E depois digam que eles não são uma ternurinha!...
Há peixes que nos transmitem emoções, que nos fazem pensar terem sentimentos.
Ainda que a expressão seja reveladora de …aflição, de desespero, não devemos cair no erro de lhes pretender incutir esse tipo de caracterização. Sabemos que as bonecas das nossas filhas, para serem aceites e motivarem pena e sentido maternal, devem ter olhos grandes. As nossas crianças pegam-lhes ao colo e fazem aí a descoberta de ser…mãe.
Não é o caso. Estes olhos grandes são instrumentos úteis para outras coisas que não para motivar compaixão.
O “Capros aper”, de nome comum peixe-pau, ou pimpim, é um minúsculo peixe de 5 a 13 cm de comprimento. Ocasionalmente, poderá chegar a 25cm, sendo no entanto casos raros.
Não é muito conhecido, pois habita fundos algo significativos: entre os 40 e os 700 metros, com preferência pelos 100 a 400 metros. Os seus grandes olhos fazem pois todo o sentido para quem vive quase sempre na escuridão permanente.
Forma cardumes muito densos, sempre próximos de recifes, pedras, corais. É um fraco nadador, mas pouco mais se lhe podia pedir, olhando ao seu corpo curto, alto e espalmado.
Tem ou não tem ar de ...”Calimero”? |
Este exemplar pesquei-o a utilizar um carreto eléctrico, a cerca de 150 mts de fundo. Não veio preso pela boca, mas sim pelo ventre.
Nada de espantar já que a densidade dos cardumes que forma, pode levar a que aquele que mordeu na isca tenha escapado ileso, enquanto que um outro, num plano acima, acabou por levar com o anzol. Foi obviamente libertado, sem qualquer tipo de garantia minha de que possa ter sobrevivido. A velocidade de recuperação de um carreto eléctrico é grande demais para permitir a um peixe destes a compensação da pressão na sua bexiga natatória. Ainda assim, e por dever moral, o peixe foi restituído à água após esta curta sessão fotográfica.
Não lhe peçam recordes de velocidade, este corpinho de 10 cm não está preparado para isso... |
Tem uma boca protráctil, que consegue projectar para a frente, aspirando as pequenas presas de que se alimenta. Não me perguntem que tipo de interesse podem ter no filete de meia cavala com que eu estava pescar, mas seguramente terão algum, nem que seja mordiscando a carne da dita e conseguindo assim algum naco. Não será propriamente um peixe que necessite de muito alimento, o seu peso não excede os 50 gramas.
Os “pimpins” juvenis pontualmente arrojam à praia, empurrados pela ondulação das grandes tempestades.
Tenho a certeza de que seria possível fazer melhores fotos. Mas nestes casos, a responsabilidade de libertar o peixe em boas condições de sobrevivência exige uma rápida restituição à água. Diria mesmo que se sobrepõe a um qualquer capricho de fazer uma foto mais nítida. O peixe primeiro.
Vítor Ganchinho