A SATISFAÇÃO DE ESTARMOS NO MAR, A PESCAR, POR DIVERSÃO...

Quando saio para o mar a primeira preocupação é que as condições que vou encontrar sejam aceitáveis: que não esteja demasiado vento, ondulação, frio, e que as pessoas que saem comigo possam disfrutar do facto de estarem a fazer algo que pressupõe bem estar. Tenho felizmente bastantes situações em que os meus companheiros me confessam terem feito “...o melhor dia de pesca da minha vida”.
Procuro fazer com que cada saída seja um espaço de divertimento, de paz, que cada pessoa esteja bem consigo própria. Porque é isso que procuramos nas nossas saídas de mar.
Pescar não é uma actividade isenta de riscos, o contacto com a natureza pressupõe o assumir de que ali muita coisa pode acontecer, nada é ensaiado, acontece como tem de acontecer, e obriga-nos a estar preparados para enfrentar adversidades.
Os peixes fazem força, resistem, e exigem de nós capacidade física e sobretudo inteligência. A técnica correcta pode poupar-nos a desgaste físico acrescido.
Os nossos equipamentos de pesca são de primeira qualidade, estão preparados para resistir, e facilitam-nos imenso a nossa tarefa de pôr a seco exemplares de respeito.
A tecnologia de fabrico de canas, carretos, linhas, anzóis, é de tal forma apurada que, sem dúvida, a seguir a uma picada, quem está em apuros é o peixe. Porque é difícil escapar quando quase todos os dados da equação estão a nosso favor.


Podemos fazer força com os equipamentos actuais, tudo está pensado para que resistam.


Temos no nosso país peixe em quantidade e qualidade suficiente para ser possível garantir um dia bem passado. Nos sítios certos, no momento certo, com as iscas ou amostras certas, o click de uma picada acontece. E a partir daí, é todo um despoletar de emoções, de suspense, de incerteza e também de... sofrimento.
Por melhores que sejam os equipamentos utilizados, faz sempre falta fazer alguma força. Porque os peixes não saltam para o barco por iniciativa própria.
Mas nós estamos ali porque queremos. Porque temos vontade de medir forças, porque queremos sair vencedores de um combate que acontece porque o procurámos.
Quando a cana dobra, …uma explosão de sentimentos invade o pescador e a partir desse momento, a primeira preocupação é ….ver o peixe. Queremos saber o que está do outro lado da linha.


Quando a cana dobra, quando finalmente temos contacto com o peixe dos nossos sonhos, é tempo de dar o nosso melhor.


São momentos em que tudo nos passa pela cabeça. É a vontade de não cometer erros que comprometam a captura, é o receio de que a linha possa não suportar a pressão que o peixe exerce sobre ela. Será que o anzol vai abrir?
Deste turbilhão de emoções se faz a pesca. É isto que procuramos quando decidimos sair da cama cedo, e vamos enfrentar o frio da manhã.
É a alegria de estarmos a viver um momento sonhado durante meses e meses.




Quem pode definir aquilo que vai na mente de alguém que tem do outro lado da sua linha um ser que luta pela sua vida?
É a excitação de saber que a cada metro de linha recuperada corresponde um segundo a menos na luta por trazer um peixe à superfície.
É a angustia de pensar que algo pode correr mal….
O esforço físico que está subjacente a um acto de pesca tem algo de masoquista. De resto, todo o processo em si exige de nós uma enorme disponibilidade mental, uma aceitação de que qualquer resultado que queiramos obter, por pífio que seja, irá sempre sair da nossa pele.





Quando o peixe nos aperta, vamos ao fundo da nossa alma buscar forças para o vencer. Porque nada pior que desistir, abdicar da luta.
Isso é sempre algo que está fora das opções possíveis. É aquele o momento do tudo ou nada, de dar tudo o que temos para dar.




