SÓ ME ACONTECE A MIM...

Não tenho a ideia de quantas vezes já vos disse que sou um pára-raios de acontecimentos insólitos.
Ou porque provavelmente me ponho a jeito, ou porque tenho uma malapata tremenda, a verdade é que estão constantemente a acontecer-me coisas estranhas.
Desta vez foi mesmo um amigo russo, que, por força de negócios de exportação que tenho, acabou por me visitar com alguns amigos. O tempo por cá estava perfeito, 26 ºC, e ainda parecia mais perfeito a quem está habituado a temperaturas negativas regulares. Por isso mesmo surgiu a possibilidade de eu os levar à pesca.
É claro que gostaram, é claro que os petiscos que levei foram muito apreciados. O nosso normal já é considerado muito bom por quem nos visita. Os portugueses recebem todos os estrangeiros com os braços abertos, com sinceridade, com alegria, e isso faz a diferença para outros povos.
E gostaram ainda mais porque o peixe apareceu. Pescar em Portugal ainda é um paraíso, quando comparados com muitos outros países que em termos de peixe são verdadeiros desertos. Nós ainda temos peixe.


Tenho a certeza de que estas águas da foz do Sado nunca viram um pescador tão aguerrido quanto este: pescar com uma corda grossa e um jig de 300 gramas….?


Conto-vos a história em três tempos. O meu amigo apareceu à partida com um embrulho, guardado num saco plástico, que era nem mais que uma corda com 80 metros de comprimento, um cabo de aço de 1.2mm de diâmetro, e um jig de 300 gr, equipado com duas fateixas, sendo a posterior algo de nunca visto, em tamanho grande. Perguntar-me-ão: e para que tipo de peixe é isso?!
Pois, ….é para tudo. Um homem obstinado que pesca a tudo com aquele equipamento, é duro, é homem de barba rija!
Não preciso de vos dizer que o resultado de pescar com uma corda de mão, não foi demasiado positivo. Pescou aquilo que se pesca habitualmente quando se está completamente desenquadrado, fora do contexto.
O sistema em si funciona, mas precisa de outros oponentes, que não temos por aqui, nas nossas mansas águas. Zero peixes e zero perspetivas de sucesso.


O maior problema nem é a corda estar sempre emaranhada. É tudo junto, é querer fazer de Setúbal uma Baía de Lucira, em Angola, ou a foz de um rio na Costa do Marfim. Não temos nada que queira morder isto, com cabo de aço e ….tão forte


Tenho a certeza que os chocos do Sado terão franzido a testa, questionando a sanidade mental de quem lhes largou semelhante artefacto.
Habituados a serem pescados com toneiras, terão estranhado esta inovação. Mas a verdade é que este sistema funciona mesmo, desde que no local correcto.
O cabo de aço destina-se a impedir o corte limpo feito pelos dentes das barracudas, as quais crescem em África um pouco acima dos 40 kgs. Os seus dentes cortam como lâminas de barbeiro, e nem vale a pena tentar com nylons. O cabo de aço aguenta, e mais se for aço de cabo de carregar cargas marítimas. A corda, em princípio, e se a pessoa se aguentar firme dentro do barco sem ser arrastada, também não irá partir.
Falta apenas um par de fateixas rijas, e está o conjunto feito. Basicamente este é um sistema para arrastar peixes que se atrevam a meter a boca onde não devem.
Por graça, perguntei-lhe se isto seria algo que pudéssemos utilizar como….âncora.


Ter fé ajuda, mas a pesca tem de ser um pouco mais que fé. É antes de mais a adequação de um determinado tipo de equipamento à necessidade alimentar de uma determinada espécie. Aqui, tudo está desenquadrado, fora do contexto. E por isso, a possibilidade de sucesso é nula.


Adequar o nosso equipamento às espécies que procuramos exige conhecimento. No caso de pessoas sem experiência anterior, é minha convicção que podem e devem procurar aconselhar-se junto das pessoas que mais os podem ajudar: quem vende equipamentos de pesca.
Ou porque são eles próprios pescadores, ou porque conversam com quem pesca, os vendedores de artigos de pesca acabam por ser um almanaque de conhecimentos.
E isso faz muita diferença. Claro que há os mais escrupulosos e os outros. Há quem venda aquilo que não quer ter em casa, e há quem aposte tudo nos resultados que esse cliente irá obter no futuro. Um cliente satisfeito, volta a comprar algo mais. É uma questão de perspectiva, de aposta firme na seriedade, de honestidade.
Na GO Fishing Portugal procuramos ouvir o cliente, saber o que pretende fazer, e a seguir propomos o equipamento mais adequado.
Porque pescamos muito, porque temos muitas dezenas de anos de experiência a fazê-lo, sabemos exactamente o que aconselhar.


Isto é completamente imprestável para o tipo de pesca que fazemos por aqui. Mas funciona bem em paragens africanas com peixe muito grande, águas muito tapadas, ou mesmo de noite.


Deste lado do Atlântico, pescar com um cabo de aço grosso só se justifica para quem procura um tubarão Mako, uma tintureira, por aí. O resto dos peixes não necessitam de semelhante artefacto.


