MAIS UM ATUM DOS MATULÕES...

Eles existem.
Nadam por esses oceanos fora, são enormes, são pontualmente avistados à superfície a saltar sobre as cavalas, e por isso mesmo …os atuns têm de estar em algum lado. Mas onde?
Dificilmente se pesca um peixe que não se sabe onde está. Mas podemos fazer o contrário: atrair esse peixe a um local bem definido.

Os DCP´s são sistemas de concentração de peixes que funcionam, e que poderiam perfeitamente ser espalhados pela nossa costa, desde que devidamente sinalizados à navegação.
Em países ditos subdesenvolvidos pensa-se sobretudo nos resultados finais, de forma pragmática, e nos benefícios que podem advir da simples colocação de boias submersas, ligadas a correntes e a um lastro.
A criação e rápido crescimento de matérias orgânicas nas boias e redes atractivas, (cerca de 4 a 6 meses depois de implantados já têm muita matéria orgânica acoplada), favorece a fixação de pequenos seres que as aproveitam.
A criação de uma cadeia alimentar a partir da existência de um simples objecto é algo que pode ser explicado à luz de uma tendência que os seres vivos têm para se encostar a algo, ao conforto de sentir proximidade a um objecto sólido.
Porventura haverá nisso uma tendência primária para utilizar um obstáculo como escudo de protecção. O que se segue é um aumento exponencial do tamanho de peixes em redor destes dispositivos.
O peixe miúdo procura ali protecção, os peixes predadores encostam à procura desses peixes, e por fim, os superpredadores passam a rondar insistentemente a zona em busca de comida.
Há toda uma concentração de recursos pelágicos nestes locais que se vem a revelar importante para as comunidades de pessoas que vivem perto deles.

Se o sistema concentra peixe, surgem desde logo conflitos de interesse entre os vários interessados nesse peixe. Falamos de pescadores artesanais, de barcos de pesca industriais, e de pescadores lúdicos.
Não será fácil entender qual a melhor solução neste caso: a localização dos DCP´s tem de ser reportada nas cartas marítimas, e a partir daí, as guerras de utilização daquele recurso sucedem-se.
Não sinalizar? Quem tem direito de primazia na utilização?
E por efeito destas questiúnculas, seguimos sem fazer, enquanto outros países tiram partido desta possibilidade. Na parte que nos toca, é ver os benefícios directos e indirectos, inclusive em termos de turismo.
Fiz durante anos alguns mergulhos num cemitério de navios afundados, na região de M`Bao, no Senegal. É incrível a quantidade de vida que se concentra. Falamos de um espaço que era um areal simples, sem vida.
À medida que foram afundados navios de grande porte, foram aumentando os escolhos, cabos, chapas, estruturas, e as inerentes dificuldades de colocação de redes. O peixe encontrou um refúgio inexpugnável dentro daqueles blocos metálicos cheios de buracos. Nada entra ali sem ter escamas. E sempre que a natureza encontra uma possibilidade de criar, de reproduzir, utiliza-a até à exaustão. Hoje, os destroços são um viveiro de peixe que distribui vida por toda a região. Beneficiam todos.

Os DCP´s fazem isso ao largo, em mar alto. E concentram em si uma manancial de vida absolutamente incrível. Soubéssemos nós ser mais proactivos e teríamos peixes destes à porta de casa:




Vejam como se faz um DCP em termos técnicos:



O resultado é satisfatório para todos: para os peixes que ali encontram comida, para quem pesca os peixes, para quem vende equipamento de pesca para grandes exemplares, para quem vende gasolina, para quem adquire os peixes, ...


Peixes destes não estão tão longe de nós quanto aquilo que se imagina.


O potencial que este tipo de pesca tem para atrair o turismo é enorme. Milhares de pessoas viajam por esse mundo à procura de spots onde possam ter algumas garantias de sucesso.
Trata-se de gente com poder financeiro, que vem para se divertir e que pode dispôr de recursos que fazem falta ao nosso país. São dormidas, é ocupação de restaurantes, transportes aéreos, é dinheiro que fica em Portugal.
Como de costume, aquilo que fazemos é assobiar para o lado, e fazer de conta que não existe.
E estas pessoas vão em busca dos seus peixes de sonho para outras paragens. Para locais onde eles são possíveis.


Os exemplos de aproveitamento dos DCP`s sucedem-se.



Vítor Ganchinho



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