SIM, COM JIGS!...

Aquilo que sinto é que cada vez mais pessoas admitem a possibilidade de um dia vir a tentar pescar com jigs. Ter uma primeira experiência.
Ou porque conseguem informação sobre pescarias feitas por amigos ou conhecidos, e interessam-se pelos resultados, ou porque encontram no jigging e noutras práticas alternativas de pesca uma forma de sair da rotina de sempre, a modalidade vertical.
Não deixa de ser estranho que existam pessoas que pescam durante décadas, 30 / 40 anos, com o mesmo esgotado sistema, no mesmo sítio, com as mesmas iscas, aos mesmos peixes. E com os mesmos resultados.
A evolução dos pesqueiros não é de todo positiva, há menos peixe, a cada dia será necessário saber um pouco mais para conseguir capturas minimamente satisfatórias. Inclusivé dispôr de equipamentos de melhor qualidade, que permitam fazer algo mais, que transmitam mais e melhor informação. Há todo um processo evolutivo que aponta no sentido de ser necessário saber mais, fazer mais, para obter os mesmos resultados. E isso começa a ser pouco, as pessoas estão hoje mais exigentes, querem mais de um dia de pesca. Há saturação da rotina instalada. Muita gente quer sair para algo diferente, qualquer coisa que possa proporcionar experiências diferentes.
Também sei que há pessoas que não acreditam de todo que seja possível pescar um peixe utilizando algo que não seja o trivial troço de sardinha, ou qualquer outro tipo de isca orgânica, uma minhoca, um casulo.
Para essas pessoas, passo hoje algumas imagens de peixes capturados com jigs. Peixes que muito provavelmente não seriam possíveis de outra forma.


Tremenda imagem exemplificativa da voracidade de um monstro dos mares. Estes peixes engolem outros peixes mais “pequenos”, com 4 ou 5 kgs, por isso nunca achem um jig demasiado grande.


Que tipo de pesca podemos contrapôr a uma técnica que tem em si tudo aquilo que faz falta?

Falamos de um peso, algo que leva a “isca” ao nível do patamar de água onde está o peixe, (e acreditem que há gente a fazer jigging a …800 mts!), algo que pode ser trabalhado de forma a fazer interessar um peixe de boa dimensão, o que já de si é notável, pois são animais que têm exigências muito específicas em termos alimentares, e que ainda tem a robustêz necessária para aguentar os golpes que irá sofrer dentro da boca abrasiva de um destes peixes. Um jig é tudo isso, peso, isca, e uma forma barata de pescar muito e bem.
Pescar com isca viva é uma solução, mas como fazê-la chegar a centenas de metros de fundo? Pois sim, por exclusão de partes chegamos sempre à mesma conclusão: o jigging encerra em si um conjunto de virtudes que são pouco menos que inultrapassáveis. Por outras palavras, numa pequena peça temos mesmo tudo aquilo que faz falta, e se dúvidas houvesse em relação à sua eficácia, pois vejam as fotos.


Força nos braços, porque o caso é sério.


Quando se pesca a grandes profundidades, por vezes utilizam-se jigs com pinturas fosforescentes, que brilham no escuro. Reparem nos assistes aplicados no jig. Um deles provavelmente abriria perante uma peça desta envergadura. Mas o esforço de tracção é dividido por mais de um anzol, e aguenta.


Consoante a profundidade a que se pesca, assim são as capturas que se efectuam. Em Portugal podemos começar por fazer jig casting, à superfície, utilizando pequenos jigs de 5 gr, podemos descer alguns metros e passar a jigs de 20/ 30 gr, e por aí fora, até chegarmos ao reino dos peixes de profundidade, com jigs de 400/ 600 gr, ou mais.
A cada nível de cota marítima corresponde um determinado número de espécies. Cabe-nos a nós escolher qual aquele que mais apreciamos, e dirigir a nossa pesca a esse tipo de peixe em particular.
Sempre com jigs.




O jigging pesado pode dar peixes deste calibre.


