A COR DOS PALHACINHOS - CAPÍTULO 3

A forma como os palhacinhos são vistos... é o grande busílis desta questão das cores de toneiras que devemos comprar.

Mas antes de lá chegarmos, temos de entender o que veem os nossos chocos. É isso que temos aqui em baixo. Mas se dentro daquilo que veem, há cores que lhes são mais atractivas, não podemos esquecer que não temos todos os dias águas limpas, claras, com visibilidade máxima. Poucas serão de resto as situações em que as temos. Recordam-se de vos ter dito que junto à saída do rio, no final da enchente, teríamos condições para obter águas mais limpas que no fim da vazante? Nunca convém olvidar um detalhe que é importante: a densidade da água do rio é menor que a água que entra vinda do mar. A quantidade de sais não é idêntica, e por isso mesmo uma camada de água mais densa fica por baixo e a água do rio fica por cima. Por outras palavras, aquilo que estão a ver à superfície pode nada ter a ver com aquilo que se passa lá em baixo.
Os nossos chocos têm mais do que uma forma de entender a presença do palhacinho, por isso, ...é lançar!

Conforme prometido ontem, temos aqui em baixo a “papinha toda feita”, ou seja, uma escala de cores com os comprimentos de onda bem marcados, para que possam verificar quais as cores que os chocos melhor detectam, desde que tenham visibilidade na água suficiente para isso:




Suponhamos que um comprimento de onda de luz de 490 nm entra nos olhos de um choco. Quais serão os receptores da sua retina que serão estimulados e qual a cor que será percebida pelos seus olhos?
Olhamos para o quadro abaixo, e verificamos que a cor azul intermédia, entre os 460 e os 490nm é a que mais se ajusta a este valor.




Dependendo dos países onde os estudos foram feitos e dos cientistas que elaboraram os relatórios, assim temos diferenças ligeiras, mas no essencial, todos estão de acordo, e por isso há uma base de trabalho que é simples de usar.
Para que possam comparar, dou-vos abaixo uma ideia de quais os valores médios, depois de comparar umas quantas dúzias de quadros expressos em nm, ou seja, no valor em frequência de onda:



Assim, e partindo do princípio de que estamos a pescar em águas limpas, azuis, com a visibilidade ideal, e mesmo com poucas condições de luz, ou seja, ao inicio ou ao final do dia, a cor mais eficaz em termos de visibilidade é o azul. Curiosamente, ou não, é também esta a cor que desaparece por último no espectro de cores visíveis debaixo de água. A primeira é o vermelho, que deixa de ser visível aos 10 metros.
Mas estas coisas nunca são tão simples assim, e claro que existem nuances que permitem a utilização de outras cores. Os chocos reconhecem pela sua vista pequenas variações de temperatura nos objectos submersos.
Aquilo que os fabricantes imaginaram, por exemplo da fábrica Tsuriken, foi que, se tivessem a possibilidade de revestir os seus palhacinhos com uma “manta”, uma pelicula térmica que fosse capaz de fazer um “armazenamento térmico” durante algum tempo, esse palhacinho seria detectado mais depressa, ou chamaria a atenção quando no meio de muitos outros sem esse efeito. E vai daí, estudaram uma cobertura de pano de rede com fios capazes de reter calor durante alguns minutos. As fibras têxteis absorvem luz solar e transformam-na em calor. Dentro de determinados limites, essa retenção de calor é útil quando queremos dar um aspecto vivo à nossa amostra. Quando andamos a “passear o cão”, que é como quem diz, quando lançamos o nosso palhacinho para o fundo e o passeamos em frente aos olhos dos chocos, já é uma vantagem que ele seja entendido como uma presa viva.
Mas atenção, aquilo que os chocos irão ver não é o mesmo que nós vemos!!! Temos uma tendência nata para querer obrigar os outros a ver através dos nossos olhos. Os bichinhos têm olhos diferentes e não irão querer mudar, ao fim de milhões de anos de evolução.
São diferentes e têm boas razões para isso! Quando nós estamos no barco à luz do dia, eles estão emersos em água que até pode estar suja, cheia de sedimentos. Como poderiam os nossos olhos ser iguais??

