Já aqui vos trouxe este tema. Hoje, e em função dos ventos de terra que têm soprado nas últimas semanas, entendi que seria oportuno revisitar o assunto, e dar-vos um pouco mais de informação. E mostrar algumas fotos elucidativas da forma de funcionamento.
Os ventos fortes nunca nos interessam em excesso, mas quando são frios e sopram de leste, podem tornar o dia de pesca um autêntico martírio.
Um dia de pesca que começa com 4ºC de temperatura ambiente e vento forte, frio, tem tudo para ser pouco produtivo. Nestes dias, a maior parte das pessoas fica em casa. E fazem bem.
O rigor do clima de Inverno não é de facto convidativo e sobretudo em dias destes, dias de pesca para... “gorro, luvas e cachecol”, há que ponderar se vale mesmo a pena ir ao mar.
São dias de calvário, de resultados normalmente pouco expressivos. O peixe afunda, desce para encontrar as termoclinas que lhe permitem poupar calorias, e isso significa que teremos de ir mais fundo à procura dele.
Mas não é impossível. O peixe come quase todos os dias e podemos tentar encontrar o momento exacto em que se encontra activo. E apostar na qualidade dos nossos equipamentos de pesca e no nosso saber. Pescar fundo em dias de vento não será fácil, mas é possível.
A pesca à linha faz-se de dias bons, primaveris, com sol, quentes, e também de dias menos bons, cinzentos, com chuva, muito vento, frio, com ondulação alta, ou…quase tudo isto junto.
Roupas a condizer e vamos na mesma.
Mas convém não deixar que um simples detalhe possa estragar a nossa pesca. Basta a falta de um casaco quente, um chapéu, as luvas de pesca que nos protegem as mãos, e facilmente podemos comprometer a nossa saída.
Em dias de vento persistente, a pesca de jigging ou spinning pode ser de difícil execução. Basta que a força do vento seja demasiada para o nosso barco, e já temos aí um problema irresolúvel. A deslocação rápida da embarcação coloca o pescador numa situação de desconforto permanente.
Uma técnica que vive essencialmente da sua execução vertical, o jigging, perde imenso quando não temos condições para o fazer.
Pescar vertical garante-nos maior sensibilidade aos toques, facilita-nos a ferragem, permite-nos retirar o peixe mais rapidamente da zona de risco de rotura da linha, o fundo e as suas estruturas, e encurta o tempo de subida do peixe.
Mas quando não o conseguimos por termos o barco a ser soprado na direcção do vento, há que tentar encontrar soluções. Uma delas é o para-quedas, ou âncora de superfície, ou capa de superfície.
Travar a nossa marcha faz com que o barco deslize sobre a água de forma mais lenta. Isso possibilita desde logo que a linha com que pescamos não fique “espiada”, oblíqua. Ou que fique menos... o que já é de si uma vantagem.
Mostro-vos dois para-quedas que utilizo com frequência.
O primeiro, que podem ver nas imagens abaixo, é de tamanho pequeno, não mais de 1,20 mts de diâmetro. Serve-me bem, quando o vento não é muito, quando pretendo apenas reduzir um pouco a velocidade de deslocação.
Para podermos explorar as pedras do fundo, precisamos de manter o jig junto ao fundo por algum tempo. Por vezes, acontece-me ter a sonda a marcar peixe de bom tamanho em baixo, encostado às pedras, mas que não pica na primeira tentativa. É importante conseguir ajustar a velocidade de recuperação ao que o peixe consegue fazer. Ainda mais importante quando as águas estão frias em baixo e o peixe está “congelado” nas suas acções predatórias. Eles comem, mas apenas se acharem que vale a pena o esforço. Se os forçamos a deslocações muito rápidas, bruscas, desinteressam-se.
Se tivermos paciência, se soubermos dar-lhes o tempo certo, acabam por morder. Tudo se processa de forma mais lenta. É o momento do slow-jigging, das linhas finas, dos jigs curtos e largos.
Caso tenhamos a possibilidade de dispor de uma cana montada com um carreto preenchido com uma linha fina, temos a certeza de que a descida será mais rápida. Logo, teremos mais alguns segundos antes de o peixe desaparecer da vertical da nossa sonda.
Mas é de tempo que falamos. E como encontrar esse tempo, numa situação de vento forte, que nos rouba …tempo?
Nesses casos, teremos de recorrer a uma solução extrema, algo que nos trave e mantenha no sítio onde está o nosso peixe. E isso só conseguimos com um travão forte, implacável, algo que podem ver abaixo:
O diâmetro deste para-quedas da Yamaha é de 3 metros. |
Trata-se de um aparelho de segurança, algo que é utilizado para parar embarcações em locais de acidentes. Quando contactamos a guarda costeira e damos um ponto de GPS para nos virem resgatar, queremos que o barco ou o nosso meio de salvamento fiquem no local preciso das coordenadas dadas. É aí que entra este equipamento. A utilização para a pesca lúdica é um aproveitamento das características desta âncora, que nos faz passar à “rola” sobre as pedras de forma lenta. E que por isso mesmo nos dá tempo.
Podemos decidir sobre o diâmetro que queremos aberto, mais ou menos, consoante o ajuste que podemos fazer nos cabos do para-quedas. |
Quando passamos da pedra e queremos voltar a tentar de novo, a operação a fazer é de puxar pelo cabo que segura a ponta anterior do sistema.
De imediato, este vaza a água que tem dentro, sem esforço, e a partir daí é apenas recolher os cabos e o para-quedas.
Faz-se de forma rápida, sem trabalho de monta. O que faço regularmente é deixar escorrer um pouco a água que fica na vela, para que não encharque o barco por dentro.
Deixo-o pendurado por fora da amura, e bastam alguns segundos para que isso aconteça. Depois de seco, ou quase, coloco dentro e sigo para uma nova deriva.
Aqui bem visível o efeito de puxar o cabo de escoamento. Passamos a ter um cone fechado, sem água. |
A seguir ao processo de recolha, subimos o para-quedas e deixamos verter alguma água que sempre fica dentro, para que seja mais confortável realizar a operação. |
Espero que a ideia vos seja útil. Em caso de dúvidas, agradeço que as coloquem no blog e terei muito gosto em responder.
Vítor Ganchinho