PESCAR FINO E LIGEIRO - SINAL DE EVOLUÇÃO

A perspectiva da maior parte das pessoas que sai a pescar é a de conseguir alguns peixes para trazer para casa.
Não vem mal ao mundo por isso. Desde sempre a espécie humana fez da pesca uma forma de obtenção de proteína para a sua alimentação.
O advento de modernidade que nos disponibiliza alimentos nas prateleiras de um supermercado, à porta de nossa casa, não impede que continuemos a ser um bichinho que gosta de pescar peixe para comer. A evolução da espécie traz no entanto outros pressupostos e com eles a possibilidade de fazer sentido pescar e não comer esse peixe.
E é por aí que estamos a entrar, a pesca pelo prazer de pescar. É relativamente recente o facto de passarmos tempo numa actividade lúdica que não implica a morte do exemplar.
Nunca como hoje se falou tanto em pesca sustentável, pesca sem morte, captura e solta, ideias que nos chegam de fora, como o conhecido slogan “Catch & Release”.
Daí até chegarmos a uma pesca de peixes menos interessantes para alimentação mas que se revelam grandes lutadores, e motivo de grande entretenimento, foi um passo.
Os tempo estão a mudar, há uma enorme vaga de fundo que agora se levanta com uma proposta diferente de tudo aquilo que fazia sentido aos nossos avós e pais: pesca para libertar.


O peixe não tem de ser grande, apenas tem de nos levantar dificuldades. Os mais pequenos voltam para a água e serão os peixes do dia seguinte.


Se a primeira intenção era séria, a de conseguir capturas de grande porte para alimentação da família, os novos tempos trazem uma inovadora possibilidade de pensar a pesca pela perspectiva da diversão pura. Vejam o caso do carpfishing, da pesca aos siluros, da pesca ao achigã, e em água salgada a pesca em paredões e molhes, por exemplo à tainha.
Consigo imaginar o sorriso sarcástico dos nossos avós ao verem como os pescadores de carpas tratam com esmero e cuidado, com líquidos desinfectantes, os pontos de penetração dos anzóis dos peixes que a seguir irão libertar. Para eles não faria sentido.
Em alto mar, e dada a maior facilidade em conseguir pescas diversificadas, soltar peixes desta ou daquela espécie tornou-se algo de banal. Guardam-se alguns exemplares na caixa mas a maior parte dos peixes é restituída ao seu elemento líquido.
E por isso mesmo, porque o factor alimentação não está em causa, podem pescar-se peixes que se diferenciam dos outros pela sua capacidade de luta, do combate que proporcionam, ou pela sua dificuldade técnica extrema.


Pescar sargos com jigs pode ser muito divertido.


Chegamos pois ao momento de pescar por diversão. Com o intuito de libertar. E para isso, tudo o que mexe pode ser um potencial alvo.
Tenho amigos que de dedicam de corpo e alma a pescar. Se são estudantes, fazem-no no intervalo dos períodos de aulas. Se são trabalhadores querem que chegue
o fim de semana para poderem dar largas à sua vontade de estar em contacto com a natureza. Uma outra fileira de pessoas começa agora a pescar ao final da tarde, início da noite, nas cidades, em pontões, em molhes de portos, onde exista um pouco de água e algum eventual peixe. Chamam-lhe “Street Fishing”, e estão aí a procurar equipamentos ligeiros, próprios para pescar o que exista disponível. Um sargo aqui, uma cavala ali, um carapau, uma safia, um citadino robalo mais descuidado, tudo conta.


As bicas mordem muito bem os jigs, mas ainda mais os vinis. Uma montagem de linhas finas e um peso em tungsténio, e é vê-las animadas a subir à superfície.


Pescar ligeiro tornou-se uma moda, uma tendência muito forte, e veio mesmo para ficar. E aí, os fabricantes de equipamentos de pesca não esperaram mais tempo, e passaram a produzir conjuntos leves e adaptados ao que as pessoas procuram.
Quando pensamos que há duas ou três dezenas de anos se pescava a estes peixes com canas de fibra de vidro de uma braça com um peso de 300 gr, e hoje temos à disposição hastes em carbono de alto módulo, com 60 a 80 gramas, percebemos a evolução que existiu nesta área. É verdade que os peixes também refinaram a sua astúcia para nos contrariar, não será mais fácil hoje conseguir enganar um sargo que há 30 anos atrás, mas a qualidade dos equipamentos é francamente superior. E como sempre aconteceu, haverá pessoas com melhores mãos que outras. Umas conseguem e outras não.
Tenho para mim que, quando alguém consegue enganar um sargo adulto em plena luz do dia, em zonas sem espuma e água limpa, consegue fazer tudo. Os peixes mais difíceis ensinam-nos a fazer.