Eles veem algo como isto:



A seguir, é acreditar que os tamanhos de egis, ou seja de palhacinhos que estamos a utilizar, são os que foram determinados depois de milhares de horas de pesca, de testes, de ensaios de mar.
Não é por acaso que se chega aos tamanhos de 2.5, 3.0 e 3,5 polegadas de corpo, que até ver demonstraram ser os mais eficazes. Colocamos nestes corpos cilíndricos um par de olhos brilhantes, adicionamos uma ou duas coroas de agulhas super afiadas, zelamos para que o olhal de fixação da linha de nylon seja suficientemente forte, e para dar um aspecto de isca viva, aplicamos por baixo da cabeça uma placa metálica que faz o afundamento da toneira, e lhe dá aquele ar maroto de peixe aflito, a baixar e a subir na coluna de água.
Por fim, as melhores marcas desenham as toneiras de forma a que ofereçam a menor resistência ao deslocamento na água. A velocidade de caída depende em rigor da densidade do corpo e da sua flutuabilidade. E aí, temos alguns padrões para os tamanhos, pesos e tempos de afundamento. As toneiras estão divididas em grupos, e estes são designados por letras. S corresponde a Slow Sinking, afundamento lento, SS corresponde a Super Slow Sinking, afundamento super lento, e por aí fora.
Se o palhacinho lento afunda a 6 metros por segundo, o super lento cai a 8 segundos por metro, o que é mesmo muito lento. Como utilizar estes dados? Simples: se estamos a pescar chocos a pouca profundidade, porque utilizaremos um palhacinho que afunde depressa?
Que necessidade teremos de o fazer arrochar na pedra, nas algas que crescem junto ao fundo e onde se escondem os chocos, ou no fundo de areia o mais depressa possível?!
Não será melhor utilizar um que afunde lentamente, e que por isso nos dê tempo para lançar e dar uns tirões suaves que provoquem o choco, e o façam atacar, antes de a toneira bater no fundo?
É tudo uma questão de lógica. Penso que daqui a alguns anos já estaremos a pensar em colocar estes dados a nosso favor, para já parece-me cedo...




Alguns detalhes a que não prestamos muita importância, como a qualidade das agulhas, ou ao design das patilhas afundantes, um dia serão importantes.
Enquanto tivermos muitos chocos provavelmente ninguém lhes irá dispensar demasiado tempo. Mas são estes detalhes que fazem com que as toneiras não custem todas 1 euro.
Agulhas baratas, fazem acontecer aquilo que muitas vezes se sente na cana: uma pancada e a seguir... nada.




As placas metálicas são muito mais importantes do que se julga. São elas que baixam o centro de gravidade do palhacinho, e fazem-no mais depressa ou menos depressa dependendo do seu design.
Há grandes clássicos de toneiras no desempenho de pesca ao choco, e há pessoas que dedicam a isso a sua vida. O sr Hirohito Yamada é uma dessas pessoas. A ele devemos muitos dos melhoramentos que têm sido processados no mundo da pesca de cefalópodes. Pessoas como ele passam anos a estudar comportamentos, a maximizar as possibilidades de captura. São estas pessoas que definem com mestria o ângulo certo de ataque das agulhas aos tentáculos dos chocos, são eles que testam por exemplo aa aplicação de fluorinas nas agulhas, para uma mais fácil penetração nos tentáculos dos chocos, são eles que definem o diâmetro das agulhas, o tamanho das toneiras, etc, etc.




Também são eles que definem a distância dos olhos ao bico da toneira, o diâmetro do olhal, para que seja possível fazer o darting que tanto excita os chocos. Falar-vos-ia também disto, mas a verdade é que a seguir 99% das pessoas irão aplicar a fatal chumbada pesada, que tudo arrasta para o fundo, sem dar a menor possibilidade de trabalho à amostra. E vamos continuar a pescar como sempre, a deixar “passear o cão” pelo fundo...