Os grandes pensadores da pesca não se ficam por copiar aquilo que vêm fazer aos outros. Analisam as condições de mar que têm, e criam respostas para elas.
Muitas vezes isso passa por inventar novas técnicas, novos equipamentos, acessórios sem os quais não seria possível executar e obter este ou aquele efeito.
O retorno que se obtém por cada pequeno êxito é sem dúvida muito maior quando parte de nós o acto de criação. Bem perto de nós, temos em Valência, o meu amigo António Pradillo, um catedrático da pesca ligeira. A rapidez com que percebe o que é necessário fazer, e a destreza e categoria com que o faz, tornam esta pessoa um fenómeno de pescador. Como todos os génios, é uma pessoa simples, que ensina e faz gosto em que os outros obtenham resultados.

Também no Japão há muita gente a pensar a pesca de forma muito séria. Provavelmente o mais conhecido de todos, o sr Norihiro Sato, nascido a 3/12/1956, é uma dessas pessoas. Mora na cidade de Nishinomiya, Perfeitura de Hyogo.
Numa próxima oportunidade vou falar-vos um pouco dele, e da sua incrível capacidade de entender o mar.



Vítor Ganchinho



9 Comentários

  1. Boa noite,

    Extremamente interessante ver que se pesca com jigs a tais profundidades!

    Está descoberta deixa-me com uma curiosidade; Como se pratica jigging a essa profundidade? Com carretos elétricos ou há pessoas capazes de trazer um bicho desses à mão desde as profundezas?

    Obrigado e melhores cumprimentos,

    Duarte

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    1. Olá Duarte. A pesca profunda com jigs é um campo extremamente interessante, e que representa um estado de evolução qualitativa do pescador. Para lá chegar, já teve de ultrapassar muitas fases primárias de pesca, nomeadamente a questão de querer pescar para comer, ou para rentabilizar os custos inerentes à prática de pesca.

      As pessoas que pescam profundo já passaram para o outro lado da necessidade de trazer peixe para casa, e até de querer saber quanto lhes custa obter uma picada de um peixe bom.
      Digamos que é uma evolução natural, mas apenas possível para quem leva a pesca para um patamar de realização pessoal, de actividade de ar livre, de terapia de fim de semana contra ocupações profissionais exigentes.
      É algo que se faz quando se pode prescindir do peixe enquanto alimento físico, e se encara a pesca como um bem de espirito.

      Nós temos alguns pescadores nesse patamar, e eu conheço alguns.
      A minha pesca preferida é o Light-Jigging, e aquilo que eu faço é algo que resulta de muita observação, mas também de um cunho pessoal, e ...."invenção" minha.
      Concretamente eu faço "jig-casting" a partir de um barco.
      É algo que sai fora dos padrões normais, mas que resulta à luz da realidade que tenho no mar que frequento.
      Quando falo com os mestres japoneses, aquilo que eles me dizem é que também eles adaptam muitas vezes as técnicas clássicas, o slow-jigging padronizado, com x voltas de manivela e acções de cana, fixos, ou o speed-jigging puro, e clássico, e com isso conseguem resultados diferentes.

      Penso que cada um de nós é um potencial inventor de algo que, na sua zona de pesca, com os seus peixes, pode ser melhor que qualquer outra coisa.
      Eu não me queixo dos resultados. Saio de casa com algumas canas, e uma mala com jigs e quando volto tenho peixes na geleira.

      Mas posso dizer-lhe que é possível pescar jigging até aos 1200 metros de fundo com carreto manual. Não com o seu equipamento, mas com algo que é preparado para essa finalidade, com linhas próprias para esse efeito, e jigs...pesadinhos.

      Quem sabe a valer sobre isso é o meu amigo José Rodrigues, um catedrático da pesca profunda. Ele compra e utiliza jigs de...1 kg.

      E posso garantir-lhe que há coisas mais difíceis de fazer que "rebocar" um peixe grande até à superfície com uma boa cana e sobretudo com um bom carreto de jigging.
      O nosso melhor especialista nesse tipo de situações será sem dúvida o Luis Ramos, e
      posso dizer-lhe que irei estar com ele em breve, para fazer jigging profundo aos grandes peixes atlânticos de Angola.

