A OSMORREGULAÇAO DOS PEIXES

Quando mergulhamos no mar evitamos engolir água. É salgada, tem uma concentração de sais anormalmente grande para aquilo que o nosso organismo consegue tolerar.
Não é questão de gostarmos do sabor ou não, é sim porque não nos é conveniente, em termos de saúde, ingerir água salgada. Não estamos preparados pela natureza para eliminar esses sais, nessas quantidades. Os peixes de mar estão.
Quando um robalo ataca um pequeno peixe, abre a sua descomunal boca, “aspira” a presa e a seguir engole-a. Inevitavelmente acaba por introduzir em si alguma água que vai junto com a vítima. Mas não sofre com isso.
Aquilo que faz a diferença é uma particularidade dos peixes de mar que os torna capazes de controlarem as concentrações de sais nos seus tecidos, mantendo correctas e regulares todas as suas características físicas.
Falamos de uma capacidade chamada…osmorregulação.




Sem essa “habilidade” de manter os fluidos corporais equilibrados, os peixes inevitavelmente morreriam. O assunto de hoje aqui no blog tem a ver com ambientes aquáticos diversos, com diferentes concentrações de sais, os quais obrigam os peixes a adaptar-se a diferentes níveis de salinidade, consoante se encontrem em mar aberto, em estuários, ou entrem em rios.
E como fazem isso? Como podem os nossos robalos, as corvinas, entrar nos rios, voltar ao mar, e não acusar esse facto? Como podem manter os níveis correctos de sal no seu corpo? E os peixes que vivem dentro dos rios, a montante da foz, em água doce, como fazem?
As estratégias são diversificadas, e vamos concentrar-nos em duas delas, por serem as mais correntes:

1- Os peixes marinhos passam grande parte da sua vida, quando não toda, em ambientes com uma quantidade de sal superior à quantidade de sal que existe no interior do seu corpo. Vivem num ambiente hipertónico.
Há perda de fluidos através da urina, há perda de água por efeito dos processos metabólicos de digestão, etc. Não é diferente nos humanos, nós também estamos permanentemente a perder líquidos do nosso corpo e temos de repô-los. Os peixes têm a mesma necessidade.
Assim sendo, torna-se imperiosa a ingestão de água do mar. E como ficaria então o seu equilíbrio interno? A resposta é simples: os peixes bebem água e eliminam o excesso de sais.
Essa eliminação ocorre por meio da ação de células especiais nas brânquias que, por intermédio de transporte ativo, expelem o excesso de sal. Os rins trabalham em permanência com concentrações de sais significativas, enviando para o exterior grandes quantidades desse sal.

2- Os peixes de água doce estão no polo oposto e isso ajuda-nos a entender o processo. Vivem num ambiente hipotónico, ou seja, a quantidade de sais que existe no ambiente em seu redor é inferior à que existe no seu interior. Isso, ao contrário dos peixes de mar, obriga-os a manter no seu interior a maior quantidade de sais possível. A sua perda acarretaria a sua morte, por desregulação salina. Assim, o esforço é feito no sentido de evitar a entrada excessiva de água doce, bloqueando tanto quanto possível as saídas.
Neste caso, as brânquias são altamente permeáveis, permitindo a entrada de iões e água, assim como a fácil passagem de gases, o que garante a eficácia das trocas gasosas.
O excesso de água que entra nesses animais é eliminado por meio de uma urina extremamente diluída e abundante. Já os sais necessários ao corpo do animal são conseguidos sobretudo através da alimentação.


As correntes marítimas trazem e levam águas carregadas de sais, e fazem a sua mistura.


Desta forma, os peixes conseguem manter o seu organismo equilibrado. Sabemos que algumas espécies toleram muito pouco as variações de salinidade, e por isso não se aproximam sequer de zonas estuarinas, e outros que, pelo contrário, fazem a sua vida precisamente nesses locais, sem terem qualquer problema. Isso não os torna melhores nem piores, da mesma forma que uma pessoa alta não é melhor que uma pessoa baixa, ou o inverso, significa apenas que têm a capacidade de poder regular de uma forma mais fácil as concentrações de sais no interior do seu corpo. A habilidade de uma espécie em excretar sais do seu corpo pode proporcionar-lhe possibilidades que outras não têm, e isso é uma mais valia concorrencial. Se a isso juntarmos o facto de os estuários serem zonas de reprodução, sempre cheias de alevins, (leia-se peixinhos fáceis de caçar), facilmente entendemos a vantagem que os nossos robalinhos têm sobre outros peixes.

Interessante?



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Muito bom. Só falta os caranguejos osmoconformantes.

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    1. Bom dia Reinaldo Piloto! É sempre um prazer tê-lo por aqui, e interessado em elevar o nível técnico do blog. É essa postura de cooperação e de "desafio" que motiva quem está deste lado.

      Se diz que "faz falta", então vamos a isso, vamos lançar ideias sobre a questão dos osmoconformantes, (poiquilosmóticos), ou osmorreguladores (homeosmóticos). Os caranguejos são seres incríveis pelo que conseguem fazer num meio marinho que tem água e deixa de ter, que tem água salgada e a seguir doce, e que passa diariamente por diferenças de temperaturas absurdas.

      O seu desafio está aceite, ...um dia destes vai sair algo sobre o tema.

      Abraço!!

      Vitor

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