Espero que ainda assim esta sequência de trabalhos vos tenha ajudado. Muitas destas peças aqui apresentadas estão à venda na loja GO Fishing Portugal, em Almada.
Também podem ser conseguidas através da loja on-line. As marcas mais avançadas em termos de tecnologia, são, segundo os japoneses, e por esta ordem:





Vítor Ganchinho



6 Comentários

  1. Muito util sem duvida...obrigado

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    1. Bom dia Gomes

      Este artigo impunha-se, por vários motivos. De quando em quando, aparece uma toneira que é tida como sendo o suprassumo de tudo o que já foi feito. Penso que devemos ser tão racionais quanto aquilo que uma actividade como a pesca, que vive do encantamento, do mistério do desconhecido, nos permitem.
      Importei uns milhares de toneiras de uma marca, e uma delas teve um êxito estrondoso. O famoso Tsuriken KVOE, que saiu da loja GO Fishing a 6.50 euros, e é vendido a 15/ 20 euros no mercado por revendedores.
      É importante pensar que antes dessa toneira já se pescavam chocos, e depois dela continuarão a pescar-se chocos. Consegui uma alternativa para a dita cuja e sabe o que aconteceu? Assim que souberam que estavam a caminho, houve quem reservasse a totalidade daquilo que aí vem. O passo seguinte será o de fazer a mesma coisa: comprar tudo e a seguir vender por 3 vezes mais. Pouco posso fazer....

      Parece-me importante que as pessoas saibam entender aquilo que se passa debaixo de água, que tenham opinião própria, que pensem na pesca que fazem. O objectivo do blog é muito esse, que as pessoas tenham argumentos para poderem decidir. Não tenho dúvidas de que muitos irão continuar a pretender adquirir o palhacinho milagroso, mas outros serão capazes de analisar e decidir acima desse nível.

      Espero que este trabalho, que me levou muitas horas a fazer, seja útil.

      Bom fim de semana!
      Vitor

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    2. Ha alguns dificeis de arranjar o qual passo a nomear o zebra da daiwa, o circus da daiwa o Pinto da Costa etc todos muito matadores , mas muitos mais apareceram e muitos mais ira aparecer ... efectivamente ha uns que fazem a diferença e nestes artigos começam a fazer sentido .

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    3. Aquilo que é mais fácil é ouvir alguém dizer-nos que "este" é que é.
      Mas isso é dar peixe, não e ensinar a pescar. E aquilo que eu faço com o pessoal que faz cursos de pesca comigo não é ferrar o peixe e deixá-los enrolar a linha. É ensiná-los a pescar, é explicar porque é que as coisas acontecem. Como e quando.

      Dá muito mais trabalho. De resto, seria mais fácil dizer " este é que é o palhacinho bom"....
      Mas eu prefiro que as pessoas entendam o porquê. E para isso, não posso ir até ao fim, tenho de deixar parte do caminho por fazer, para que seja descoberto pelas pessoas que leem.
      Valeu?

      Abraço
      Vitor

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  2. Obrigado Vitor.
    Aí está ma variável que não tinha pensado, o tempo de queda.
    e no Sado é realmente frequente pescar a < 2mts

    abraço, paulo

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    1. Boa tarde Paulo Os japoneses são cerca de 130 milhões de pessoas e vivem todos "à beira mar", pelo que não surpreende que tenham alguns milhões de pessoas a pescar. Há ilhas onde a captura de peixe é a única forma de conseguirem proteína. Eu senti isso quando fui pescar ás maldivas, que são atóis que não têm a menor condição para criar gado. À volta é só mar e as ilhas têm pouco mais de 2 metros de altura, sendo feitas de areia obtida a partir da alimentação dos peixes papagaio, por exemplo. Comem os corais vivos, absorvem o que são nutrientes e largam as areias, que moem com placas ósseas que têm na boca. Ha locais no mundo onde nunca viram uma galinha, ou um porco...
      Assim sendo, os japoneses pescam desalmadamente e não espanta que sejam muito bons a pescar chocos. Aquilo que se faz em Portugal é seguir uma tradição de pesca centenária, que pouco evoluiu. Fazemos hoje o mesmo que se fazia há 60 anos, sem tirar nem pôr.
      Falta saber muito sobre a pesca do choco, mas é difícil de explicar às pessoas que há outras formas de fazer. Francamente difícil....


      Bom fim de semana
      Vitor

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