SOBRE O EQUIPAMENTO PARA LULAS

Por vezes sou contactado no sentido de mostrar com que tipo de equipamentos faço as minhas pescas, e a razão de ser, os porquês dessas opções.
Foi há semanas publicado aqui no blog algo relativo à pesca da lula com jigs. E isso fez muita confusão às pessoas. Pescar lulas com jigs?
Sei que não é corrente essa alternativa, os jigs metálicos são normalmente reservados para outro tipo de peixes, mas a verdade é que resultam perfeitamente e proporcionam alegrias duplas: pescamos pargos, sargos, robalos e …lulas, com a mesma peça.
Quando as tentamos com uma toneira com agulhas, apenas podemos pensar em conseguir esses cefalópodes, todos os outros peixes nos passam a estar vedados.
Digamos que os resultados são melhores, indiscutivelmente, mas as perspectivas tornam-se mais curtas, não iremos fazer nada mais que lulas.
Por isso achei pertinente escrever algo sobre o tema.
E voltou a acontecer, as perguntas chegaram. Não através do blog, (o que francamente prefiro por poder responder a um grupo de pessoas e não a uma só pessoa, de forma isolada), mas ainda assim surgiram questões e isso é sempre positivo.
O teor das perguntas tinha exactamente a ver, entre outras dúvidas, com o tipo de cana, as linhas, a amostra, o tipo de animação a dar à amostra, etc.
Pois bem, aqui estou a tentar esclarecer não só esse nosso colega de pesca, mas também todos os outros que eventualmente possam ter curiosidade em perceber qual o estilo de cana, carreto, linhas, jigs, etc, utilizados para este tipo de pesca.
Nunca me cansarei de partilhar aquilo que os meus olhos vêem nas minhas saídas de mar. A pesca, se for uma actividade fechada, não partilhada com os amigos, passa a ser algo de muito individualizado, hermético, se quiserem…demasiado “secreto” para o meu gosto.
Gosto de estabelecer pontes de ligação, e não de cortar estradas. O isolamento absoluto não tem interesse para mim, sou pessoa de partilhar, de mostrar como faço, e não de guardar segredos.
Se a experiência acumulada ao longo de mais de 50 anos de actividade de pesca puder ser, por pouco que seja, útil a alguém que agora se inicia nestas lides, já vale a pena.


A pesca da lula com jigs reveste-se de algumas particularidades. É bom conhecê-las, para conseguirmos obter melhores resultados.


Comecemos pelo equipamento, confirmando que há materiais específicos para este tipo de pesca.
Como habitualmente, vai acontecer que alguém vai tentar fazer isto com a cana de 3,60 mt com que pesca ao fundo, com uma chumbada e dois anzóis por cima.
O equipamento de pesca vertical destina-se a um modelo de pesca…vertical com isca orgânica. E pára por aí!
Devemos escolher uma cana não demasiado longa, entre 1,90 e 2,10 mts, de acção ML, medium/ light, com efeito parabólico pronunciado. O objectivo é fazer com que a cana macia acompanhe na perfeição os movimentos irregulares que a lula irá fazer para se libertar.
Uma cana rígida, com acção de ponta, irá fazer-nos perder imensos bichos. Sendo dura, vai provocar o inevitável rompimento dos frágeis tentáculos.


Aqui, uma cana Xesta de carbono sólido a 85%, com cerca de 15% de fibra de vidro que lhe dão uma maior elasticidade, fez um excelente trabalho. A lula nunca tem um ponto de apoio para poder rasgar o tentáculo no ponto de contacto do triplo.


Certamente, haverá pessoas que vão tentar fazê-lo com canas duras, porque são as únicas que admitem comprar. Quando visitam um distribuidor de canas, o gesto imediato de dobrar a ponteira é bem sintomático da ideia que têm daquilo a que chamam “uma cana boa”. Se for macia, está fora de questão. E todavia, há pescas que só se fazem com esse tipo de canas, da mesma forma que há outras, onde são necessárias canas rápidas, duras. Para cada tipo de pesca o seu equipamento certo. A acção “pau de vassoura”, uma cana que não dobra por nada deste mundo, não é de todo bem vinda, por oferecer uma resistência acrescida e por isso mesmo permitir um ponto de apoio que leva à rotura.
O carreto não tem particularidades de realçar, qualquer máquina que enrole linha, serve e está bem. Mas a linha já tem algo que deve ser levado em conta: porque nos é sempre conveniente animar o jig a partir de uma posição vertical, a opção por uma linha fina, digamos um PE 1 ou PE 1.2, possibilita a descida rápida aos fundos. A resistência que a lula oferece nunca é demasiada, pelo que só temos vantagens em pescar fino.
O chicote de nylon, ou fluorocarbono, não tem requisitos de monta, um 0.30 mm é suficiente.
E chegamos aos jigs: aqui sim, há critérios a observar.
Nas fotos que podem ver neste artigo, a minha opção foi por um Xesta de 15 gr, um After Burner cor 71 RHBIW, com o qual conto em situações em que necessito de algo que seja polivalente.
Fabricado em gramagens de 5, 7, 12 e 15 gr, este modelo é responsável por inúmeras capturas de peixes da nossa costa, sargos, sarrajões, pargos, choupas e inclusivé douradas.