Mesmo para quem está ao lado, os momentos de incerteza não são indiferentes. A primeira preocupação é ajudar, ser prestável, fazer tudo o que está à mão para que o resultado final seja a concretização da captura. Os momentos que se seguem a uma picada são um turbilhão de emoções, de “pressas”, porque é preciso preparar tudo para a chegada a bordo de um peixe de bom tamanho. É necessário espaço, e isso implica retirar caixas dos sítios onde estão, é necessário retirar todas as linhas da água, para evitar enleios indesejados.
Todos devem ajudar, trabalhar em equipa, para que o resultado final seja positivo.




Mas nós estamos lá porque gostamos. Chamamos a isso “o vício da pesca”. Mais não é que o chamamento ancestral da nossa humana condição de caçadores e pescadores. Pescamos porque nos nossos genes correm milhões de anos de necessidade de obter alimentos para a família. Para a tribo.
Se hoje esse não é o factor primordial, e cada vez menos o é, ainda assim corre nas nossas veias o chamamento da aventura, do enfrentar de perigos, do inesperado, do desafio. Porque a pesca continua a dar-nos isso, a possibilidade de provarmos a nós próprios a nossa capacidade de superação.

Há quem não pense exactamente da mesma forma. Há quem vá ao mar quando na verdade não lhe apetece mesmo nada ir ao mar. Mas tem de ir.
Vou mostrar-vos o outro lado da pesca. A pesca sem diversão, por necessidade. A pesca a um nível altíssimo, praticada por quem sabe, mas preferia não ter de saber.
Estes pescadores senegaleses preferiam ter um rotineiro emprego num escritório, numa loja, qualquer coisa, mas… em terra.
No entanto, todos os dias enchem os seus barcos de peixe, porque é isso que podem fazer. Os preços do pescado são irrisórios, e isso obriga a encher pirogas de madeira até à boca, até ao limite da sua flutuabilidade. Isto passa-se a muitos quilómetros de terra, e os perigos desta situação são evidentes. Nem sempre o mar ajuda.
Peço-vos que reparem, e pedindo desde já desculpa pela falta de qualidade de definição das imagens (isto é filmado por telemóveis muito baratos…), num detalhe: a subida de um atum a bordo não invalida que um outro elemento deixe de pescar, e durante o filme acaba por desferrar dois peixes de bom tamanho. Os atuns estão a comer junto aos barcos, literalmente à superfície.
Um outro detalhe precioso: não vão ver canas de pesca, mas sim linhas de mão, equipadas com um anzol. Só isso.
Posso garantir-vos que muito poucos dos meus leitores seriam capazes de ferrar e puxar ao barco um peixe destes, nestas condições.
Vejam o filme, com som, e divirtam-se. Porque nós divertimo-nos a pescar, a ver pescar. Há quem dependa do resultado da pesca para poder sobreviver...






Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Fernando Santos10 fevereiro, 2022

    Olá Sr Vítor !

    Belo texto e revejo-me em cada linha, ainda mais nessa parte :

    "Deste turbilhão de emoções se faz a pesca. É isto que procuramos quando decidimos sair da cama cedo, e vamos enfrentar o frio da manhã.
    É a alegria de estarmos a viver um momento sonhado durante meses e meses"

    Confesso também que tenho vivenciado dias muito bem passados e super divertidos ao sair para o Mar com a Go Fishing.

    Um forte abraço !!

    Ps: os colt snipers da Shimano são mortais, não dão hipótese.

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    1. Bom dia Fernando Santos! Há pessoas que saem ao mar comigo e me deixam sempre com um sorriso nos lábios. Dá gosto partilhar experiências e mostrar um pouco do muito que o mar tem para nos revelar. O Fernando tem o dom de tornar tudo muito simples e por isso mesmo não admira que as pessoas o queiram a bordo. É...."boa onda" mesmo!

      Já estamos à espera que nos diga que pode voltar a sair.

      Abraço
      Vitor

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