COMPRAS ON-LINE NO O-ELE-X

A sociedade moderna tem hoje em mãos ferramentas de compra que as gerações anteriores nunca sonharam ter. Pululam lojas on-line pela Internet, e cada uma oferece produtos mais milagrosos e infalíveis que a outra.
Podemos comodamente a partir de casa fazer as nossas compras de produtos de pesca sem nos maçarmos a ir à loja, sem sequer termos de falar com ninguém.
E é por aí que a sociedade segue o seu caminho, por um relacionamento impessoal, frio, de máquina para máquina. De telemóvel para telemóvel.
Nada a opor se essa for a vontade de quem compra. E nenhum mal vem ao mundo, se quem pretende adquirir algo souber exactamente aquilo que pretende.
Acontece que nem sempre é assim.


Os “barretes” que se apanham são sucessivos, e alguns deles são de bradar aos céus.


Trago-vos hoje o exemplo de três simpáticos suecos que resolveram vir a Portugal pescar. Sem equipamentos, a decisão foi de ir à Net e digitar “Pesca de mar alto em Portugal”.
Aquilo que lhes saiu em sorte foi algo de estranho, tenebroso, mas que hipoteticamente seria o mais indicado para pescar peixes grandes no nosso país.
Vejam acima o resultado disso, uma cana de 1,5 mt, com um carreto em formato de nave espacial e uma amostra de chapa rotativa.
Na GO Fishing Portugal, nós fornecemos, para além das licenças legais de pesca, todos os equipamentos necessários a um bom desempenho, desde pesca Light Rock Fishing a Jigging, de Pesca Vertical a Pesca Profunda com carretos eléctricos, quando a decisão é ir procurar peixe abaixo dos 150 /200 metros. Felizmente que o fazemos, porque para pessoas destas seria quase impossível conseguir um peixe caso tivessem de pescar com aquilo que na Suécia se entende como “ Kit perfeito para pesca de mar alto em Portugal”…..

A boa vontade das pessoas é muita, o dinheiro que pagam também, e no fim pouco fica. Neste caso, salvou-se um inenarrável chapéu verde, que na minha opinião ficaria bem melhor na rodagem de um filme de guerra, um “Apocalypse Now” à portuguesa, eventualmente decorado com rama de rabanetes. Nem tudo se perde. Saber qual o critério seguido pela empresa vendedora para aconselhar a estes amistosos suecos este tipo de “armamento” é algo que nunca saberemos.
Portugal está bem longe de ser um país do Médio Oriente, uma Faixa de Gaza, e por isso, um chapéu militar é dispensável.


Um engenheiro eletrotécnico que infelizmente acabou por enjoar ferozmente, reduzindo a todos o tempo de permanência no mar.


Porque há sempre forma de resolver, de tentar ajudar, acabámos por ir fazer uns peixes para o meu cantinho secreto das abróteas, e a situação foi resolvida.
Com boa vontade, tudo se consegue. Sobretudo quando as pessoas são simpáticas, cooperantes e entendem que há que seguir regras portuguesas para conseguir resultados em Portugal. Somos nós quem sabe como, quando e onde e se pesca cá no nosso cantinho. Somos nós quem está adaptado às dificuldades colocadas pelos nossos peixes, e por isso mesmo sabemos o que fazer em cada situação. Pretender que um site sueco possa sugerir equipamento de pesca para as nossas águas é colocar a fasquia demasiado alta.


Esquecendo a incrível cana de pesca sugerida como a “ideal” para pescar por cá, ainda foi possível conseguir uma caixa de peixe.


Penso que a questão se pode colocar de forma mais profunda, e ir um pouco mais longe neste tema.
Até que ponto será possível a quem de pesca sabe pouco, poder prescindir dos conselhos e da experiência de pesca de quem, por inerência de cargo, é obrigado a saber muito?
Quando alguém vai a um supermercado de produtos de pesca adquirir o seu equipamento, sem aconselhamento técnico, ou adquire através de um qualquer O-ELE-X, ou entra na primeira loja de produtos chineses que encontra, deve medir bem as consequências que isso terá para o seu desempenho futuro. É verdade que compra barato, os produtos chineses são sempre baratos, mas o tempo irá passar a factura desse “produto barato”. A todos os níveis. Desde logo pela duração e desempenho dos equipamentos em acção de pesca, que normalmente é sofrível. Mas também pela inevitável ausência total de acompanhamento, de garantia, de aconselhamento técnico.
Depois de adquirir as “baratezas”, falta só deitá-las fora e ir adquirir o material de qualidade. Há que somar o valor total pago pelo material que dura dois meses, apenas algumas semanas, ou dias, ao valor do material que iremos comprar a seguir, para então sim, podermos sentir-nos equipados.
Esta é uma realidade que conheço bem, porquanto me chegam com regularidade pessoas a perguntar por peças para um carreto que foi uma “pechincha”, não mais de 12 euros, um achado, mas que ao segundo lançamento infelizmente saltou a alça, ou caiu um parafuso e a bobine caiu à água. Este material é lixo, não entra em qualquer outra categoria.
A outra versão de passo em falso é a de pessoas que adquirem no Japão, fazem mal as contas e no fim de tudo, ao somarem os custos de transporte, mais os custos de desalfandegamento, mais o nunca mencionado Iva a 23%, afinal compraram um carreto ou uma cana pelo dobro do preço que poderiam pagar cá, numa loja especializada. Também se coloca a seguir outra questão: a da manutenção desse carreto. Vai essa pessoa enviar de volta para o Japão a máquina para reparação?
Como fazer o vendedor de uma loja on-line do outro lado do mundo aceitar uma reclamação? Saltou uma peça, …e agora?!
Vale a pena fazer bem as contas, ter todos os dados na mão, e então sim, decidir.


E sobretudo apostar em adquirir material com qualidade, comprar uma só vez, para que não se esteja sistematicamente a adquirir mais e mais. Seguramente que um bom distribuidor de equipamentos de pesca não irá propor a alguém um carreto de 8 euros. Porque no dia seguinte já o tem de volta, avariado, e tem de arcar com as óbvias e fundadas reclamações do cliente. 
Vale sempre a pena apostar em comprar bom.
Porque o material bom paga-se a si próprio ao longo dos anos de duração. Em peixe.



Vítor Ganchinho



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