pedras perderam vida, e hoje em dia é cada vez mais difícil encontrar peixe interessante nas zonas de acção regular dos barcos de pesca lúdica.

A frota pesqueira profissional não ajuda em nada: cometem-se atrocidades que passam pelo arrasto, pela largada de redes de cerco que vão do fundo à superfície, não poupando um único ser vivo que fique dentro do copo. Como pode ser possível que esse sistema não seja proibido?!

Faz sentido pescar peixe para fabricar rações para animais?!

Para as empresas de charters marítimos, não é indiferente que haja ou não peixe. Confrontadas com a impossibilidade de agradarem a gregos e troianos, ou seja, com o facto de as pessoas quererem pagar o mínimo possível, 15 ou 20 euros, e trazer grandes quantidades de peixe que possam consumir e se possível vender aos vizinhos, estas empresas vivem da expectativa que os seus clientes têm de encher as caixas, sabendo de antemão que isso não irá acontecer. Os profissionais sabem quando há e quando não há peixe. Mas têm de manter a esperança bem alta, pois é isso que facturam: esperança de pesca.

Que não acontece, e que eles adivinham perfeitamente que não irá acontecer. Muito mais por saberem que o seu raio de acção é limitado por dois factores que não podem ultrapassar: o baixo valor que os seus clientes aceitam pagar e o custo acrescido dos combustíveis.

Por enquanto, esses barcos MT vivem de resultados antigos, de pescarias feitas noutros tempos. O declínio da qualidade das pescarias é evidente e não permite dúvidas. As pescarias de ontem não enchem as caixas de hoje.

O engano não irá durar muito tempo. A cada dia será mais e mais difícil conseguir convencer alguém de que pagando meia dúzia de euros, isso é suficiente para chegar a pesqueiros não demasiado explorados, “virgens”, que têm peixe a rodos, de grande tamanho.

Um destes dias, os barcos de pesca MT estarão cheios de gente que começa a pescar, gente nova que ainda acredita, e de gente que, pese embora sabendo que não vai pescar nada, ainda assim aceita pagar para passar uns momentos no mar.

Ou seja, de gente que, ou porque não sabe, ou porque não se importa, ainda assim vai.

Mas não irão para sempre.

Ficarão sempre os pescadores de sempre, aqueles que, com ou sem peixe, vão ao mar. Aqueles que, mais que sucesso na pesca, querem ter alguns momentos de paz e sossego.

Para esses, haver mais ou menos peixe, será apenas mais um detalhe.

Há um limite para tudo, e seria bom pensar que está nas mãos do Governo legislar no sentido de proibir todas as artes de pesca que dizimam toneladas de peixe de um só lance. A natureza não tem meios nem pode responder a tamanha catástrofe.

E os pescadores lúdicos, que retiram do mar o que podem, grande e pequeno, terão de mais tarde ou mais cedo, de se mentalizar de que soltar os pequenos peixes é garantir os grandes.

É necessária toda uma força colectiva, uma mentalização geral de que o peixe pequeno ainda não cumpriu a sua função reprodutora e que por isso deve ficar lá, no mar.

Os peixes recuperam rapidamente os seus efectivos. Se lhes dermos tempo para isso.

A GO Fishing Portugal, faz pesca selectiva, procura apenas grandes exemplares e incentiva à libertação de peixe miúdo. É-nos possível fazê-lo dado que limitamos as nossas saídas a um número restrito de pessoas, que partem do cais a saber que o objectivo não é encher uma caixa de peixes pequenos. É pescar um peixe que encha a caixa.

Vítor Ganchinho