ENTRARAM AS BICAS!

Dentro do leque de peixes pequenos existentes na nossa costa, as bicas, Pagellus erythrinus, são sem dúvida um dos mais fáceis de conseguir.
E daqueles que mais alegrias nos dão, pela frequência das suas picadas e pela taxa de sucesso das mesmas.
Com jigs ou vinis, as bicas ocupam um lugar de relevo pelo facto de serem voluntariosas, agressivas e destemidas perante a ameaça dos nossos anzóis. Entram com um ímpeto que as leva frequentemente a cravar-se sozinhas.
Porque se trata de um peixe com hábitos gregários, forma regularmente cardumes de 4 ou 5 indivíduos dispersos pela periferia das pedras, a necessidade de chegar em primeiro, a competição pelo alimento, obriga-as a ser rápidas na decisão e é isso que as perde.
Quantas vezes, em dias difíceis de vento, de temperaturas baixas, aqueles dias em que parece estar tudo contra nós, este pequeno peixe permite salvar a jornada, com algumas capturas interessantes.
Os maiores exemplares não ultrapassam os 2,5 kgs, mas com estes pesos já são francamente raras, sendo muito mais correntes as bicas de 0.5 / 0.6 kg.
Com boa vontade, com paciência, podem conseguir-se seis ou sete peixes numa manhã, sobretudo se utilizarmos vinis curtos, de 7 a 10 cm, montados em cabeçotes na casa dos 28 gramas de peso.
Com os jigs, não há muitas dúvidas, a modalidade certa é o slow-jigging, uma pesca calma, repousada, e o peso dos mesmos não deve exceder os 40 gramas. Preferencialmente, e sempre que temos condições de vento para isso, os 30 gr, ou mesmo os 20 gr, fazem maravilhas.


Depois de tudo, é um peixe lindíssimo, com um rosa muito bonito, e uma miríade de pontos azuis turquesa nos flancos e dorso.


Não há falta de bicas. Este espárida é abundante na região onde costumo pescar, Setúbal, Sesimbra, Sines, e é raro o dia em que não aparecem algumas na caixa do peixe.
Outras regiões terão menos, mas a reprodução no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, no Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha, faz-se a bom ritmo, e não noto falta deste simpático peixe.
Com alguma frequência, costumo levar pessoas a pescar a locais onde elas existem. Não deixa de ser curioso que quase todos consigam alguns peixes desta espécie, mesmo sem qualquer experiencia prévia com a técnica de jigging.
De Fevereiro a Maio, um dia de 4 ou 5 bicas não tem nada de especial. E a seguir aparecem os outros peixes, que sempre aparecem nos mesmos locais, para compor a caixa.


O meu amigo Fernando Santos com mais uma, bem presa no seu jig Colt Sniper, da Shimano. O ataque da bica foi ao assiste de cabeça, sendo a prisão lateral na fateixa tripla algo que terá sucedido na subida, aquando das tentativas do peixe para se libertar.


Em termos técnicos, não se trata de um peixe muito exigente. Basta que se conheça um pouco da sua fisiologia, para que se entenda como deve ser pescado.
As bicas não estão normalmente em cima das pedras, como fazem os seus parentes próximos, os pargos legítimos. Pode ocorrer, mas a sua zona de acção é habitualmente outra: as areias junto a essas pedras.
Se as quisermos encontrar de certeza, devemos procurar precisamente ao lado das pedras que temos marcadas no GPS. É aí que procuram pequenos caranguejos, minhocas, invertebrados de vários tipos e um ou outro pequeno peixe de passagem.
Da próxima vez que capturarem uma, reparem na sua boca. Vão ver que dispõe de incisivos afiados para morder e molares preparados para partir cascas.
Os camarões são para elas um petisco gourmet, e por isso temos tanta facilidade em as conseguir utilizando os vinis que os imitam.


Um jig da Xesta, o Slow-Bee, que tem dado centenas de peixes a quem o utiliza com regularidade.


Devemos tentar entender a razão pela qual conseguimos tanto sucesso junto destes peixes, no final do Inverno, princípio da Primavera. Para além de estarem em supremacia relativamente aos pargos, mais friorentos e por isso a cotas mais baixas nesta altura do ano, as bicas aproveitam a menor pressão de espécies predadoras para proceder às suas posturas.
Os sargos fazem o mesmo, aguentando firmes as águas frias, quando os outros peixes já há meses se deslocaram para zonas com termoclinas mais confortáveis. O sargo reproduz na sua esmagadora maioria por volta de finais de Dezembro a fim de Fevereiro. As pedras são utilizadas a um ritmo regular por todas as espécies, de forma alternada.
Quando uma sai, entra outra, e faz aquilo que tem a fazer. A natureza seria perfeita e equilibrada, sem a nossa intervenção.
Este é o momento de pescar bicas, elas já entraram, e estão como sempre estiveram... disponíveis.


Reparem nas cores deste peixe...


Quando a ideia é apenas ir ao mar e respirar um pouco de ar puro, esta pesca às bicas pode ser muito divertida.
Para o Fernando Santos, boa companhia, uma cana de pesca na mão, um jig Colt Snipper, são o suficiente para um dia bem passado.
A pesca é só isso. O resto somos nós que inventamos para complicar o que é simples.



Vítor Ganchinho



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