SAIR AO MAR - PREPARAR TUDO COM MUITO CUIDADO

O tema segurança é algo que deveria ser tratado com muito mais regularidade.
Recordo-me de ter estado presente quando o Jigging Club de Portugal organizou uma apresentação de técnicas de segurança, incluindo o lançamento de sinais de fumo, sinais luminosos, o funcionamento, ao vivo, de um colete de segurança, etc. Foi extremamente positivo para mim ver o interesse e entusiasmo demonstrado por todos os presentes. Afinal de contas, sabemos na teoria como tudo funciona, mas poucos de nós tiveram necessidade real de lançar sinais luminosos, ou ver cair alguém ao mar e ver como abre o colete de protecção individual. Bem haja a organização pela iniciativa, que deveria ser repetida mais vezes.

Hoje falamos novamente aqui no blog de segurança. E a chamada de atenção vai para os cuidados que devemos ter, em terra, antes de sair para o mar.
Não interessa qual a deslocação que se pretende fazer, curta ou longa. Também não interessa se o mar na zona a visitar será pouco profundo ou não (em rigor, tudo o que esteja acima da altura do pescoço é mar fundo…), até porque acidentes acontecem em poucos palmos de água. Nem todas as pessoas têm a presença de espírito necessária para saber reagir convenientemente a cada situação. O excesso de nervosismo, a forma física deficiente, a falta de conhecimentos de salvamento, tudo isso pode contribuir para a ocorrência de um caso lamentável.
Eu tirei o meu curso de nadador salvador em Troia, há muitos anos atrás, e sempre mantive algum cuidado com a forma física, praticando desporto regularmente, numa base diária, e com uma Personal Trainer que não me deixa abrandar.
Em caso de necessidade, sei o que fazer, tenho a robustez física necessária, e não hesitarei um segundo em lançar-me à água para salvar quem quer que seja. Os meus 7 anos de triatlo e os milhares de quilómetros nadados em mar e piscina dão-me garantias de conseguir valer no mar a quem de mim precisar.
Mas nem sempre é necessário chegar a tanto. Foi o caso de um simpático par de amigos de Setúbal que resolveram comprar um barco, artilhar a embarcação com tudo aquilo que seria necessário para fazer uma saída de pesca e fazer a sua estreia. E é desse dia este registo, bem humorado, até porque as pessoas em questão transbordavam alegria e boa disposição. Gostei de falar com eles, comentámos o facto de estar nevoeiro cerrado, e da necessidade que teriam de deixar passar um pouco de tempo, para se aventurarem na “estreia” do seu “novo” barco.
Porque as embarcações descem por ordem de chegada, e porque estavam à minha frente, tive mais tempo para dois dedos de conversa com um dos elementos:
_ Comprei esta máquina e mandei pôr um motor auxiliar, para não nos acontecer nada! Mesmo mais devagarinho, assim tenho a certeza de que não ficamos lá!...
É sempre positivo que as pessoas se preocupem com a sua segurança. Estão a zelar por eles e a poupar trabalho e incómodo a muitas outras pessoas. Esta é uma embarcação registada em classe 5, com limitações de autonomia, mas ainda assim nunca é demais ter cautelas.
Colocado o barco em linha com o guindaste, reparei que tinham os estropos de supensão, ou seja, não faltava mesmo nada para que o barco entrasse na água. E assim foi.


Dois motores, pressupostamente, dão mais segurança que apenas um.


O problema começou no momento de pegar o motor principal. Sem ligação eléctrica, o velho sistema de cordel foi puxado e repuxado, vezes sem conta, e nem sinal de vontade de pegar.
As pessoas que aguardavam pela sua vez para descer o barco desesperavam pela situação, porque queriam sair para a sua pescaria, mas compreendiam a impossibilidade.
Foi sugerido que o barco subisse novamente ao atrelado, e nova tentativa fosse feita mas apenas depois de saírem todos.
Porque estava na posição imediata, pareceu-me que seria deselegante passarmos todos à frente de quem se tinha levantado mais cedo que a restante fila. Sugeri que deveriam tentar mais uma vez, verificando todos os procedimentos. Haveria certamente algo que estava a ser esquecido. A simpatia das pessoas era tanta que a dada altura já tínhamos um grupo de pessoas a tentar ajudar, a fazer força para que tudo lhes corresse bem.
Nova tentativa, nova demonstração de impossibilidade de pegar. E foi aí que alguém se lembrou do seguinte:
_ Então e se forem até ao pontão de madeira, utilizando o motor auxiliar, e aí tentarem pegar o motor principal?!
E foi, consensualmente, a melhor decisão para todos. O elemento que estava a bordo, já cansado de dar ao cabo de ignição, baixou o motor TOHATSU de 4 CV, e deu-lhe gás.
Pouco gás, já que também este não pegava. Pese embora todos os esforços, não foi possível conseguir pegar o motor auxiliar, o motor de reserva para uma emergência.
Registe-se a boa disposição com que estes dois amigos enfrentaram a situação, e a calma e paciência de todos os outros utentes do Clube, que esperaram tempo e tempo por uma solução que não chegou.
Saí para o mar, fiz os meus peixes, e curiosamente, à volta para o Clube Naval, já depois das 15.00h, reparei que o barco estava lá, e com os nossos dois amigos a trabalharem afincadamente nele.
Não faço ideia se conseguiram sair, pois não tive oportunidade de voltar a falar com eles, mas espero que não, que não tenham arriscado a ir ao mar com uma embarcação que declaradamente não reunia, ao momento, condições de segurança suficientes para uma saída de mar. Em terra, tudo o que de mau possa acontecer, tem solução. No mar, pode ter, …ou não. Vamos imaginar que o VHF da embarcação é da mesma qualidade irrepreensível...dos motores...??

Uma pescaria com um amigo não tem de ser transformada numa aventura marítima, num pesadelo interminável para quem apenas se quer divertir por algumas horas.
Cuidar da manutenção do barco é algo que é imprescindível para todos nós.



Vítor Ganchinho



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