SEMANA DOS MONSTROS 3

Temos vindo a acompanhar nos últimos dias algumas capturas de peixes de bom porte.
Os equipamentos utilizados são de gama média /alta, e adequados ao tipo de pesca praticado. Assistimos à quebra de uma cana, mas provocada por um erro técnico do pescador em causa.
Quando passamos com a cana acima de um ângulo de 45º, arriscamos a que esse combate acabe prematuramente. A maior parte das canas parte nesse momento, por haver um excesso de esforço concentrado num pequeno troço do seu blank. Há bem pouco tempo, um cliente partiu-me uma cana em carbono, com um peixe que não teria mais de 1 kg. Literalmente colocou-lhe a ponteira na boca, recolheu linha até não poder mais.
A seguir, cometeu o erro sacramental que vem em todos os manuais de como não fazer: levantou a cana e o peixe na vertical. A cana, nestas condições, parte sempre.

E o que acontece se tentarmos pescar peixes pesados, utilizando equipamentos mais ligeiros? Qual é o efeito prático? Seremos capazes de trabalhar um peixe grande, mas com um equipamento concebido para peixes pequenos?

Vamos ver isso num breve filme, para que tenham a ideia de que efectivamente para cada tipo de peixe existe um modelo de cana e carreto específicos.
Ir contra isso é inventar. Os materiais têm os seus pontos máximos de carga e, se ultrapassados, o mais normal é que se dê a rotura. É sempre uma tristeza, desde logo porque a este tipo de materiais correspondem memórias, bons momentos, capturas que quisemos eternizar através de uma foto. Uma cana partida é um sinal: naquele momento não fomos suficientemente bons, em termos técnicos.
Quando a cana parte, aquilo que se sucede é a quase irremediável perda do peixe, (não neste caso, por sinal….), e um enorme sentimento de frustração que nos persegue durante dias.


Deste filme, escolhi algumas imagens exemplificativas, para que possam seguir o raciocínio.


Quando o peixe pica, fica durante alguns instantes num estado de dúvida, em que nós ainda temos alguma margem de manobra para poder actuar. Em boas mãos, esses segundos são preciosos….e muitas vezes suficientes para que consigamos inclinar a balança dos acontecimentos a nosso favor.


Não nos esqueçamos que o peixe, se mordeu a nossa isca, o fez perfeitamente convicto de que estava a atacar uma presa viva, igual a tantas outras que conseguira capturar ao longo da sua vida. Até que entenda que algo de diferente se passa, nós temos alguns segundos. A partir do momento em que sente a prisão e passa de predador a presa, o peixe irá dar tudo o que tem dentro de si para se conseguir libertar. A cada espécie corresponde um padrão de movimentos e tentativas de fuga, sendo as variações algo que pode ser enquadrado em factores tão diversos quanto o peso do peixe, a temperatura das águas , a corrente, eventual ondulação e também um factor que poucas vezes levamos em conta: a profundidade. Para a mesma espécie, o comportamento pode ser diferente dependendo da quantidade de água que o peixe tem por baixo.


Aqui, o pescador, seguramente alguém experimentado nestas lides dos peixes com peso, já percebeu que passou do estado de graça, para um ponto em que já nem consegue ter a cana numa posição de combate aceitável. A partir deste momento, o peixe é quem comanda, porque pode escolher para onde vai.


