OS DISPOSITIVOS DCP'S... DOS OUTROS...

Já aqui falámos sobre a questão da colocação dos DCP`s, dispositivos de atracção de peixes.
São eficazes, não é dispendiosa a sua colocação ao longo do litoral, e os riscos que se correm são muito mais de ordem de gestão, de atribuição de direitos de pesca aos diversos intervenientes, pesca profissional do largo, pesca artesanal costeira ou pesca lúdica. Nada que não seja possível coordenar.
No entanto, dificilmente isso será um dia implementado em Portugal da mesma forma que o é em países africanos. Desde logo porque a quantidade de organismos estatais que advogam direitos de decisão sobre o tema é tremenda. A burocracia vence-nos, por cansaço.
E os outros pescam os peixes que nós não temos. Vejam abaixo resultados de capturas nesses DCP`s, e imaginem que teríamos no nosso país a possibilidade de fazer igual.
Com regularidade…

Atum a ser içado para bordo de uma piroga senegalesa. Estes peixes são pesados, é um trabalho duro de fazer com o animal ainda vivo.


Chamo-vos à atenção para dois detalhes: um, o espírito de entreajuda que reina entre os marinheiros senegaleses. Ajudam-se mutuamente a subir o peixe ao barco, por serem pessoas solidárias, que juntam esforços para o bem comum. Numa terra que não tem nada, uma sociedade que vive daquilo que o mar dá, a amizade resolve muitas vezes questões que noutros países ditos desenvolvidos não serão tão fáceis.
Esta gente ajuda-se mesmo, como se fossem da mesma família. Eu, que durante mais de vinte e cinco anos andei por aquelas paragens e conheço bem a mentalidade dos senegaleses, posso dizer-vos que, mesmo tendo pouco, acabam por ter sempre tudo. Porque de um prato de comida, por pouca que seja, comem todos, em partes iguais.
É isso que nos fascina quando visitamos África, a sua capacidade de repartir, de partilhar o pouco que têm. As portas das casas estão abertas e quem tem fome entra para comer.

Os europeus que os visitam encontram ali um povo pacífico, de bem com a vida na sua simplicidade, com elevados conhecimentos dos peixes e dos seus hábitos.
Quando o tema é extrair peixe das águas, eles sabem fazer.


Os atuns que são regularmente pescados em águas senegalesas atraem turistas de todo o mundo.


Nem sempre tenho a possibilidade de vos conseguir um filme de uma acção de pesca. Nestes países africanos, a qualidade dos telemóveis não costuma ser um primor, e por isso mesmo, as imagens que nos chegam são frequentemente de média ou mesmo má qualidade. Desta vez consegui algo bem melhor, um filme feito por europeus, e por isso passo-vos o link abaixo, para que possam ficar com uma ideia de como acontecem estas capturas.
Chamo a atenção para alguns detalhes que nos são estranhos, mas que são bem correntes naquelas águas.
Vejamos alguns pormenores que vos podem passar despercebidos aquando da visualização das imagens:


Reparem na cauda do peixe por baixo do carreto. Trata-se de um engenhoso mecanismo de manter o isco vivo. As cavalas, bonitos, etc, que são capturadas junto à costa, são mantidos vivos por um sistema de água bombeada verticalmente. O peixe recebe oxigenação e, pese o desconforto da posição, consegue respirar.


A pesca junto aos DCP`s faz-se sobretudo com iscos vivos, sendo que também os marlins são tentados com amostras de saias, à superfície. Mas é corrente a pesca com iscadas de peixe, por ser algo de fácil obtenção, ao contrário das amostras. No filme que vão ver, podem entender a picada de um marlin, que acaba por desferrar do anzol curvo.


Reparem abaixo o sistema de tubagem que alimenta de água fresca os “porta-isca viva”. O peixe pode ser manuseado com facilidade porque, embora vivo, está “entalado” no copo. Também na imagem um peso de respeito, utilizado para fazer pesca profunda com um carreto eléctrico, de momento já fora da imagem.


E eis o atum a chegar à superfície, preso por um leader grosso, como é obrigatório que seja. As manobras finais com peixes deste calibre, não são convenientes a linhas de diâmetros finos, porque é aqui, quase no fim de todo o trabalho, que se joga muitas vezes o “sim ou não”, a entrada ou …fuga do exemplar.


Aqui sim, as probabilidades já estão quase todas do lado humano. No entanto, ainda pode acontecer que nos últimos instantes um tubarão atrevido venha requisitar a sua parte. Não seria sequer estranho...


Atum de 133 kgs, capturado com isca viva. Reparem no leader grosso, na ordem dos 2mm de diâmetro. 


Vejam o filme:





Vítor Ganchinho



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