O Raúl Gil, que vocês conhecem bem destas páginas, sabe bem como enganar os sargos. E todos os outros.


A fase seguinte é a de tentar pescar da forma mais difícil. Prescindir de isca orgânica, e atrever-se a lançar mão de um jig, ou de um vinil, tentar fazer o mesmo que se faria com uma minhoca. Muita gente não acredita que seja possível conseguir enganar um sargo com uma pequena chapa. Os exemplos que desmentem isso estão por todo o lado.
Neste blog, são inúmeras as páginas dedicadas ao tema, e as fotos bem o provam. Não me cansarei de fazer chegar esta informação a quem tem uma pontinha de curiosidade por experimentar a fazer um dia de pesca diferente. Aquilo que se arrisca não é muito. O pior que pode acontecer é que a pessoa não tenha a rapidez de reflexos necessária, ou que não tenha ideia de como animar o jig, mas é para isso que ao lado irá estar um guia de pesca que mostra como fazer. Ter alguém que acompanhe os primeiros passos é importante porque permite cortar muitas etapas de aprendizagem. Como em tudo na vida, ninguém nasce a saber fazer, e por isso ajuda sobremaneira ter alguém a explicar a técnica, a pescar ao nosso lado.


Os jigs de 5 gramas são fatais para muitas espécies que consideramos …“impossíveis”. Na verdade, não são.


Convém partir do princípio que mais fino e ligeiro aproxima-nos da receita de sucesso. Eu pesco com equipamentos mesmo muito ligeiros, mas admito que as pessoas se sintam mais confortáveis com linhas um pouco mais grossas, canas um pouco mais robustas. Há que adaptar o equipamento ao peixe que temos por baixo do barco.
De pouco vale estar muito leve se o peixe que existe é demasiado pesado para ele. Pelo contrário, de que adianta tentar pescar monstros marinhos que não existem? Manda o bom senso que se ajuste o pescador ao que se pode pescar. E indiscutivelmente nós em Portugal ainda temos a sorte de ter zonas com peixe a sério. Outras serão mais massacradas pela pesca profissional, pela pesca à linha e os exemplares não chegam a tamanhos e idades tão respeitáveis. Mas há que tentar, há que procurar bem e acreditar que vale a pena fazer os possíveis por conseguir o melhor que está disponível na pedra onde pescamos.
Para isso, ter equipamento adequado ajuda bastante, e por isso deve o pescador ter em atenção o equilíbrio de cada uma das peças. O material de LRF (Light Rock Fishing) é por definição leve e algo frágil. Mas a verdade é que põe peixe no barco que seria, para semelhante fragilidade, algo de insuspeito. As canas são ligeiras, finas, os carretos são pequenos e leves, as linhas sempre demasiado finas para conferirem segurança em excesso, mas é exactamente por isso que os resultados aparecem. Tudo parece demasiado frágil, mas os peixes aparecem na caixa. Quando o princípio técnico está lá, a prática continuada é uma grande professora.
E o grau de satisfação obtido quando se pesca fino é bem mais elevado que ter nas mãos um peixe capturado com equipamento standard.


Por vezes, mesmo um pequeno peixe pode trazer-nos recordações muito boas. Não têm de ser grandes para darem satisfação. Os jigs da Deep Liner são armas terríveis, os peixes confundem-nos com presas vivas.


Pequena dourada que se lançou a um jig. Obviamente foi libertada logo de seguida.


De costa, de kayak, de barco, há que sair para o mar, aproveitar bem aquilo que felizmente temos na nossa costa. Há peixe, há oportunidades de pesca, e basta-nos investir alguns euros e passamos a estar equipados para dar luta a estes incríveis seres que nadam bem perto de nós.



Vítor Ganchinho



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