As canas modernas estão construídas para suportar esforços de flexão, naturais sempre que temos uma qualquer resistência na linha. E também aguentam, dentro de alguns limites, esforços de torção.
Não esqueçamos que os passadores metálicos estão unidos ao corpo da haste por cola e linha de catrafilamento. O fabricante dos passadores terá considerado que o seu produto será capaz de resistir, sem dobrar, a uma determinada carga de pressão. Quando excedemos essa carga prevista, tudo pode acontecer. Até que os ditos passadores...partam.
Canas como as Daiwa Saltiga Expedition, são pensadas para aguentar peixes como os GT, atuns dentes-de-cão, veleiros, etc. Os carretos Daiwa Saltiga idem, têm na sua estrutura componentes que foram exaustivamente pensados para resistir a tremendos esforços de tração. Nunca esqueçam que no carreto que podem ver acima, um carreto de bobine fixa, a saída de linha é feita na lateral, ou seja a linha sai na perpendicular ao eixo da cana. Conseguem visualizar onde é que irá estar situado o ponto de carga provocado pelos esticões do peixe: no eixo vertical do carreto. Esse eixo, onde está instalada a bobine, terá de ser suficientemente forte para aguentar a “pancada” que vem da ponta da linha, onde temos o nosso peixe. Quando não é, ou seja, quando o eixo é feito de material menos resistente, o primeiro peixe grande é sempre o último para esse carreto: o eixo empena, e isso não tem reparação possível.

Os que aguentam a sério são estes:

Carreto Daiwa Saltiga Expedition. Uma máquina indestrutível, concebida para aguentar pancada. Toda a sua construção obedece a critérios de solidez absoluta, e daí o preço 790 euros. Estes carretos têm peixes incríveis no seu curriculum: marlins, atuns, espadartes, etc….e serão sempre os carretos que iremos deixar aos filhos e estes aos nossos netos. 


Aqui, o pescador sabe que já perdeu. Limita-se a dar apenas carreto a uma luta que pede também cana.


Se fizer tudo certo, talvez o carreto fique ainda em condições de voltar a ser utilizado.
A cana, nesta situação, já nem participa na pesca, está apontada ao peixe, e há muito deixou de poder fazer o seu trabalho de mola, de elemento gerador de fadiga.
Quando se chega a este ponto, é a estrutura do carreto, a resistência da linha, da baixada, e do anzol que estão em causa. Não há muitas opções:

1- O pescador pode abrir o drag e preparar-se nesse caso para uma interminável luta, em que o peixe vai poder decidir em que campo de batalha quer lutar, se lá longe nas profundidades, eventualmente tentando cortar a linha numa aresta de rocha do fundo.

2- Ou bem acima, no melhor sítio de todos para provocar a rotura, o casco do barco, ou o hélice.

Em qualquer dos casos, a força explosiva do peixe decide. Não é possível, com material subdimensionado para a função, poder escolher o que queremos que o peixe faça.
Nestes casos, a altura de água que o peixe tem por baixo de si determina a sua estratégia. Há espécies de peixes que são mais…”honestas” e fazem força no azul, até se esgotarem. Outras, mais maliciosas, tentam antes de mais entender em que situação se encontram, e a partir daí tratam de nos dificultar a vida, procurando explorar todas as possibilidades, desde as arestas do nosso barco, a um cabo de âncora que possa estar lançado, a qualquer escolho que lhes possa servir para cortar a linha.


Aqui, perfeitamente visível que se trata de um pequeno tubarão que (nada) inadvertidamente mordeu a isca.


São peixes fortes que nunca dão tudo o que têm no primeiro arranque.
Isso deve-se ao facto de, por serem peixes solitários do azul, poderem passar dias e dias sem encontrar comida. Por esse motivo, têm fígados muito volumosos, onde armazenam uma enorme quantidade de energia. Por esse motivo, quando conseguimos aproximá-los do barco, é de esperar sempre um segundo, e até terceiro arranque, porque vão sempre às reservas buscar forças para mais um esticão.
Nesse sentido, e por mais atrativo que nos seja bloquear a embraiagem do carreto para poder ter um maior ponto de apoio e conseguir assim conduzir o peixe para onde nos convém, devemos resistir à tentação de o fazer. O drag deve manter-se com aperto apenas moderado, prevendo o sempre expectável novo arranque.
No caso acima, e conforme se esperava desde o início, o peixe deu um último esticão, meteu a cabeça para baixo, e a linha cedeu...



Vítor Ganchinho



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