PERDER OS ANÉIS PARA SALVAR OS DEDOS...

Sofrem ataques impiedosos por parte de predadores muito comuns, tais como polvos, moreias, meros, etc. Quando acontece um mau encontro com estes último, as possibilidades de sobrevivência reduzem a valores residuais. Os meros sugam-nos, engolem-nos vivos numa fracção de segundos. Num determinado instante, o polvo está em frente ao mero, e no instante seguinte já foi aspirado e está dentro do estômago do peixe.
Todavia, os dentes acerados das moreias e dos safios ainda lhes dão algumas possibilidades de sobrevivência. O polvo, caso não seja encontrado fora da toca, defende-se bem, arregimenta pedras para a porta do buraco onde se esconde, e utiliza-as: com os tentáculos recolhe-as, e com elas bem firmes, cobre o corpo de forma a tornar quase impossível a dentada do predador. Já tive a oportunidade de assistir ao vivo a uma destas sagas e digo-vos que é algo de extremamente violento.
As moreias fazem valer os seus dentes afiados como lâminas e mordem, cortam e vão embora. Os safios, e dentes ásperos mas menos incisivos, utilizam uma táctica diferente: mordem por onde podem, e fazem girar o corpo bruscamente, até conseguirem arrancar um tentáculo. É difícil conseguir explicar por palavras a velocidade de rotação que estes animais conseguem imprimir ao seu corpo, e a força da sua mordida. No fim, o tentáculo do polvo não resiste, e é arrancado ao nível da mordedura.
Se este processo é violento para o polvo, não pensem que para o safio é completamente inóquo: dado que têm de vencer a resistência do polvo, e dos objectos que este lhes coloca à frente, também é muito comum que fiquem com cicatrizes, com lanhos a sangrar. Mas neste processo, todos conseguem obter, de alguma forma, aquilo que pretendem. Os safios levam o seu tentáculo e alimentam-se com ele, e os polvos não ganham para o susto, mas conseguem o mais importante: salvar o resto.
E se os danos não forem particularmente drásticos, conseguem sobreviver.


Este polvo, num estado lastimável, apareceu-me no anzol a tentar um filete de cavala. Obviamente foi libertado.


Os polvos têm uma característica muito peculiar: conseguem regenerar os tentáculos e voltar a tê-los operacionais e como novos.
Fazem-no com relativa rapidez e este é certamente um bom ponto de partida para quem se preocupa e estuda novas formas de conseguir recuperar membros de pessoas acidentadas. A natureza ensina-nos muito e quem sabe talvez exista algo que possa ser aproveitado em beneficio dos seres humanos.
Sabemos muito pouco de processos químicos e formas de recuperação que a natureza tem ao seu dispor, e certamente os anos que se avizinham trarão novidades no campo da medicina.


Ter estas limitações não impede o animal de continuar a sua vida, conforme se comprova do facto de estar a tentar alimentar-se. Em poucas semanas os tentáculos estarão de novo intactos, o que não deixa de ser uma estranha alquimia.


Contra predadores tão bem servidos de sentidos como o olfacto, a própria linha lateral, a possibilidade dos polvos passarem despercebidos é quase nula.
Neste caso, a camuflagem que tão eficaz é contra outro tipo de adversários, não resulta de todo. E aí, as possibilidades de fuga ou defesa resumem-se a ter um monte de pedras por perto. Digo-vos por experiência própria que é francamente difícil vencer as barreiras de um amontoado de pedras em frente ao polvo.
Bem mais fácil é encontrá-los a caçar, por cima de tapetes de areia, onde não têm qualquer hipótese de fuga.
Quando estão nas suas tocas, os polvos são mestres em encontrar a melhor solução para passar incógnitos, e se isso não resultar, para se esconderem contra os recantos mais escondidos das suas frestas de rocha.




Uma paixão eterna, aquilo que sinto por estes bichinhos, que inevitavelmente voltarão aqui ao blog.
O somatório das suas capacidades físicas é tal que os coloca num patamar bem acima do nosso. Nós fazemos “arroz de polvo” e eles não fazem “arroz de humano”, mas não deixam de ser espectaculares por isso...



Vítor Ganchinho



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