Em termos de segurança, parece-me importante referir o seguinte: os acidentes sucedem-se, causam mortes desnecessárias, e aprendemos muito pouco com eles.
Seria natural que cada pessoa que sai à pesca tivesse a perfeita noção dos riscos que corre ao não utilizar um colete de segurança. Muito mais que o facto de ser obrigatório por lei, deveria ser obrigatório por consciência própria, um imperativo individual. As pessoas que vão ao mar têm família, têm filhos que dependem deles, e ainda assim, assumem uma atitude de “deixa andar”, de “não me importo”, de “isso só acontece aos outros”, que resultam em acidentes, quantas vezes mortais. É muito português pensar que aqueles que utilizam coletes são menos pescadores, são pessoas com medo, são fracos, quando na realidade, esses apenas estão a zelar pela sua segurança própria e pelos seus familiares. Estou particularmente à vontade para tratar este tema, porque pratiquei natação como federado, durante muitos anos fiz triatlo praticamente como profissional, e assumo que nadar para mim terá poucos segredos. Foram alguns milhares de quilómetros nadados em piscina e mar.
Durante anos e anos, a receita da manhã implicava todos os dias um mínimo de 8 km de natação. Fiz também um curso de nadador salvador em Tróia. Pratico caça submarina e isso dá-me muito à vontade na água, em situações de risco. E eu utilizo colete de segurança.
Não obstante me sinta capacitado para poder resolver situações de quedas à água, naufrágios, etc, eu não abdico do colete de segurança. Porque para além de tudo tenho …família. Colete sim, …porque sim.
O incómodo que um colete destes causa é nulo! |
Fazendo de advogado do diabo, deixem-me dar uma sugestão sobre este tema. Se é verdade que a segurança individual de cada um deveria partir dele próprio, ainda assim consigo entender que possa ser algo incómodo passar um dia inteiro com um colete. Sobretudo no Verão.
Não obstante a qualidade dos equipamentos de hoje, bastante minimalistas, ainda assim será entendível que muitos pescadores das velha guarda não os queiram utilizar. Quando não o fazem, objectivamente arriscam a sua vida.
Argumenta a nossa legislação que os únicos coletes que garantem a sobrevivência serão os de enfiar pelo pescoço, com 150 N de força de sustentação. Seja. Seguramente alguém com conhecimentos técnicos e habilitado para dar um parecer vinculativo, fez essa escolha.
Mas se está provado que o sistema não é aceite, por bom que seja, não seria de pensar em abrir o leque de possibilidades a um outro tipo de colete de cintura, que continua a manter os 150N, pese a falta de sustentação da vitima em posição de possível respiração inconsciente?
Porque esse é o argumento, e correcto, das autoridades: em caso de acidente, se alguém cair ao mar inconsciente, um colete de cintura pode não ser suficiente. Não vai ao fundo, mas pode perfeitamente ficar virado para o lado errado, de boca para baixo. E morre por isso.
Quando a lei determina algo, está a fazê-lo olhando ao que é melhor, ao que pode proporcionar resultados mais positivos. E se é isso que está determinado, não é por acaso, alguém consumiu tempo a idealizar um sistema que dê o máximo de protecção, causando o mínimo de incómodo.
Mas se isso não é aceite e é um óbice a que se assuma como peça essencial quando se sai ao mar, (e a prova é que a cada dia acontecem acidentes graves por as pessoas não terem qualquer tipo de protecção), porque não abrir a possibilidade de um meio termo, algo que funciona, embora não a 100%?
Esses coletes existem, e em rigor são os que podem ver em cada pescador japonês. Têm à mesma a garrafa de CO2 e são automáticos. Isto quer dizer que a vítima não necessita de fazer nada para que o colete expanda, e o impeça de ir ao fundo. Mais que isso, têm uma pega que pode ser acionada em caso de emergência pela própria pessoa. O sistema é muito comum nos Estados Unidos e Japão, e funciona. Porque não incomoda, este colete é muito corrente na actividade da pesca, muito bem aceite, e entendido como tão necessário quanto …a cana.
Passo algumas imagens:
Estes coletes, colocados numa posição que não incomoda de todo a actividade da pesca, são bastante mais caros, umas três vezes mais, que os outros, homologados. Mas existem e podem ser uma solução intermédia, entre o usar um colete e estar devidamente protegido, e o não usar, e estar desprotegido de todo.
É apenas uma sugestão, uma referência a algo que poderá eventualmente ir para além da guerra pescador/ autoridades, deste jogo de gato e rato, em que alguém multa outrem com o objectivo de lhe salvar a vida, …e mesmo assim é acusado de perseguição.
Na verdade, nem deveria ser necessário haver fiscalização, usar o colete deveria ser um gesto natural, e partir de quem quer ir pescar.
A questão que se coloca é decidir se este novo modelo de protecção individual pode ou não ser uma possibilidade a considerar. Podemos fazer finca-pé e dizer que só os (até agora) homologados são utilizáveis, e já sabemos que metade das pessoas os irão retirar à saída da barra, ou fazer a abertura a este novo modelo, e tentar que a sua maior portabilidade possa cativar mais aderentes.
Têm a palavra aqueles que podem decidir, os legisladores.
Nota: vou voltar a este assunto, com imagens em vídeo, para que possam ficar com uma ideia mais precisa sobre o sistema de funcionamento deste tipo de colete de segurança.
A sair nos próximos dias.
Vítor Ganchinho