Os carapaus resolvem questões complicadas, quando temos gente que não está habituada a pescar nas nossas águas. Têm uma boca enorme, são muito vorazes, e sobretudo… ferram-se sozinhos. Com uma cana “normal”, um pouco de isca, as coisas vão.


Já relativamente aos colegas, tudo bem que apareçam de fatos completos brancos. Porque não?! Embora nos seja algo estranho receber a bordo pessoas com este tipo de vestimenta, temos de aceitar a diversidade e este é um fatinho tão bom quanto qualquer outro para pescar. Pena que ao fim de meia dúzia de cavalas e bogas, o fato esteja num estado lastimável, de sangue e cacas de peixe. Mas à partida, a ideia é boa, diria …aceitável.




São famosos os petiscos que preparo para os meus convidados. Podemos pescar mais ou menos, mas é garantido que a comida e as bebidas são de boa qualidade.
Há que ter em atenção que algumas pessoas podem ser alérgicas a este ou aquele tipo de alimentos.
Também resulta muito bem, à anteriori, saber quais as preferências de cada uma das pessoas que vão sair connosco.


Pausa para um lanche ligeiro. É muito importante providenciar um saco para os detritos. São pequenos detalhes mas que fazem muita diferença aos olhos de quem sai ao mar connosco. O lixo é trazido para terra e encaminhado para a reciclagem.


Fornecer luvas descartáveis ajuda pessoas que não têm prática de segurar em peixes. Há quem não as aceite, mas é de bom tom oferecer, aquando do início da pescaria.


A descoberta da pesca, sobretudo por gente jovem, é sempre um momento de grande prazer para mim. Com melhores ou piores resultados, todos pescam, todos ficam satisfeitos.  Voltar a terra com uma caixinha de peixe para grelhar para os amigos é sempre resultado de muito planeamento, de muito trabalho e de algum conhecimento.


Vejam o filme:




Vítor Ganchinho



8 Comentários

  1. Vitor,

    Ando eu a reduzir as minhas linhas para fios de cabelo, quando afinal o segredo está no "zero grosso"!
    Muito bom esta sua aventura!!!

    Abraço,
    A. Duarte

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    1. Bom dia António! Isto vai lá é com cordas grossas, de carregar camiões. Um aboa corda de 2cm de diametro não deixa de ser ...um trançado.

      Como correu com os vinis? Posso ajudar em algo?
      As noites já estão frias, os peixes começam a ter tendência para não mexer muito logo à alvorada nos pesqueiros baixos.


      Abraço
      Vitor

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  2. Boa noite Vítor,
    Acabei por não ir fazer uns lançamentos, o meu filho estava meio adoentado.
    A ver se na próxima semana, tenho essa possibilidade.

    Abraço,
    A. Duarte

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    Respostas
    1. Oi António Quando pescamos de costa, em zonas ribeirinhas, o alvo devem ser peixes de dimensões mais modestas, e esses conseguem-se com vinis pequenos, e montagens muito leves. Para o seu pequenino, o melhor mesmo seria uma saída de barco, a uma zona com peixe fácil. Nesta altura ainda há muita cavala, muito carapau, ...e os pesqueiros são relativamente baixos, 15/ 20 metros.
      Ele precisa muito mais de actividade regular, de muitas picadas sucessivas, do que de uma espera longa por um peixe maior. Os miúdos ( eu sou pai e sei o que fiz na altura certa para agora ter duas pescadoras em casa) gostam de coisas muito imediatas, que produzam resultados rápidos. Esqueça as douradas e concentre-se em carapaus...


      Abraço
      Vitor

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    2. Boa tarde Vítor,

      Vendi o meu Semirigido há dois meses e não quero levar o meu pequeno numa embarcação MT cheia de pessoal.
      Entendo e estou plenamente de acordo com o que disse, a motivação pela pesca nestas idades, movem se pelos resultados obtidos, mas de momento e até ter nova embarcação terá que ser desta forma.

      Abraço,
      A. Duarte

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    3. António, agora em Janeiro vamos marcar um dia para ele sair connosco. Vai como meu convidado. Eu levo o equipamento dele, tenho tudo o que faz falta para um "benjamim" poder pescar. Vai fazer jigging, e pesca com vinis. Não levamos iscas orgânicas, para ele começar logo como deve ser. Nada de chegar a casa com a roupa a cheirar a sardinha...

      Quero ver os músculos desse rapaz a estalar, com ...um carapau!


      Abraço
      Vitor

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    4. Bom dia Vitor,

      É com a maior satisfação e alegria que aceito(mos) o seu convite, não sei quem ficará mais eufórico, se o meu pequenote se eu próprio!

      Quanto ao cheiro da isca orgânica, ele nunca gostou, quanto a isso temos uma grande vantagem.

      Esses carapaus que se cuidem, vamos ver se nasce mais um apaixonado pela pesca.

      Abraço,
      A. Duarte

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    5. Bom dia Antonio Vamos ter uns dias ruins, mas, como sempre, a seguir à tempestade vem a bonança, e haveremos de encontrar as melhores condições para que possa levar o seu filhote.
      É tempo para testar os vinis.
      Vamos procurar um robalo, e se ele conseguir fazer um peixe para o jantar da família, tenho a certeza que irá ficar orgulhoso. E o pai ainda mais....


      Abraço
      Vitor

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