Um semirrígido não é um barco de Big Game nem nunca o será. O risco de rebentamento de flutuadores existe sempre e é preciso que a pessoa que está a bordo tenha experiência suficiente para que as coisas se passem sem danos, quer para o barco quer para os seus ocupantes.
Quando tratamos das nossas simpáticas tintureiras, um peixe que por cá aparece cada vez mais, pesem as informações em sentido contrário que nos chegam de muitos outros países, há alguma margem de manobra.
Podemos tentar desferrar. Desde logo porque se trata de uma espécie protegida, como o deviam ser todos os tipos de tubarão. Com efeito, aquilo que é convicção geral na Europa é que se trata de um peixe cada vez mais raro. Não o serão na nossa zona, onde nos aparecem aos magotes e quantas vezes a estragarem-nos a pescaria por completo.
A tintureira é um predador muito activo, e detecta com muita facilidade sinais de presença humana. São os ruídos que fazemos a bordo, e sobretudo as vibrações provocadas pelos peixes que subimos do fundo.
Ao debaterem-se, os nossos peixes acabam por dar informação de que algo está difícil para eles. E isso é tudo o que uma tintureira necessita para se aproximar do barco. Se a isto juntarmos os restos de iscos que se soltam ao largarmos as nossas baixadas para o fundo, temos criadas as condições para que algo de mau aconteça aos nossos anzóis.
Normalmente a tintureira morde a isca quando desce, mas pode acontecer que aconteça a meia água, quando trazemos um peixe preso do fundo, ou até mesmo quando inadvertidamente temos a pesca dentro de água, a poucos centímetros da superfície.
São descaradas, não têm vergonha nenhuma e no fim, são sempre um problema. Os nossos estralhos sofrem muito com estas “pestes”, perdem-se imensos anzóis e chumbadas com elas.
Este tipo de trabalhos deve ser desempenhado por quem está habituado a fazer, para que não ocorram acidentes que, em alto mar, podem sempre ter consequências para quem está no barco. Em último caso, e na dúvida entre o peixe e nós, a opção deve ser no sentido de cortar a linha o mais rente possível para não debilitar o animal.
O tempo e a água salgada irão encarregar-se de libertar o tubarão do incómodo anzol, que irá começar a oxidar a partir desse momento. Ao fim de algum tempo estará corroído e a tintureira poderá fazer a sua vida normal. Não carecem de oxigenação, são peixes com muita energia e a partir do momento em que a água entra nas branquias, a respiração normaliza e o animal deixa de estar em perigo. A capacidade de cicatrização de tecidos dos tubarões é assinalável e isso intriga de tal forma os cientistas que há estudos a decorrer no sentido de perceber de que forma isso pode vir a ajudar a espécie humana.
Sempre que possível devemos zelar por proceder à libertação de anzol e linha. Caso não seja, repito, é cortar onde for possível. O animal não vai morrer por isso.
Tivessem os profissionais o cuidado que os pescadores lúdicos têm e muitas mais tintureiras haveria. Trata-se de um tubarão que ocupa o cimo da cadeia alimentar e é basicamente um limpa fundos, um peixe que liberta os oceanos de peixes doentes, mortos, e que nos faz muita falta.
Sei de embarcações profissionais que na altura delas vêm à nossa costa e largam palangres com milhares de anzóis. Durante uma noite são centenas ou milhares de tintureiras que perecem às mãos de pessoas que as irão vender a 2 euros o quilo, em lota. E porque obtêm um valor superior com as barbatanas, para o mercado asiático, acabam muitas vezes por concentrar nisso toda a sua atenção, deitando o resto do peixe, ainda vivo, ao mar.
Haja coragem!....
As tintureiras cravam-se muitas vezes nos nossos anzóis e, desde que não consigam chegar com os dentes à linha, acabam por subir. |
Aquilo que vos peço que não imaginem fazer, ou sequer tentar, é meter a bordo um ...espadarte.
Não são difíceis de ferrar, encontram-se com alguma regularidade, e por vezes a poucas centenas de metros da praia. Conheço zonas onde, desde que esteja pouco vento e mar calmo, raramente passo sem os ver.
Gosto de os mostrar aos meus companheiros de pesca, mas daí a tentar pescar um a bordo de semirrígido, vai um passo muito grande. Estes peixes são mesmo perigosos.
