Temos a ideia de que a pesca é aquilo que sabemos e que estamos habituados a ver. Tudo aquilo que sai do nosso universo de conhecimento, não existe, ou é algo tão longínquo que nem vale a pena equacionar.
Pode nem ser assim. Estamos a poucas horas de locais onde os grandes peixes existem e são…”pescáveis”.
Eu, que vibro imenso com a captura de um pequeno peixe de 500 gr, se ele for mesmo muito difícil, já tive a felicidade de conseguir um peixe com 236 kgs. E para mim, não há um melhor que outro, não é uma questão de tamanho, há sim experiências diferentes. Não necessariamente favoráveis aos peixes grandes, de quem guardo apenas memórias de sofrimento, de cansaço extremo, de horas de luta com um ser que objectivamente tem à partida mais força que eu.
Conseguir pescar uma dourada com um jig ligeiro, por exemplo, pode ter para mim mais valor que fazer um atum de 100 kgs.
Não é o peso do peixe que conta, é aquilo que esse peixe nos deixa gravado na memória. É impossível que nos possamos lembrar de todos os peixes capturados, mas há sempre alguns que ficam para sempre. E há aqueles que fogem, normalmente sempre mais importantes que os que trazemos para casa. Sim, esses que escapam, e cujo “fantasma” nos acompanha durante anos, são os que nos fazem crescer como pescadores. São esses que nos ensinam, que nos obrigam a progredir, a ser melhores pescadores. A um fracasso corresponde sempre uma tentativa de fazer melhor a seguir.
Um rascasso não necessita de ser trabalhado por mais de uma pessoa... |
Por norma, os peixes que capturamos cabem na nossa caixa. Ocasionalmente podem exceder as dimensões da nossa geleira, e isso deixa-nos naturalmente contentes.
Se a um peixe comum, o trabalho de uma só pessoa é mais que suficiente, já quando tratamos de um peixe de tamanho mais crescido, a ajuda de um companheiro pode revelar-se decisiva.
O trabalho com um enxalavar, o retirar obstáculos do nossos caminho, eventualmente outras canas espalhadas no barco, tudo nos ajuda.
Se ainda assim o peixe for de tamanho bem maior, pode acontecer que seja até demasiado grande para que seja manipulado por toda uma equipa de pesca.
O assunto do blog de hoje é a captura de um marlin cuja equipa de pescadores quase não lograva que coubesse no barco. E isso excede em muito aquilo que são as perspectivas correntes de quem vai à pesca do “pica-pica” cá no país.
Divirtam-se vendo este vídeo, enviado para mim pelo meu amigo Mohamed Fadel Sow, do Senegal. Reparem sobretudo no trabalho duro, difícil e muito profissional dos ajudantes da embarcação.
São eles que, com a sua mestria, muitas vezes decidem sobre a captura, ou perda do peixe. Trata-se de uma actividade não isenta de risco, um marlin negro de 500 kgs não é um bicho que queiramos enfrentar na água, e ainda mais se estiver a lutar pela sua vida.
Para além disso, reparem na quantidade de vezes que os marinheiros têm de refazer a sua estratégia de combate, e o quando estão próximos da linha de pesca. Nestes momentos de agitação, um erro pode significar a perda de uma vida.
Marlin negro de 1190 libras... a caber à justa no barco, embora parte tenha de vir dentro da cabine.
A agitação a bordo é sempre proporcional ao tamanho do peixe. Uma boga não mexe com o grupo todo, mas um peixe maior pode pôr toda a gente a correr.
Tenho a certeza que terão sido capazes de estabelecer um contraste muito vincado sobre aquilo que se passou neste barco e aquilo que se passa habitualmente no vosso.
Sobretudo os meus amigos que pescam ao ...choco. Espero que tenham gostado.
Vítor Ganchinho