Estes jigs estão à venda na loja on-line da GO Fishing Portugal, em Amostras/ Xesta. Clique aqui para abrir.


As lulas interessam-se bastante por jigs pequenos. Aqui na foto acima esta entrou a um jig de 5 gramas. Na foto ao lado, um sarrajão atacou este mesmo jig da Xesta.


Tem uma descida vibrante, lenta, com deslizamentos laterais, e proporciona muitas picadas na descida. Basta estar atento ao desenrolar da linha. A uma repentina menor velocidade de saída, corresponde quase sempre um toque de um peixe curioso que veio ao encontro deste jig e o engoliu antes de ele chegar ao fundo. É tempo de ferrar e ver quem se atreveu a desafiar-nos.
As lulas fazem parte dos “clientes” desta peça. A fateixa de cauda que vem de fábrica não é demasiadamente grande, está perfeitamente equilibrada com o peso do jig, o que é conveniente quando aquilo que queremos ferrar tem tentáculos frágeis e finos. Este é um ponto que me parece importante. Vamos dedicar-lhe um parágrafo:

Quando pescamos com anzóis soltos, quer simples quer duplos, aquilo que acontece é que temos uma peça que penetra no tentáculo da lula, e a seguir, por pressão, acaba por rasgar. Até chegar à conclusão que o triplo tinha evidentes vantagens, fiz uma “esteira” de dezenas de lulas desferradas. Os toques sentem-se, fortes, porque a pancada é sempre violenta, e a seguir, uma ligeira prisão e solta.
Ocasionalmente, um tentáculo, ou uma ventosa agarrada ao anzol chega-nos cá acima. E isto porque o assiste está preparado para cravar na carne e osso de um peixe, leia-se um pargo por exemplo, mas neste caso é inútil. Não precisamos de ir fundo num tentáculo que é estreito, é muito mais “magrinho” que a boca de um pargo.
Excatamente por isto, um triplo mais pequeno oferece mais possibilidades de conseguirmos que dois dos ganchos cravem no mesmo tentáculo, ou ainda melhor, que fixem em dois tentáculos. Aquilo que queremos é ter múltiplos pontos de apoio, porque é isso que nos traz a lula à superfície. Se pensarmos friamente, a vantagem das toneiras é exactamente essa, a de termos diversas agulhas a trespassar os tentáculos e com isso conseguirmos fazer tracção para cima. O resto é puxar com o cuidado devido, lentamente sem esquecer que em momento algum podemos afrouxar a pressão, sob pena de a lula conseguir descravar-se. É aqui que entra o factor “cana macia”, pois é a única cuja acção acompanha facilmente os esticões da lula. No fundo, faz o papel de um elástico, pode esticar mais ou menos mas mantém sempre uma tensão mínima. É isso que se quer.


As lulas que temos na costa neste momento terão entre 0.5 kg e 2 kgs. Esta era relativamente pequena, mas gostei das fotos que fiz e por isso aqui a apresento.


Um último detalhe que me parece imprescindível: quando chegamos à superfície com a lula, e dada a fragilidade da presa, não podemos perder tempo a improvisar soluções.
Levantar a lula em peso é um absurdo, porque 99% delas irão embora dessa forma. Uma rede irá ajudar-nos a garantir a captura.
Tudo tem de estar pensado, planificado, e tem de correr bem à primeira. A menor hesitação é a “morte do artista”, e por isso, a rede do camaroeiro tem de estar à mão e a postos para ser metida por baixo. Aí sim, podemos começar a respirar fundo. Por uma questão de deixarmos o barco em condições e asseado, devemos dar alguns segundos ao animal para expelir as suas tintas, e então sim, para dentro.


Reparem na gramagem do jig: 15 gramas. Com a linha certa, até aos 25 metros, não faz falta mais. Se tivermos linha grossa, teremos de subir o peso do jig, mas perdemos eficácia, por menor qualidade de animação.


Uma última recomendação: partindo do princípio de que estaremos a pescar às lulas bem cedo, e de que conseguimos algumas, não é de bom tom continuar a pescar a outros peixes e colocar todos na mesma caixa. Aquilo que vamos fazer é uma mistura de peixe nobre e de ferrado preto, que não é de todo desejada. Aquilo que faço é separar as lulas de todos os outros peixes, para que a apresentação do pescado seja a melhor.
Para quem nunca pesca nada, não tem de se preocupar com estes detalhes... mas as nossas parceiras gostam de receber os peixes como eles saem da água: bonitos e limpinhos.

Boas pescas para todos vós!!



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Bastante interesante ..parabéns

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    Respostas
    1. Obrigado, em nome de toda a equipa do blog.

      Vamos voltar ao assunto dos chocos, com dados muito interessantes.
      Dentro de uns 8 dias....

      Não perca, parece-me que vai valer a pena.


      Abraço
      Vitor

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