O espadarte defende-se, utilizando para isso tudo aquilo que tem ao seu dispor. Desde logo o seu tamanho e peso, fazendo força enquanto a tem. A seguir, e já nos momentos finais, tem o bico que dá nome ao peixe e que é uma espada autêntica. E perigoso como uma espada.
Cuidado! Não é algo que se possa sequer tentar quando não existem condições para isso. Estes bicos são verdadeiramente perigosos, e todos aqueles que os possuem, os espadartes, os espadins, os veleiros, os marlins, são peixes para deixarmos para quem sabe.
Um bico destes pode ser uma complicação muito grande a bordo. É melhor deixar ir... |
Em barcos de fibra, a dificuldade reduz bastante e é perfeitamente possível tentar a captura.
Atenção aos tamanhos mínimos legais, não quereremos estragar o dia por ...1 centímetro de cauda.
Vítor Ganchinho
Bom dia! Caro Vitor deixo uma nota para sua consideração e que pode ser util para algum pescador! Devemos andar sempre num semirigido com Ssilvertape! Numa emergencia com um flutuador é possivel tapar o rasgo com silvertape cruzando depois várias tiras como reforço! Pelo.menos podemos encher o flutuador com pressão mínima para chegar sem grandes problemas ao porto! Para furos muito pequenos supercola3 é outra excelente solucâo! (Cola epoxi de 2 componentes tb sera uma boa opção mas demora muito mais tempo!)
ResponderEliminarUm abraço,
MR
Não tenho dúvidas de que ter um rolo de fita cola larga e com boa aderência a bordo pode ser útil. Eu tenho sempre, porque a rapaziada que pesca comigo tem a ideia de que o meu semirrígido é um couraçado dos Estados Unidos, preparado para aguentar torpedos soviéticos.
EliminarPara que tenha uma ideia, um dia levei o meu sogro a pescar. Às tantas, dei com ele a serrar troços de sardinha com uma faca afiada...em cima do flutuador. Ele tem 78 anos e não sabe nadar. Estávamos a 6 milhas da costa.
Quando o confrontei com o perigo daquilo que estava a fazer, respondeu-me algo como isto:
_ Então mas que raio de barco é que tens que uma pessoa não lhe pode nem tocar?
Adivinhe porque razão nunca mais o levei à pesca...?
Abraço
Vitor
Tenho um amigo com um semi-rigido que o ano passado estava a fazer um deriva junto a uma praia onde estavam vários barcos fundeados. Alguém se lembrou de fundear o barco pela popa e tinha a rabeta do motor orientada para a frente. Estava parecia um espeto virado para a frente, para qualquer barco que viesse na corrente ou tocado pelo vento! Entretanto o barco do meu amigo ao derivar devido ao vento, embateu com o flutuador na rabeta afiada do outro barco! Foi um stress... regressar ao porto com 1/4 dos flutuadores vazio! Ainda por cima um dos da popa. Depois a pessoa que fez o reparo é que lhe disse que a silvertape, (fita cola americana reforçada internamente com tecido e de cor normalmente prateada) seria a solução temporária melhor para fazer a reparação rápida para chegar ao porto! Ficou registado!
ResponderEliminarEu no meu semi-rígido já inúmeras vezes reclamei com o pessoal... em especial na pesca ao polvo (legal) os palhaços com tantos espinhos são um perigo! E só o dono do barco é que se preocupa verdadeiramente com isto! Basta uma desatenção e temos um flutuador com meia dúzia de furos e a precisar de ser cheio frequentemente! Mas esses são os fácil de reparar! Agua e sabão e um lápis! Depois de identificado o furo e seco a supercola3 funciona perfeitamente! (Já pensei em usar a Supercola3 elástica mas em bom rigor os furos são tão pequenos que a normal funciona muito bem!
Um abraço,
MR
Sim, quando são furos pequenos, um pouco de cola, a entrar e a fazer cogumelo do outro lado, e funciona bem. Num semirrígido, a única pessoa que verdadeiramente se preocupa é o dono, que tem de o encher com regularidade, e que tem de ir tapar os furos de quando em quando.
EliminarO resto do pessoal serve para atirar com os peixes com as dorsais afiadas contra os flutuadores, e ....que se lixe o resto.
Agruras de quem tem barco.
Boa semana!
Vitor