Já aqui vos falei da existência de um tipo de ponteiras que são hoje, a nível global, o suprassumo da tecnologia de construção de canas sensíveis. Falamos de ponteiras em titânio, recobertas de fibra de vidro.
A utilização deste tipo de produto em diversos continentes, trouxe aos fabricantes dados novos, e dificuldades que porventura não estariam à espera.
O Japão é um país com muitos momentos de temperaturas negativas. E em muitos outros, por exemplo os países do leste europeu, essas temperaturas negativas chegam a extremos. Pois foi descoberto algo como isto:
A liga de fibra de vidro + titânio que constitui a ponteira, quando sujeita a valores negativos, pode sofrer alterações. Em ambientes negativos abaixo de -5ºC, a elasticidade deste producto composto diminui, e o retorno da ponteira é feito com mais lentidão.
Devido ao frio extremo das primeiras horas da manhã, e isso acontece em vários países do norte da Europa, por exemplo, e até por influência do vento, pode dar-se o caso de haver uma curvatura perceptível.
Por outras palavras, quando trabalhamos um peixe, a curvatura da ponta permanece dobrada e não retorna ao seu posicionamento normal.
Em qualquer dos casos, assim que a temperatura volta a uma situação normal, a ponteira volta a reagir bem, como se espera de um producto topo de gama. E pode então ser utilizada para pescar normalmente.
Não é algo que nos toque, deste lado nunca vamos pescar com temperaturas de -5 ºC, mas ainda assim não deixa de ser curioso analisar o tipo de recomendações da Daiwa para esta situação:
1- Evite utilizar a cana quando esta apresentar uma curvatura excessiva. A ponteira pode ser utilizada confortavelmente em condições de temperatura normais, mas quando isso não acontece e ainda assim o pescador insiste na sua utilização, alguns factores externos como um enleio de linha, uma situação que leve a forçar a posição normal, podem provocar deformação plástica e causar danos de fadiga ao metal.
2- Esta deformação pode ser corrigida manualmente. Com uma leve pressão, pode dobrar-se a ponteira no sentido oposto e fica resolvido. Mas não é conveniente repetir este processo indefinidamente, já que isso pode causar fadiga do metal.
3- O titânio é extremamente resistente à flexão, e aguenta. Mas o carbono sólido, ou a fibra de vidro que acompanham o metal, que o cobrem, tem uma resistência à flexão limitada. Logo, se em temperaturas muito negativas, for aplicada uma força excessiva, a colagem entre o metal e o producto que o cobre podem descolar.
4- O titânio assume uma determinada forma, neste caso a posição direita, e depois de flexionado, nomeadamente pela acção de um peixe, recupera muito rapidamente a sua forma original. Pode fazer isto milhões de vezes. Todavia, se utilizado, por exemplo a -25ºC, uma temperatura negativa extrema, pode quebrar ou acumular fadiga mecânica que em muito irá contribuir para um pior desempenho.
5- A marca Daiwa oferece um serviço de reposição gratuita de produto para casos em que o pescador procurou pelos seus meios obter a posição correcta, mas acabou por partir a sua ponteira. Pode pescar com tranquilidade, desde que o faça dentro das condições ditas ”normais”.
Precauções úteis para a utilização quer desta cana, quer de qualquer outro modelo ou marca:
1- A sensibilidade extrema de uma ponteira composta, em que o titânio participa enquanto metal de ressonância, é algo que todos os pescadores procuram. É hoje em dia a forma mais fácil e simples de entender se e quando temos um peixe a morder na nossa isca ou amostra. Todavia, existem cuidados a ter na sua utilização. O primeiro é evitar uma carga excessiva sobre a haste. Isso significa não tentar pescar com uma cana que de peso total tem 100 gramas, um peixe que pese 100 quilogramas. Há equipamentos adequados para cada tipo de peixe.
2- Evite colocar a cana numa posição vertical, quando na ponta da linha tem peixe com algum peso. Por exemplo, se tem um peixe de 50 kgs, não deve tentar levantá-lo da água e colocar dentro do barco, com a sua cana de spinning. A posição vertical da cana obriga a que apenas a ponteira dobre, fazendo incidir sobre ela toda a carga de esforço do peso e reacção do peixe. A sua cana irá quebrar, de certeza.
3- Evite tentar partir uma linha presa ao fundo, dando esticões com a cana. Não pode fazer bem à estrutura de uma cana ser utilizada dessa forma. O anzol ou amostra presos ao fundo soltam-se, ou a linha parte-se, utilizando as mãos cobertas com luvas.
4- Se tem nas mãos uma cana que adquiriu para pescar pequenos peixes, não a utilize para outra função, outro peixe alvo. Uma cana de spinning não é uma cana de surf-casting. Uma cana de jigging não é uma cana de trolling. Há pesos compatíveis e limites de carga que não devem ser ultrapassados.
5- A sua cana foi testada a temperaturas até 0ºC. Daí para baixo, pode acontecer que exista deformação momentânea da ponteira. Devido às características técnicas do metal que constitui essa ponteira, a sua elasticidade diminui substancialmente. Até temperaturas de zero graus, não sentirá dificuldade acrescida em pescar e pode pescar, mas daí para baixo, e pior quanto mais negativo, terá de estar atento a este factor.
6- O material que constitui uma ponteira de titânio e fibra, é altamente resistente a deformações. Por isso são ponteiras que não partem. Mas caso esteja a pescar em locais de temperaturas extremas, e tenha de proceder pontualmente à correcção da posição da sua ponteira, não deve utilizar meios mecânicos, ou o isqueiro ou qualquer outra forma de produzir fogo e calor.
7- No caso de pretender substituir o passador de ponta, tenha em atenção que a haste de titânio é algo de muito fino, muito reactivo e que pode provocar ferimentos, caso a introduza num olho, por exemplo.
8- Nunca por nunca pescar com uma ponteira à qual falta um passador. A cana fica descompensada e o resultado final nunca pode ser o original.
Felizmente para nós, não é normal que tenhamos temperaturas negativas. Portugal não é, ainda, a Sibéria.
É pescar com ânimo!...
Vítor Ganchinho