      No seu caso, acho que deve colocar a fasquia mais baixa, e tentar aprender a fazer bem aquilo que pode fazer aos peixes que temos.

      Não vá para extremos ...tem tempo de lá chegar.


      Abraço
      Vitor


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  2. Boa tarde,

    A questão do jigging em profundidade não passa de uma curiosidade. Nem tenho meios nem de perto técnica para ambicionar praticar a modalidade, ainda.

    Agora o meu foco estará no LRF e spinning ligeiro. Tanto devido à acessibilidade como ao facto de ser uma prática muito boa para desenvolver a técnica.

    No entanto, enquanto apreciador de pesca na sua generalidade, irei sempre ter muito interesse em ler e ver várias modalidades.

    Caso publique mais sobre o tema irei ler com muito gosto.

    Cumprimentos,
    Duarte

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    1. Quando sair para fora do rio, vai encontrar um mundo novo.
      As suas limitações são, antes de mais, não poder operar num campo de pesca mais efectivo.
      Aquilo que faz está de tal forma limitado que qualquer resultado que consiga é puro milagre.
      Pode estar bem equipado mas isso de nada vale se não houver peixes onde lança.

      Dou-lhe um exemplo prático: um Ferrari no meio do trânsito compacto passa a ser um carro vulgar. NÃO ANDA....

      Certo?


      Abraço
      Vitor

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  3. Bom dia,

    É sem dúvida o caso! Começo a ponderar levar o barco de atrelado até Vila Nova de Milfontes e começar a fazer umas saídas a partir daí, sondar e começar a descobrir e explorar pesqueiros. Apesar de continuar algo limitado a ir apenas a 5.5km da costa, certamente haverá mais possibilidades do que a 5.5km para lá do porto de Setúbal…

    Estive a calcular e, quando o mar esta calmo, é possível cobrir a costa desde Sines até ao Sul de Vila Nova estando sempre abrangido pelo Porto de abrigo de Sines, Porto Covo, ou Vila Nova.

    Sines é pouco mais de 1 hora e meia de carro, é sem dúvida uma possibilidade para quando o mar o permitir.

    Como tudo o resto na vida, a pesca tem uma curva de aprendizagem muito grande. É preciso sair e tentar para conseguir…Vontade não falta, isso é garantido!

    Abraço,
    Duarte

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    1. Força aí!

      Vai estar no teatro de guerra, na zona do peixe.

      A seguir, bastam uns dias de procura e passa a ter um mapa do tesouro.

      A dada altura vai entender que o jigging pesado dá duas ou três picadas, e o jigging ligeiro umas 20 a 30, sendo que algumas delas não vão valer nada, são garoupinhas, sardas, etc.
      Mas no meio disso, vão aparecer as boas. E que, ainda assim, compensam largamente.

      Estamos em tempo de pargos.



      Vitor

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  4. Boa tarde Vítor e Sr Duarte

    Gostei de ler o artigo sempre magnifico e os vossos comentários.
    Quando se comenta ganha-se, o Vítor responde sempre com conhecimento fundamentado.
    Está aqui a prova que é importante comentar, mesmo que sejam comentários simples como os meus hehehe.

    A analogia do Ferrari foi top. Já senti isso , não estou a falar de carros, tenho uma Megane :)

    Abraço
    Toze

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    1. António Lopes, o meu amigo está proibido de comprar materiais de pesca!
      Como não tem tempo para ir, ...pesca a comprar linhas e amostras...

      Para mim, aquilo que é importante é sentir que do outro lado há gente. Nada desanima mais que escrever artigos que sabemos poderem ser úteis a alguém, se do outro lado não há eco.

      Neste momento já temos pargos e bicas com fartura, há peixe. Não fique em casa.


      Grande abraço
      Vitor

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  5. Olá Vítor

    Nunca mais comprei mais nada, ainda não utilizei algum material que comprei.

    Vítor do outro lado há sempre gente, infelizmente os Portugueses são assim, temos que mudar esta mentalidade a pouco e pouco.

    Grande Abraço
    Toze

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