Quem sai de barco para o largo, está a pescar de “faca e queijo” na mão, que é como quem diz, com todas as condições para poder procurar, encontrar cardumes de peixe e conseguir resultados de pesca significativos. Não é difícil encontrar peixe num país bafejado pela enorme sorte de ter condições naturais tão boas quanto o nosso.
Mas nem todas as pessoas podem disponibilizar tempo e recursos para fazer saídas de pesca embarcada.
E como são as pescarias feitas a partir de terra? Que resultados podem obter? Que limitações sentem as pessoas que dedicam umas horas a este passatempo tão saudável?
Se alguém pensa que este é um lado menor da pesca, pois desengane-se, porque este é o lado certo da pesca! Estas são as pessoas que gostam mesmo de pescar, porque aquilo que se sofre a lançar a partir de uma qualquer muralha do nosso país, é muito mais que os martírios de Cristo.
E ali estão, pese embora as contrariedades e maus resultados, não desistem! Este é um bom exemplo da força de vontade, da perseverança, do espírito lutador que é necessário para conseguir enfrentar adversidades tão grandes.
A pesca de costa é por definição uma actividade em que a paciência é um imperativo. Em termos de representatividade, não tenham dúvidas de que a fatia quantitativa correspondente a esta esquadra de pescadores, quando comparados com os que saem em barcos, é particularmente significativa.
Pescar de costa em zonas rasas, onde a beira-mar é constituída por pedra ali colocada pelo homem para amortecer a força das ondas, para funcionar como difusor da energia do mar, tem inconvenientes muito marcados. A possibilidade de enrocamento é uma constante, e as possibilidades do pescador poder obviar a isso são baixas.
Eventualmente mudar a técnica para “pesca-à-boia”, poderia ser uma boa solução, caso a corrente assim o permita. Necessariamente com outra cana e já agora, outro carreto, pois este que aparece na foto é sobredimensionado para a função. Nestes casos, “carreto grande não puxa peixe grande”, mas sim uma enorme fadiga que se instala a cada minuto.
A iscagem dos anzóis deve ser cuidada. Mais ainda quando estamos a pescar em zonas muito massacradas por pescadores, que quase fazem sessões contínuas, noite e dia. |
Haverá sempre um peixe curioso que tenta a sua sorte perante algo que lhe é oferecido na ponta de um anzol. Não se trata tanto de, cobrindo bem o anzol, a pesca estar garantida. Não é infelizmente apenas isso. Nestes pesqueiros, muitos outros factores entram em linha de conta. Desde logo a habituação do peixe às tentativas de captura dos sempre presentes pescadores.
Os alevins que circulam nestas águas crescem a ver os seus colegas mais encorpados a ser pescados. Com resultados mais ou menos conseguidos, o que é facto é que os peixes percebem as tentativas feitas, e adoptam comportamentos de segurança. Continuam a “ratar” as iscas, mas com um cuidado tal que inviabiliza a sua captura.
Francamente não é fácil obter resultados aqui, onde a escassez de peixe e a desconfiança extrema cortam rente quaisquer possibilidades de sucesso.
Um lançamento feito com pouca alma, pouca chama! Atendendo à natureza do fundo, a probabilidade de insucesso é enorme. |
Quando preparamos uma baixada, a última coisa que nos passa pela cabeça é que ao primeiro lance, fiquemos sem ela. Tanto empenho e cuidado merecem que ao menos alguns peixes entrem na caixa. Pois não, …neste caso, os astros não estão de feição, e a cada lance, é uma baixada que lá fica.
Atribuir a azar tal facto é não saber ler o mar e os seus segredos. Rocha partida rima com prisões de linhas, e a solução não é propriamente aumentar a secção da linha.
Há assuntos que não se resolvem pela força.
Vejam o filme, para que entendam as limitações. Nestes casos as possibilidades de conseguir um local com boas condições de pesca são remotas. Até porque os espaços vazios costumam ser poucos. Já vai de sorte quando o amigo do lado não está a martelar apoios de cana com um martelo. Os peixes, como são surdos e pouco sensíveis, não notam nada...
Não conhecemos a pessoa que serve de exemplo à reflexão de hoje.
Se aqui trazemos estas imagens, elas não são de todo desrespeitosas para o nosso colega pescador, a quem incentivamos a continuar a exercer a sua paixão pela pesca.
Mais que isso: por algum detalhe técnico menos conseguido, imaginamos que não seja pessoa de conseguir fazer pescarias de vulto com regularidade.
É nesse sentido que fica desde já o nosso empenhado e sincero convite para que se junte a nós na próxima expedição de pesca aos pargos e robalos, no nosso barco, com todas as despesas pagas, e com a promessa de que esse poderá ser um dia de pesca diferente, talvez com uma caixa de peixe bonito ao fim da jornada. Garantir ou sequer prometer peixe não, pois por princípio ético nunca o fazemos. A natureza tem as suas regras muito próprias. Mas um dia bem passado, isso sim, na companhia de pessoas que seguramente gostam tanto de pescar quanto ele. E uma pesca com poucos encalhes...isso é possível prometer.
O convite está feito!
Vítor Ganchinho